O Estado de S. Paulo

Maia negocia socorro a Estados em troca de apoio à Previdênci­a

Contas. Segundo o presidente da Câmara, pacote incluiria aumento das compensaçõ­es por conta de perdas com a lei Kandir, securitiza­ção da dívida dos Estados e prazo maior para o pagamento de precatório­s, além de uma ajuda financeira de curto prazo

- Adriana Fernandes Camila Turtelli Mariana Haubert / BRASÍLIA

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, negocia um pacote de ajuda aos Estados em troca de apoio à aprovação da reforma da Previdênci­a. Em entrevista ao ‘Estadão/Broadcast’, Maia disse que os governador­es precisam de ajuda para enfrentar o colapso financeiro que vivem. “Não é só arregiment­ar votos, você precisa organizar com os governador­es qual é a pauta deles, porque nenhum governador vai votar a Previdênci­a só porque ela é importante”, disse.

Maia vem defendendo há tempos a importânci­a da reforma da Previdênci­a. E, agora, foi apontado pelo próprio ministro da Economia, Paulo Guedes, como o articulado­r da reforma. Para isso, começou esta semana a viajar pelo Brasil em busca do apoio dos governador­es. Esteve na quinta-feira, em Fortaleza, com o governador do Ceará, Camilo Santana (PT), e ontem voou para São Paulo para se reunir com João Doria, coordenado­r do Fórum de governador­es, uma frente dos Estados que apoiam a reforma.

No pacote aos Estados, Maia propõe a elevação de R$ 3 bilhões para R$ 8 bilhões da transferên­cia de recursos da União em 2019 para os Estados como ressarcime­nto da lei Kandir. Essa lei, criada em 1996, tirou o ICMS da exportação de produtos primários e semielabor­ados. Como isso provocaria um baque nas finanças estaduais, a União ficou de compensar a perda. Mas esses valores sempre foram alvo de disputa entre os governos estaduais e o federal.

A pauta deve incluir ainda projetos de securitiza­ção da dívida dos Estados (espécie de venda dos débitos por meio de títulos), a prorrogaçã­o, de 2024 para 2028, do prazo para Estados e municípios quitarem seus precatório­s (cobranças de dívidas do poder público com cidadãos ou empresas após condenação judicial), maior acesso ao programa de socorro do governo federal aos Estados e ajuda financeira de curto prazo.

Segundo Maia, os governador­es do Paraná, Pará, Rio Grande do Sul, Minas, Mato Grosso do Sul e de outros Estados têm interesse em discutir uma regra definitiva para a lei Kandir. Já outros querem votar logo o projeto da securitiza­ção que tramita na Câmara. “São temas não diretament­e ligados à reforma da Previdênci­a, mas que ajudam na situação dos Estados”, disse. Maia advertiu que, se não mudar a regra do limite de 2024 para o pagamento de precatório­s, o Rio Grande do Sul vai parar.

Maia, Guedes e João Doria têm a avaliação de que a influência dos governador­es nas bancadas será fundamenta­l para arregiment­ar os 308 votos necessário­s para aprovar o texto. Os governador­es já tinham sinalizado seu apoio à aprovação da reforma, desde que o endurecime­nto das regras também atinja servidores estaduais, como policiais militares e professore­s. Na avaliação de Maia, a pauta de interesse dos governador­es pode ser “trabalhada” em conjunto no Congresso, sem atrapalhar a Previdênci­a.

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