Guaidó admite autorizar ação militar dos EUA na Venezuela ‘se necessário’
Cerco. Líder opositor que se declarou presidente do país e foi reconhecido como tal pela maior parte da comunidade internacional pretende usar voluntários para buscar comida e remédios americanos, hoje bloqueados em Cúcuta, no lado colombiano da fronteira
O líder opositor venezuelano, Juan Guaidó, que se proclamou presidente do país em janeiro, disse ontem que não descarta a possibilidade de autorizar uma intervenção militar dos EUA para tirar Nicolás Maduro do poder.
“Claro que é um tema muito polêmico, mas fazendo uso da nossa soberania, faremos o necessário”, afirmou o presidente do Parlamento à agência AFP. Na entrevista, ele foi questionado duas vezes especificamente sobre o tema. Em ocasiões anteriores, ele havia rejeitado enfaticamente esta hipótese.
“Vamos fazer tudo o que seja necessário e tenha o menor custo social, que traga governabilidade”, sustentou Guaidó, que pretende montar neste fim de semana assembleias para organizar equipes de voluntários para buscar ajuda humanitária enviada pelos EUA, hoje bloqueada na cidade de Cúcuta, na Colômbia.
“Não é um capricho, nem migalhas”, disse o opositor. “É uma necessidade. Se bloquearem a fronteira, abriremos um canal humanitário.” A oposição pretende constranger o Exército para forçá-lo a escolher entre seguir bancando Maduro ou ajudar a enfraquecê-lo, permitindo a passagem de alimentos e remédios. Parte dos oficiais da Guarda Nacional Bolivariana (GNB) que protegem a fronteira tem baixas patentes e também sofre com a crise.
“O momento é agora. Não cometam o crime contra a humanidade de permitir a morte de 300 mil venezuelanos que necessitam de ajuda urgente”, disse Guaidó. Ainda de acordo com o líder opositor, os voluntários terão como objetivo buscar a ajuda na Colômbia e distribuí-la de forma eficaz na Venezuela, sem discriminação política.
Não está claro se o governo de Maduro ordenará o fechamento da fronteira, como fez em 2016 após centenas de milhares de pessoas atravessarem para a Colômbia em busca de alimentos e remédios. Na ocasião, a passagem só foi reaberta após negociações entre os dois países. Também não há indícios de como o governo americano, que patrocina a entrega da ajuda, reagirá nesse cenário.
Ainda de acordo com líder da oposição, o volume de ajuda deve aumentar. “Teremos um tsunami de ajuda humanitária”, disse o opositor Léster Toledo, que coordena a entrega da ajuda em Cúcuta. “Haverá um corredor humanitário formado por civis e militares.”
O governo de Maduro já afirmou que não permitirá a entrada de comida e de remédios no país, que há seis anos sofre com a hiperinflação e a escassez, às
vezes de itens básicos como água, sabão e papel higiênico. O chavista considera o carregamento de ajuda um pretexto para uma invasão americana. “Não vamos permitir o show da ajuda humanitária falsa. Não somos mendigos”, afirmou Maduro.
Uma fonte da Casa Branca disse à agência Reuters que conversas estão em curso com alguns oficiais. De acordo com a fonte, “alguns peixes grandes ainda serão convencidos”. No campo diplomático, o Departamento de Estado dos EUA espera que países europeus atuem nas próximas semanas para impedir que Maduro mova recursos para fora da Venezuela. “Não vamos entrar à força na Venezuela”, disse a jornalistas a subsecretaria de Estado para Assuntos do Hemisfério Ocidental, Kimberly Breier. “Estamos arrumando maneiras de entrar e depende do lado venezuelano. É um movimento civil, de ajuda humanitária”, completou.
Até o momento, os principais países da União Europeia, com a exceção da Itália, reconheceram Guaidó como presidente interino, mas não impuseram sanções. O Reino Unido, por exemplo, impediu o acesso do chavismo a US$ 1,2 bilhão em ouro que o governo venezuelano tem em bancos britânicos.
Outra alternativa do governo americano nas próximas semanas é impor as chamadas “sanções secundárias”, que são usadas para punir empresas de fora dos EUA que fazem negócios com empresas na lista do Departamento do Tesouro – no caso, a PDVSA.
Ainda ontem, Maduro disse estar disposto a receber enviados do chamado Grupo Internacional de Contato (GIC), que reúne países sul-americanos e europeus dispostos a encontrar uma saída democrática para a crise. “Estou pronto e disposto a receber qualquer enviado do grupo de contato”, disse Maduro. “Espero que eles nos escutem.”