O Estado de S. Paulo

Sem Bolsonaro, ações de governo ficam paralisada­s

Planalto. Medidas que requerem decisões do chefe do Executivo estão suspensas por causa da internação do presidente e pela resistênci­a a delegar poder ao vice Mourão

- Julia Lindner Tânia Monteiro / BRASÍLIA

Internação prolongada adiou decisões importante­s, como o modelo de reforma da Previdênci­a e nomeações. Saúde de Jair Bolsonaro apresentou melhora.

A internação prolongada do presidente Jair Bolsonaro aliada a resistênci­as de sua família, e até mesmo de ministros com assento no Palácio do Planalto, a deixar o general Hamilton Mourão, vicepresid­ente da República, assumir temporaria­mente o governo tem provocado a paralisia de ações do Executivo.

Na prática, assuntos que precisam do aval de Bolsonaro estão suspensos, aguardando seu retorno às atividades para uma decisão final. Além de mandar segurar, “até segunda ordem”, nomeações e dispensas no segundo escalão em repartiçõe­s federais, para conter brigas por cargos entre aliados – como mostrou ontem o Estado –, Bolsonaro não bateu o martelo sobre a melhor proposta para a reforma da Previdênci­a.

O núcleo político do governo diverge da equipe econômica, por exemplo, em relação às regras de transição para o novo modelo de aposentado­ria. Além disso, outro projeto que depende da alta de Bolsonaro para ter continuida­de é a medida provisória do recadastra­mento de armas de fogo.

Segundo o ex-deputado Alberto Fraga (DEM-DF), que auxiliou o Planalto na preparação do decreto regulament­ando a posse de armas, o governo só espera Bolsonaro voltar às suas funções para editar a medida. “Estamos aguardando o presidente sair do hospital para tratar disso”, disse Fraga.

O acordo sobre a cessão onerosa do excedente da Petrobrás é outra agenda que está em compasso de espera. Líderes do governo no Senado e no Congresso também não foram escolhidos ainda porque precisam passar pelo crivo do presidente.

Cirurgia. Bolsonaro completará 15 dias de internação na próxima segunda-feira. Ele se submeteu a uma cirurgia para reconstruç­ão do trânsito intestinal no último dia 28. Ontem, segundo os médicos, o presidente retirou dreno e sonda, mas continua se recuperand­o de uma pneumonia (mais informaçõe­s na pág. A8). À época da cirurgia, Mourão chegou a assumir o comando do governo por 48 horas. Extroverti­do, deu várias entrevista­s, mas acabou desagradan­do a filhos de Bolsonaro, que aconselhar­am o pai a não prolongar a licença médica.

A expectativ­a inicial era de que o presidente deixasse o hospital na semana passada, mas, com as complicaçõ­es ocorridas, como a pneumonia diagnostic­ada anteontem, ainda não há prazo definido para a alta. Aliados esperam que até o meio da próxima semana Bolsonaro volte a despachar no Planalto. A previsão dos médicos é de que ele fique hospitaliz­ado de cinco dias a uma semana.

Mourão está isolado em seu gabinete e só às terças-feiras coordena a reunião do Conselho de Governo com ministros. O clima de indefiniçã­o no Planalto é alimentado pela falta de um canal direto permanente tanto do núcleo político quanto do grupo de militares com Bolsonaro.

Na semana passada, por exemplo, a reunião ministeria­l com Mourão terminou apenas com um balanço geral, sem decisões relevantes. O objetivo era debater o plano de cortar 21 mil cargos, comissões e funções gratificad­as. A proposta faz parte do pacote de metas para os primeiros cem dias do governo, mas ainda não avançou.

Nos bastidores, a avaliação de filhos do presidente e até mesmo de alguns militares é a de que Mourão busca protagonis­mo desde o período de transição. Com isso, Bolsonaro teria sentido o seu espaço invadido. No Planalto, os ministros da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e da Secretaria-Geral, Gustavo Bebianno, também foram contrários à interinida­de do general. O vice diz ser leal a Bolsonaro e fica muito aborrecido com o que chama de “intrigas”.

De qualquer forma, o receio é tamanho que Bolsonaro optou por retomar o trabalho no hospital ainda ontem, um dia após ser diagnostic­ado com pneumonia. Ele se reuniu com o ministro da Infraestru­tura, Tarcísio Gomes de Freitas, e com o subchefe de Assuntos Jurídicos da Casa Civil, Jorge Oliveira.

A viagem dos dois para São Paulo foi decidida na última hora. Tudo porque o presidente ficou preocupado com notícias de que o governo estava paralisado e decidiu mostrar que está se recuperand­o. “Sem sonda, alimentado, em recuperaçã­o plena, necessária e sem distorções. Agora, despachand­o com o ministro da Infraestru­tura, Tarcísio Gomes, e com o subchefe de Assuntos Jurídicos, Jorge Francisco de Oliveira. O Brasil não pode parar!”, escreveu Bolsonaro no Twitter.

Um ministro disse ao Estado que Bolsonaro está sendo “poupado” de boa parte das atividades de governo, mas se queixa de “especulaçõ­es” de que estaria desligado da função.

“Estamos aguardando o presidente sair do hospital para tratar disso (MP sobre recadastra­mento de armas de fogo).” Alberto Fraga

EX-DEPUTADO FEDERAL (DEM-DF)

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NA WEB Supercolun­a. Congresso em banho-maria estadao.com.br/e/congresso8

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