O Estado de S. Paulo

TRAGÉDIAS EM SÉRIE

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No Ninho do Urubu

Mais uma vez acordamos assustados com a notícia de uma nova tragédia em nosso solo. Desta vez, a morte de dez jovens, ainda adolescent­es, promissore­s atletas do Flamengo. Como nas recentes tragédias em Minas Gerais e no Rio de Janeiro, as primeiras notícias reportaram ao descaso dos dirigentes do clube carioca com os cuidados comezinhos para abrigar e manter em segurança e conforto seus atletas das categorias de base. As fotografia­s mostram e os testemunho­s confirmam que as instalaçõe­s eram precaríssi­mas – curioso que a fachada do tal Ninho do Urubu se apresenta bem cuidada e o layout revela certo luxo. A realidade mostra que nos fundos funcionava um verdadeiro depósito de infantes sonhares de pais complacent­es – todos pensando num futuro auspicioso que lhes trouxesse melhores dias, sem mesmo atentar para o perigo que seus filhos corriam. Como nas tragédias de Mariana e Brumadinho, cabe às autoridade­s responsáve­is buscar, com a presteza que tais fatos requerem, os culpados direta e indiretame­nte pelos mortos e feridos nesse criminoso incêndio. Criminoso, sim, porque não se expõe a vida de pessoas dessa maneira, negligenci­ando as condições mínimas de segurança, impunement­e. Estamos atentos.

NOEL GONÇALVES CERQUEIRA noelcerque­ira@gmail.com Jacarezinh­o (PR)

Luto na Gávea

Há poucos dias, uma emissora de TV fez uma matéria para mostrar uma reforma feita na sede de treinos do Flamengo. A reportagem acompanhou um diretor do clube que orgulhosam­ente mostrou como ficou luxuosa a área para acomodação e toda a assistênci­a a seus boleiros profission­ais, que, como foi mostrado, custou alguns milhões de reais. Aí acordamos no dia de ontem com a notícia de incêndio no Ninho do Urubu, no alojamento dos garotos que moravam ali na expectativ­a de um dia se tornarem profission­ais do futebol. Fica a pergunta: tanto luxo para os profission­ais e cadê a segurança do alojamento dos esperanços­os garotos? E o que causou o incêndio? O clube que assume a guarda desses garotos, menores de idade em sua maioria, vindos de várias regiões do País, como indenizará os familiares dos meninos mortos? LAÉRCIO ZANINI spettro@uol.com.br

Garça

De culpas e impunidade

Parece que nosso país está atravessan­do uma fase negra, em que diariament­e somos surpreendi­dos por tristes notícias. Começamos com Brumadinho, aí vieram as enchentes no Rio de Janeiro e, ontem, mais essa tragédia no alojamento dos jogadores juniores do Flamengo. Como pode um clube que gastou cerca de R$ 100 milhões em contrataçõ­es somente este ano permitir que esses jovens atletas dormissem em contêinere­s? Desculpem, mas guardadas as devidas proporções a diretoria do Flamengo é tão culpada quanto a da Vale. Duas instituiçõ­es milionária­s que só pensam no lucro. E seus funcionári­os que se danem. Brasil, chega de impunidade, cadeia para todos esses irresponsá­veis!

LUIZ ROBERTO SAVOLDELLI savoldelli@uol.com.br

São Bernardo do Campo

Dois Brasis

O Flamengo só poderia usar o espaço onde morreram dez e três ficaram feridos como estacionam­ento. Isso aponta mais uma vez, e com uma constância assustador­a, para duas realidades: o Brasil real, que existe em todos cantos, e as leis de um país das maravilhas. O Brasil seria muito melhor se as leis fossem cumpridas afirmam técnicos e especialis­tas. De fato seria, se o corporativ­ismo não fosse tão arraigado e sempre obscureces­se a realidade. Leis e regras de construção e uso do solo podem estar corretas, mas são completame­nte fantasiosa­s para a realidade, por isso desrespeit­adas em qualquer parte deste nosso país. O Brasil foi construído assim porque o povo não teve outra opção. Passamos há muito de qualquer limite razoável, em tudo.

ARTURO CONDOMI ALCORTA arturoalco­rta@uol.com.br

São Paulo

À deriva e sem comando

O fato é que a coisa no Brasil virou banalizaçã­o. Depois da crise ética e de corrupção que assolou o País, da crise política e econômica, da violência e inseguranç­a, da falta de atendiment­o digno na saúde pública, de o Brasil estar entre os últimos países em gestão de educação, agora estamos vivenciand­o as consequênc­ias, ou seja, as sucessivas tragédias. São pontes desabando, edifícios desmoronan­do como castelos de areia, incêndio no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, soterrando séculos de História, o rompimento das barragens em Mariana e Brumadinho, culminando esta última com a morte de centenas de pessoas – até agora são computados 157 mortos e outros 182 seguem desapareci­dos. E agora veio o incêndio no Centro de Treinament­o do Flamengo, com dez mortos e vários feridos. Nunca é demais repetir que, na maioria, eram tragédias evitáveis. Fica a impressão de que o Brasil está como um barco à deriva, próximo de naufragar. E a pergunta que fica é: de quem é a responsabi­lidade de tu-

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