Ministério Público pediu interdição do alojamento em 2015
Órgão identificou situações precárias de habitação e comparou condições às de um centro de detenção para menores no Rio de Janeiro
Há quatro anos, o MP do Rio abriu ação civil pública em que alertava para as precárias condições dos alojamentos e pedia a interdição do CT. O clube não fez mudanças e continuava funcionando.
“Uma tristeza muito grande, meus pêsames e sinceros sentimentos a todos familiares e a nação rubro-negra. Terrível tragédia!”
Ronaldinho Gaúcho,
EX-JOGADOR DE FUTEBOL
“Que tragédia essa com a base do Flamengo. Que choque receber essa notícia aqui do outro lado do mundo”
Zico, EX-JOGADOR, MAIOR ÍDOLO DA HISTÓRIA DO FLAMENGO
“Estamos vendo uma sucessão de fatos e desastres evitáveis, preveníveis e precisamos estar atentos a eles para que as instituições de controle, fiscalização e punição realmente funcionem” Raquel Dodge,
PROCURADORA-GERAL DA REPÚBLICA
O centro de treinamento do Flamengo, em Vargem Grande, está na mira do Ministério Público do Rio de Janeiro desde 2015. O órgão abriu uma ação civil pública, em março daquele ano, alertando para as precárias condições dos alojamentos e pedindo a interdição do CT. O clube não realizou as mudanças necessárias no prazo estabelecido, mas continuava funcionando normalmente. A ação tem audiência marcada para o mês de maio deste ano.
Após as visitas, os promotores chegaram a comparar as instalações do CT às unidades do Departamento Geral de Ações Educativas (Degase), instituição responsável pelo cumprimento de medidas socioeducativas de menores infratores. A instituição pode ser comparada à Fundação Casa, de São Paulo.
“Os adolescentes atletas residentes encontram-se em condições muito inferiores àquelas oferecidas pela esmagadora maioria das entidades de acolhimento do Estado do Rio de Janeiro, o que é ainda mais absurdo considerando a elevada arrecadação anual do clube”, diz outro trecho da ação.
Ainda de acordo com a ação ajuizada, o “Comissariado de Justiça da Infância e Juventude realizou reiteradas visitas ao Centro de Treinamento Ninho do Urubu, constatando sinais de irregularidades quanto à habitação, além de grande precariedade no que se refere aos colchões utilizados pelos adolescentes”, informa a ação.
Os promotores também apontaram a falta de educadores para os atletas das categorias de base, além de problemas com a estrutura física. “O clube não dispõe de educadores ou monitores, valendo-se de vigias noturnos para a referida função das 19h às 7h. O CT não possui psicólogo específico para adolescentes residentes”, pontua outro trecho da ação.
Uma das exigências para que os clubes possam formar jogadores é “manter alojamento e instalações desportivas adequados, sobretudo em matéria de alimentação, higiene, segurança e salubridade”. É o que determina a Lei 12.395, sancionada pela então presidente Dilma Rousseff que definiu parâmetros para o funcionamento das categorias de base dos times.
A ação de 2015 foi o resultado de fiscalizações anteriores. Três anos antes, em 2012, o MPRJ havia realizado outra fiscalização no qual foram constatados “sinais de infiltração em um dos quartos”. O órgão ainda denunciou que vários adolescentes permaneciam no CT sem autorização dos pais.
Em 2014, outra fiscalização reiterou a precariedade dos alojamentos. Caso o Flamengo não adequasse suas instalações e corrigisse os problemas, a Justiça determinaria o fechamento do CT. O TRT também pediu a entrega dos adolescentes aos pais e responsáveis.