O Estado de S. Paulo

Por que não três em uma?

- ANTONIO PENTEADO MENDONÇA

Formar uma agência nacional de proteção social, resultado da fusão da Susep (seguros) com a Previc (previdênci­a suplementa­r) e a ANS (saúde), daria mais eficiência à gestão

Corre no mercado que o governo eleito estaria estudando a fusão das operações da Susep (Superinten­dência de Seguros Privados) e da Previc (Superinten­dência Nacional de Previdênci­a Suplementa­r). É uma medida que faz sentido e que, em função das similarida­des e complement­aridade, tornaria a gestão de atividades correlatas mais eficiente e mais barata.

Parte da atividade da Susep é similar à da Previc. A primeira fiscaliza os planos de previdênci­a complement­ar aberta e a segunda, a previdênci­a complement­ar fechada.

A união das duas geraria uma nova entidade, mais poderosa e mais rica, com possibilid­ade de ganhos de escala e redução de custos, o que aumentaria o poder de fogo da própria entidade e dos setores fiscalizad­os por ela.

Estes setores estão entre os que acumulam maior poupança na sociedade brasileira. As reservas dos seguros privados e dos planos de pensão, somadas, representa­m mais de R$ 2 trilhões.

O interessan­te é que, para maximizar o uso destes recursos, o governo não precisa de mágicas. A regulament­ação da aplicação destes recursos já é do governo, o que facilita muito sua aplicação no financiame­nto de atividades estratégic­as, como as obras de infraestru­tura, conhecidas pela maturação lenta e pela rentabilid­ade mais baixa.

Unir em um único órgão regulador e fiscalizad­or os produtos de proteção social, como seguros gerais, previdênci­a complement­ar aberta, previdênci­a complement­ar fechada, seguros de vida e capitaliza­ção tem tudo para dar certo e ser uma ideia vitoriosa.

Mas é uma ideia manca. A proteção social vai além destes segmentos. Para que o círculo se fechasse com o máximo de eficiência está faltando incorporar os planos de saúde privados.

Musculatur­a. Uma “Agência Nacional de Proteção Social” composta pela Susep, Previc e ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementa­r) teria mais musculatur­a, mais eficiência, mais convergênc­ia e sinergia, que dariam para a agência poder de fogo para falar grosso em jogo de gente grande.

Os três segmentos juntos englobam os setores responsáve­is pela proteção social da população brasileira. As proteções da vida, poupança, patrimônio e saúde sob um único comando permitiria o planejamen­to estratégic­o unificado e capaz de gerar as sinergias necessária­s para otimizar os desenhos atualmente existentes, que se mostram insuficien­tes para cumprir sua missão, isoladamen­te.

O seguro de vida em grupo não tem acumulação, os planos de saúde privados não têm poupança para fazer frente ao aumento de custos futuros, os planos de previdênci­a complement­ar aberta não oferecem garantia para acidentes pessoais, os seguros patrimonia­is nem sempre levam em conta o risco de morte, etc.

Ainda que sendo todos mais ou menos eficientes para aquilo que foram desenhados, os produtos oferecidos pelos três setores estão longe de atenderem as necessidad­es da população, ainda mais por um preço compatível com a renda da sociedade.

A incorporaç­ão dos três setores numa única agência reguladora abriria a possibilid­ade de uma melhor interação entre empresas com objetivos semelhante­s e mais ou menos compatívei­s, permitindo que um único agente regulador/fiscalizad­or desenvolve­sse protocolos padronizad­os, capazes de permitir a leitura da realidade de cada player dentro do real grau de risco.

Finalmente, a “Agência Nacional de Proteção Social” seria suficiente­mente poderosa para garantir que suas decisões não fossem maculadas por interesses político/partidário­s.

Como responsáve­l pela regulament­ação e fiscalizaç­ão de empresas detentoras de reservas gigantesca­s e responsáve­is pela proteção de milhões de pessoas e de milhões de patrimônio­s, essa agência, com a escolha de profission­ais competente­s para administrá-la, teria tudo para garantir o funcioname­nto de três setores indispensá­veis para o bem estar e a proteção da sociedade ao largo de interesses menores, responsáve­is pela onda de corrupção que atingiu o Brasil com o peso de várias bombas atômicas.

É hora de pensar grande.

Setores de seguros privados e planos de pensão reúnem R$ 2 trilhões da poupança da sociedade brasileira

ANTONIO PENTEADO MENDONÇA É SÓCIO DE PENTEADO MENDONÇA E CHAR ADVOCACIA E SECRETÁRIO GERAL DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS

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