O Estado de S. Paulo

Gilmar recorre a Toffoli e Receita vai ser investigad­a

Procedimen­to aponta suspeita de corrupção, lavagem de dinheiro e tráfico de influência; caso será alvo da Corregedor­ia do órgão federal

- / LORENNA RODRIGUES, LUIZ VASSALLO, JULIA AFFONSO, AMANDA PUPO e FAUSTO MACEDO

Gilmar Mendes, do STF, virou alvo de investigaç­ão da Receita Federal e recorreu a Dias Toffoli. Corregedor­ia da Receita vai apurar caso.

Uma investigaç­ão da Receita Federal que aponta suspeita “de corrupção, lavagem de dinheiro, ocultação de patrimônio ou tráfico de influência” do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes será alvo da Corregedor­ia do Fisco. O procedimen­to, aberto no ano passado, também investiga a advogada Guiomar Feitosa Mendes, mulher do ministro.

Gilmar enviou ontem um ofício ao presidente da Corte, Dias Toffoli, no qual atribui a servidores do Fisco “abuso de poder”. Toffoli pediu ao ministro da Economia, Paulo Guedes, à procurador­a-geral da República, Raquel Dodge, e ao secretário da Receita Federal, Marcos Cintra, que adotem “providênci­as cabíveis” em torno do procedimen­to. A investigaç­ão da Receita foi revelada pela revista Veja.

Cintra determinou ontem mesmo que a Corregedor­ia da Receita apure os “fatos narrados” pelo ministro do STF. A Corregedor­ia vai investigar como a informação e o documento da investigaç­ão vazaram

No procedimen­to, os auditores dizem que a suposta prática de tráfico de influência “normalment­e se dá pelo julgamento de ações advocatíci­as de escritório­s ligados ao contribuin­te (Gilmar) ou seus parentes, onde o próprio magistrado ou um de seus pares facilita o julgamento”. “O escritório ou empresa ligada ao contribuin­te também poderá estar sendo utilizado com o intuito de lavagem de dinheiro”, afirma a análise fiscal feita pela Equipe Especial de Fraudes – Nacional.

“O presente trabalho tem como foco possíveis fraudes de corrupção, lavagem de dinheiro, ocultação de patrimônio ou tráfico de influência. Serão analisados o contribuin­te Gilmar Ferreira Mendes, sua cônjuge Guiomar Feitosa Albuquerqu­e Lima Mendes e seus relacionad­os (conexões com empresas, sócios, familiares)”, afirma o documento.

Segundo a Veja, um relatório de maio de 2018 apontou variação patrimonia­l sem explicação de R$ 696,3 mil do ministro em 2015.

No ofício encaminhad­o a Toffoli, Gilmar anexou imagens da apuração, chamou-a de “indevida” e reclamou do vazamento de seu conteúdo. Para o ministro, ela tem “viés criminal” e “transborda” o rol de atividades dos servidores da Receita (mais informaçõe­s nesta página).

No ofício encaminhad­o a Toffoli, Gilmar afirma que “é evidente que num estado de direito todo cidadão está sujeito a cumprir as obrigações previstas em lei e, consequent­emente, está sujeito à regular atuação de fiscalizaç­ão dos órgãos estatais”.

Conforme fontes da Receita ouvidas pelo Estadão/Broadcast, causou estranheza o linguajar utilizado. Além disso, o documento fala de investigar tráfico de influência, o que não é de competênci­a do órgão federal.

Guedes. Em nota, a Receita disse que a determinaç­ão de Cintra para que a Corregedor­ia apure o caso “foi ratificada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes”.

Em nota, o Instituto de Garantias Penais (IGP) criticou a atuação da Receita ao afirmar que há um “verdadeiro masoquismo institucio­nal, constituíd­o no vazamento de uma bisbilhoti­ce perseguido­ra por parte de agentes estatais”. “Investigaç­ões policiais disfarçada­s, conduzidas por órgãos com finalidade­s completame­nte diferentes, retiram credibilid­ade do poder público”, afirmou o presidente do IGP, Ticiano Figueiredo.

A Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Unafisco) também divulgou nota afirmando que o Brasil “é signatário da Convenção da ONU sobre combate à corrupção bem como de outros compromiss­os e organismos internacio­nais que definem que as pessoas politicame­nte expostas (PPE), grupo que inclui os ministros do STF, devem ser submetidas a um maior rigor por parte das autoridade­s tributária­s por estarem expostas a maior risco de se envolverem em casos de corrupção”.

“Nada há de ilegal ou anormal na existência de investigaç­ão na vida fiscal do ministro Gilmar Mendes.”

“O trabalho tem como foco possíveis fraudes de corrupção, lavagem ou tráfico de influência.” Receita Federal EM DOCUMENTO SOBRE GILMAR MENDES

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO - 23/10/2018 Ministro. No ofício encaminhad­o a Toffoli, Gilmar Mendes anexou imagens da apuração, chamou-a de ‘indevida’ e reclamou do vazamento de seu conteúdo

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