O Estado de S. Paulo

Quem é o interino

- EMAIL: GILLES.LAPOUGE@WANADOO.FR / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

Na Europa, as pessoas nem mesmo sabiam que ele existia. E, um belo dia, no turbilhão da crise venezuelan­a, ele apareceu. Quem era esse jovem de 35 anos, bonito e elegante, que saiu do nada e pretende ser o futuro da Venezuela?

Juan Guaidó assegurou ser o verdadeiro presidente que lançaria Maduro nas trevas. Mais um fanfarrão? No entanto, dias depois, percebemos que era uma pessoa séria. Mas continuáva­mos a não saber muita coisa a seu respeito. Por isso, a longa entrevista que ele deu ao jornal Le Monde serviu como atestado de nascimento e de declaração de intenção. E concluímos que é preciso levar Juan Guaidó a sério.

Foi pedido, em primeiro lugar, para ele se situar no cenário político. Guaidó respondeu secamente à demanda ideológica. “É muito cedo. No momento,

o que importa é estabelece­r uma política de assistênci­a social e igualdade dos sexos. Apoio o livre mercado, a autonomia do empresaria­do e a competitiv­idade”, respondeu.

Então, ele é de direita? Sua resposta: “Sou de centro-esquerda nas questões sociais. Compartilh­o, em grande parte, os valores da social-democracia. Mas debater sobre a Venezuela em termos de direita e de esquerda é errado. A triste realidade é que a história do país foi de pilhagem e corrupção. A palavra ‘povo’ foi utilizada para se roubar os recursos de nosso território. Aí, não existe ideologia.”

Outra pergunta delicada: “O senhor obteve o apoio de Donald Trump. Por que Trump continua a fazer ameaças de uma intervençã­o militar?” Resposta: “Toda essa história de intervençã­o foi deformada e recuperada.

Ela mascara nosso desejo de construir uma real maioria no país com uma Assembleia Nacional soberana e eleita. Sessenta países nos reconhecer­am. Então, reduzir tudo isso a um único minimiza os anos de sacrifício­s e de combates dos venezuelan­os para recuperarm­os nossa liberdade e nossa democracia.”

Pelo menos 20 países europeus reconhecer­am Guiadó, observou o jornal Le Monde. “O que o senhor espera mais?” “Muita coisa”, respondeu o venezuelan­o. “Primeirame­nte, o pleno reconhecim­ento das minhas funções de presidente interino. Em segundo lugar, necessitam­os de apoio para fornecer ajuda humanitári­a, abrir corredores de transporte. E, em terceiro, é preciso uma pressão diplomátic­a forte para estabelece­r um governo de transição estável e permanente.”

Para terminar foram feitas perguntas sobre os antigos “chavistas”. “Hoje, os chavistas são menos numerosos. Eles abrigaram muitas contradiçõ­es, dando as costas ao mundo democrátic­o. Acho que são necessário­s para garantir a estabilida­de do país. Eu reconheci a importânci­a dos militares e apresentei propostas. Todos são importante­s aos meus olhos.”

Novo líder venezuelan­o confia em pressão internacio­nal para estabelece­r transição estável

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