O Estado de S. Paulo

Aposta de alto risco

- E-MAIL: ADRIANA.FERNANDES@ESTADAO.COM ADRIANA FERNANDES ESCREVE AOS SÁBADOS É JORNALISTA DO BROADCAST

Aminuta da proposta de reforma da Previdênci­a, antecipada pelo Estadão/Broadcast no dia 4, era a versão mais recente elaborada pela equipe econômica e que seria analisada pelo presidente Jair Bolsonaro para a sua palavra final.

O texto já tinha passado pelo crivo da equipe em reunião na sexta-feira anterior, mesmo dia da posse dos novos deputados e senadores no Congresso. Não havia várias versões da proposta em análise na equipe, como o governo tentou mostrar depois que a divulgação antecipada do texto foi publicada. Portanto, é essa a proposta do ministro da Economia, Paulo Guedes.

Vem desse ponto específico o desconfort­o da equipe econômica com o vazamento da íntegra da minuta e a caça às bruxas que seguiu ao longo da semana na Esplanada e no Congresso para identifica­r a sua origem. Detalhes da proposta já haviam sido disparados em reunião na semana passada em São Paulo, como a coluna apurou.

Com a minuta na rua, Guedes e sua equipe ficaram expostos à leitura de primeira hora de que a reforma pode perder força para o time político com uma versão mais branda. Assim que Bolsonaro der a palavra final do texto que será enviado ao Congresso, bastará uma simples comparação para ver quem perdeu e quem ganhou: o time econômico ou da Casa Civil.

Paulo Guedes, porém, adotou uma aposta de alto risco, mas que pode dar certo para evitar uma desidrataç­ão muito grande da proposta antes mesmo de chegar à Câmara. Lá, como já se sabe, os pontos do texto com maior rejeição acabam sempre retirados para se preservar os pontos fundamenta­is, como a fixação de uma idade mínima.

No dia seguinte da divulgação da minuta, o ministro da economia tratou de fixar o piso mínimo de R$ 1 trilhão de economia. É o que ele quer. Disse ao Palácio do Planalto que é a economia que precisa para garantir sustentabi­lidade à trajetória da dívida pública.

O mix das medidas, que podem ser retiradas ou incluídas na reforma depois do pente-fino do presidente Bolsonaro, tem de garantir essa economia. Se não conseguir, já começa a guerra de negociação com o Congresso em desvantage­m. Se convencer o presidente, por outro lado, Guedes entrega a proposta de reforma ao Congresso cacifado.

Uma das estratégia­s para conseguir apoio dos parlamenta­res é mostrar que a reforma vai retirar os privilégio­s de quem ganha mais no Brasil. Para isso, uma das propostas que está sendo conduzida pelo ministro da Economia, e que será levado adiante, é a redução da alíquota da contribuiç­ão ao INSS paga pelo trabalhado­r com renda mais baixa. Em compensaçã­o, o trabalhado­r com renda mais alta terá de pagar mais.

Até agora o governo Bolsonaro, porém, ainda não conseguiu falar a mesma língua da população. Embora o ambiente no Congresso e na sociedade esteja muito mais favorável para uma aprovação rápida da reforma, a equipe do secretário especial de Previdênci­a e Trabalho, Rogério Marinho, terá de remover barreiras gigantesca­s para mostrar que vale a pena seguir com uma reforma mais dura. Inclusive para o próprio presidente Bolsonaro.

Sem fumaça branca. A morosidade do comando do BNDES em negociar uma devolução antecipada maior dos empréstimo­s do Tesouro Nacional chama a atenção no Ministério da Economia. Apesar de a equipe do ministro Paulo Guedes cobrar uma devolução de R$ 100 bilhões em 2019 para acelerar a redução da dívida pública, mais uma vez o BNDES resiste a devolver uma quantia maior. Essa política é central no plano econômico do ministro.

O presidente do BNDES, Joaquim Levy, não tem se mostrado muito animado com a devolução maior. A tese dos apoiadores do presidente é que enquanto o BNDES não devolver tudo que deve ao Tesouro é o contribuin­te que está financiand­o as empresas beneficiad­as pelo banco com empréstimo­s generosas durante a gestão do PT. Cada pagamento antecipado à União reduz a dívida bruta e os juros a serem pagos pelo governo.

Com apoio de Bolsonaro, Guedes entrega proposta ao Congresso cacifado

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