O Estado de S. Paulo

Blue Note chega a São Paulo

Casa de show de Nova York será aberta na Avenida Paulista

- Julio Maria

A Blue Note, casa de shows das mais emblemátic­os do mundo do jazz e de matriz norte-americana, terá uma filial aberta em São Paulo. A data prevista para a inauguraçã­o é 15 de fevereiro e os primeiros shows já estão fechados. A investida é dos empresário­s Luiz Calainho e Facundo Guerra e o endereço fica em um dos pontos mais cobiçados do cidade, na esquina da Avenida Paulista com Rua Augusta, no segundo andar do Conjunto Nacional.

A reportagem esteve no local na última quinta-feira para conhecer o espaço, mesmo com as obras em andamento. O projeto é ambicioso e deve usar sua geografia privilegia­da para se diferencia­r das outras casas. São 346 lugares disponívei­s em uma área de 800 metros quadrados e um palco confortáve­l, de 35 metros de largura. Ao fundo, as vidraças permitem que se veja parte da Avenida Paulista enquanto os músicos tocam. Dentre os shows já confirmado­s estão os de Carlos Malta, Robertinho Silva e Marcos Suzano (15 de fevereiro), Leny Andrade Trio (20 de fevereiro), Leandro Cabral em tributo a Herbie Hancock (6 de março), João Bosco (22 de março) e Cesar Camargo Mariano (12 e 13 de abril). O preço dos ingressos deverá ficar entre R$ 120 a R$ 480.

Aos domingos, para aproveitar o clima de passeio familiar com a Avenida Paulista fechada, a banda residente da casa vai se apresentar na varanda do segundo andar, onde poderá ser vista pelas pessoas da avenida. O restaurant­e, aberto durante o dia, será outra aposta dos empresário­s. “Queremos resgatar a gastronomi­a boêmia do final dos anos 70 e início dos 80 com pratos como filé a Diana com arroz a piamontese, coquetel de camarão e estrogonof­e com batata frita e arroz”, diz Facundo.

O primeiro desafio do Blue Note em São Paulo, no entanto, é a recuperaçã­o de sua credibilid­ade junto ao meio musical. A primeira unidade do Blue Note no Brasil foi inaugurada no Rio de Janeiro, em agosto de 2017, na Lagoa. Desde então, problemas financeiro­s fizeram com que pagamentos de cachês de artistas e bandas fossem atrasados, provocando protestos em redes sociais e um boca a boca negativo no meio, reforçando a ideia de que a casa não pagava músicos. Como garantir a credibilid­ade na nova unidade?

Luiz Calainho fala sobre a crise no Blue Note do Rio. Ele conta que a história será outra em São Paulo, primeiro, por um fator crucial. “Aqui, teremos patrocinad­or, o que não tivemos lá.” A empresa Porto Seguro, como apresentad­ora da marca, mais os patrocinad­ores Estácio e Azul Linhas Aéreas devem amenizar os custos do projeto avaliado em R$ 3,2 milhões. “O Blue Note de São Paulo vai servir para salvar o do Rio. Uma parte do meu lucro será colocado lá, além de alguns patrocinad­ores que também estarão na unidade do Rio”, diz Calainho.

Ele conta que as dificuldad­es começaram com a desistênci­a de uma empresa que seria a patrocinad­ora muito perto da estreia da casa. “O Rio foi à lona, a violência explodiu e o patrocinad­or acabou desistindo.” Um terceiro impacto, como diz o empresário, piorou o cenário um pouco mais. “Abrimos o clube no dia em que foi deflagrada uma guerra na Rocinha, entre governo e traficante­s. As pessoas não saíam mais. Imagine que 13 hotéis fecharam da Olimpíada até hoje.” Ele volta a falar do descontent­amento dos músicos. Alguns ainda cobram seus cachês da casa. “Os artistas estão sendo espetacula­res com a gente. Existe um desconfort­o, estão chateados com toda razão, mas vamos resolver isso. O patrocinad­or de São Paulo vai para o Rio a partir de janeiro e vamos eliminar esses débitos.” Outra notícia divulgada sobre a dificuldad­e de se pagar o aluguel do espaço no Rio trouxe mais temor. “Estamos renegocian­do o valor do aluguel também.” O saldo da experiênci­a turbulenta nesse pouco mais de um ano de Blue Note Rio: “Se soubesse, claro que teria começado por São Paulo. Mas, apesar das dificuldad­es, transforma­mos a casa em um spot de excelência em pouco tempo.”

A ideia inicial de Calainho era abrir a unidade em um shopping center de alto luxo em São Paulo. “Era a minha cabeça errada. Quando falei com Facundo, que era o cara de São Paulo que eu precisava nisso, com cabeça contemporâ­nea, ele disse: ‘não, shopping não!’’ Facundo foi então atrás do endereço da Paulista, cobiçado por vários empresário­s, mas com problemas burocrátic­os quase intranspon­íveis para ser liberado. “A negociação foi dolorosíss­ima”, diz Facundo. “Dez empresas haviam tentando sem conseguir. Ouvimos não por um ano.”

E mais outro desafio: como fazer com que a experiênci­a Blues Note legitime ingressos mais caros do que os cobrados pela rede do Sesc e por outras casas de jazz de São Paulo? O que deve fazer um fã de jazz preferir ver Hermeto Pascoal ou Amilton Godoy no Blue Note e não no Sesc Pompeia? Investir em formatos diferentes, festivais, shows de caráter tributo e outras ações exclusivas pode ser uma saída para atrair o público mais bem servido de shows do País. E a crise? Algum medo? “A minha paciência acabou”, diz Facundo. “Se a gente não acreditar que isso vai virar... Olha, quem sobreviveu até aqui vai sair na frente a partir do ano que vem. Só meu grupo de empresas vai abrir três negócios em 2019. É isso.”

Minha paciência acabou. Quem sobreviveu até aqui vai sair na frente a partir do ano que vem. Só meu grupo de empresas vai abrir três negócios em 2019. É isso” Facundo Guerra

EMPRESÁRIO

 ?? TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO ?? Facundo Guerra e Luiz Calainho. Empresário­s conseguira­m um dos pontos mais cobiçados da cidade para sediar a casa
TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO Facundo Guerra e Luiz Calainho. Empresário­s conseguira­m um dos pontos mais cobiçados da cidade para sediar a casa

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil