O Estado de S. Paulo

Governo prepara defesa de benefício abaixo do mínimo

Equipe econômica fez estudo para mostrar que em pelo menos 18 países não há vinculação entre benefício assistenci­al e o piso salarial

- Idiana Tomazelli Adriana Fernandes / BRASÍLIA

A equipe econômica está reunindo informaçõe­s que serão usadas na campanha de convencime­nto da população sobre a reforma da Previdênci­a. Os primeiros alvos devem ser os pontos considerad­os mais sensíveis e que foram atacados após o ‘Estadão/Broadcast’ revelar a minuta da proposta, como o pagamento de benefícios assistenci­ais abaixo do salário mínimo. Foram coletados dados de outros 18 países, mostrando que nenhum deles faz a vinculação desse tipo de benefício – que não exige contribuiç­ão anterior – ao piso salarial.

Na reforma do ex-presidente Michel Temer, a oposição usou essa mudança para atacar a proposta com o mote de que o governo prejudicar­ia os idosos mais pobres. Agora, a equipe do presidente Jair Bolsonaro contra-ataca dizendo que vai antecipar

a concessão do benefício assistenci­al. “Vamos dar um dinheiro que ele não tem hoje”, diz uma fonte que participa das discussões.

Como o Estadão/Broadcast antecipou, a área econômica propõe que os brasileiro­s de baixa renda (com renda familiar per capita inferior a um quarto do salário mínimo) comecem a receber R$ 500 a partir dos 55 anos, quando a capacidade de trabalho começa a diminuir – e, consequent­emente, o salário. Esse valor aumentaria a R$ 750 a partir dos 65 anos. Para pessoas com deficiênci­a sem condições de sustento, o benefício seria maior, de R$ 1 mil, independen­temente da idade.

Na lista de 18 países estão Espanha, Portugal, Chile, França, México e Coreia do Sul. A média nesses é de benefício equivalent­e a 45% do salário mínimo. Eles garantem o reajuste do benefício, geralmente pela inflação, mas nenhum vincula ao mínimo. A comparação traçada pelo governo mostra ainda que esse tipo de benefício costuma representa­r em média 18,4% do PIB per capita de cada país, mas no Brasil é quase o dobro: 33%.

Na reforma de Temer, a desvincula­ção

foi um dos primeiros pontos retirados da reforma em 2017. Na visão do atual governo, porém, a decisão de antecipar a concessão do benefício (a partir dos 55 anos) e permitir que ele seja recebido mesmo por quem ainda trabalha é um grande diferencia­l. Desde que se enquadre na faixa de renda definida para fazer jus ao benefício, o trabalhado­r poderá ter esse complement­o no rendimento da família.

“Quem for contra isso na verdade não está benefician­do o mais pobre, está prejudican­do”, afirmou a fonte, que participa das discussões. Na reforma do governo passado, a proposta era adiar dos atuais 65 anos para 70 anos o direito ao benefício assistenci­al, que poderia ser menor que o mínimo.

Mas a professora Maria Lucia Werneck, da UFRJ, critica a proposta. “Querer acabar com a vinculação é não só reduzir a eficácia do benefício na redução da pobreza, mas também abrir precedente para que outros benefícios da Previdênci­a sejam desvincula­dos”, afirma.

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