O Estado de S. Paulo

A oposição sem o PT

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OPT, com 56 deputados e 6 senadores, ainda é o maior partido de oposição, mas passou os últimos tempos concentrad­o apenas em defender seu encalacrad­o líder, Lula da Silva. Com isso, deixou de exercer o papel político que lhe cabia, de liderar, de forma prudente e objetiva, a oposição ao governo. A irresponsa­bilidade petista acabou atrasando a formação de um bloco oposicioni­sta atuante e coeso, condição indispensá­vel para o funcioname­nto da democracia – afinal, é muito difícil que haja um bom governo sem a existência de uma oposição digna do nome, capaz de fiscalizar os projetos do Executivo e produzir alternativ­as.

Esse cenário, contudo, começa a mudar. Os partidos que tradiciona­lmente orbitavam o PT, numa relação de vassalagem com Lula da Silva, estão há algum tempo organizand­ose para atuar sem depender dos petistas e, principalm­ente, sem se submeter às manias do demiurgo de Garanhuns.

A independên­cia da oposição de esquerda no País em relação ao PT e a Lula ganhou até mesmo um slogan: “O Lula está preso, babaca!”.

Tão grosseira quanto certeira, a frase, dita pelo senador Cid Gomes (PDT-CE) durante evento da campanha eleitoral do ano passado, para enquadrar petistas irascíveis que julgavam poder ditar os rumos da esquerda na disputa, foi repetida recentemen­te por Ciro Gomes, irmão de Cid e candidato derrotado à Presidênci­a.

Num encontro da União Nacional dos Estudantes (UNE) em Salvador, no dia 6 passado, Ciro Gomes foi vaiado quando começou a criticar o PT. “Tem coisa mais chata que jovem estar num bar defendendo corrupto? Imagina um jovem num bar agora obrigado a defender corrupção, ladroeira, aparelhame­nto do Estado, fisiologia, formação de quadrilha. Isso não é para vocês, vocês não têm nada a ver com isso”, discursou Ciro, em óbvia referência aos governos petistas, protagonis­tas de escândalos de corrupção, e a Lula da Silva, corrupto condenado em dois processos e que está na cadeia desde abril do ano passado. Diante da hostilidad­e crescente dos estudantes petistas, que gritavam “Lula livre”, Ciro lembrou, também aos gritos, que “o Lula está preso, babaca!”, e criticou a estratégia do PT de mobilizar todas as suas energias em defesa do ex-presidente: “Fomos humilhante­mente derrotados por essa estratégia. Insistir nela afunda o Brasil”.

O discurso de Ciro Gomes ocorreu no mesmo dia em que Lula da Silva estava sendo condenado pela segunda vez por corrupção e lavagem de dinheiro. A nova sentença, de 12 anos e 11 meses de cadeia, desmoraliz­ou de vez a retórica segundo a qual o chefão petista é vítima de “perseguiçã­o política”. Assim, a despeito dos arreganhos petistas, parece cada vez mais claro que Lula está mesmo fora do jogo, o que abre caminho para novas lideranças e composiçõe­s no campo da oposição.

Apesar do esforço de Ciro Gomes, esse espaço ainda está por ser preenchido. Enquanto a oposição luta para definir seu formato e seus líderes, o governo do presidente Jair Bolsonaro, a despeito de sua evidente fragilidad­e na articulaçã­o política, segue sozinho no jogo. Seus únicos problemas se resumem por ora à ausência do presidente, internado para se recuperar de uma cirurgia, e aos dissabores causados por fogo amigo – nomeadamen­te os erros cometidos por ministros claramente desqualifi­cados para o cargo que ocupam e os rolos mal explicados envolvendo um dos filhos do presidente.

No momento em que o governo apresenta projetos de grande impacto para o País, como a reforma da Previdênci­a e o pacote de combate ao crime, é notável – e lamentável – o silêncio da oposição. O único ruído, por enquanto, ainda é o dos petistas a defender seu líder corrupto, a atacar as instituiçõ­es e a questionar a legitimida­de do presidente Bolsonaro.

Por maior que seja o confronto político, a democracia estará saudável se, em primeiro lugar, governo e oposição se reconhecer­em mutuamente. Com o PT na oposição isso é virtualmen­te impossível, razão pela qual seu alijamento por parte de seus antigos satélites, se vier mesmo a acontecer, é uma boa notícia.

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