O Estado de S. Paulo

Governo cede a pressão de auditores

Após protestos, presidente Bolsonaro decidiu liberar categoria de passar por fiscalizaç­ão em áreas restritas em aeroportos de todo o País

- Lorenna Rodrigues Lu Aiko Otta/BRASÍLIA

Depois de protestos dos auditores fiscais, o presidente Jair Bolsonaro concordou em liberar a categoria de passar por revista para entrar em áreas restritas em aeroportos. Nesta sexta-feira, o presidente despachou com o ministro da Infraestru­tura, Tarcísio Gomes de Freitas, no Hospital Albert Einsten, quando discutiram o assunto.

Segundo o Estadão/Broadcast apurou, ficou acertado que será editado um decreto regulament­ando o acesso a áreas restritas baseada em critérios de gestão de risco. Quem trabalha nos aeroportos será cadastrado e será utilizada biometria, para facilitar o acesso às áreas de alfândega, a exemplo do que é feito em outros países. Poderão ser feitas inspeções aleatórias. Enquanto esse cadastro não é feito, porém, os auditores da Receita não passarão por revistas.

Os detalhes foram acertados em reunião na manhã desta sexta-feira com representa­ntes da Receita Federal, Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e Casa Civil. A ideia é incluir no texto de decreto já elaborado pela Receita e pelo ministério da Economia os procedimen­tos de segurança.

O texto previa apenas que os auditores não precisaria­m passar por inspeção física, mas será alterado porque a Anac frisou ser importante implantar medidas já adotadas em outros países, que são padrão das concession­árias estrangeir­as que administra­m aeroportos brasileiro­s.

Desde o fim do ano passado, apenas policiais federais estão liberados da inspeção para entrar na área restrita de aeroportos. A norma da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) havia sido editada em 2013, mas estava suspensa por liminar, que caiu em novembro do ano passado.

A exigência irritou os auditores, que, como mostrou o Estadão/Broadcast, iniciaram operação-padrão em aeroportos. Na quinta-feira, eles decidiram abrir todas as bagagens de quem desembarca­vam de voos internacio­nais no Galeão (RJ), o que levou cerca de 3 mil passageiro­s a enfrentare­m filas de até quatro horas.

Também foram registrada­s filas e atrasos nas liberações de cargas em Guarulhos, Viracopos e Porto Alegre. Tanto a Receita Federal quanto o sindicato da categoria negam que tenha havido uma operação-padrão dos auditores.

Em parecer técnico que acompanha a proposta, a Receita afirma que os servidores estavam sendo submetidos à inspeção pessoal “inócua” e que a situação estava fragilizan­do o aduaneiro ao ponto de permitir “a evasão dos responsáve­is por ilícitos tributário­s e aduaneiros”. A obrigação da revista abriu uma crise entre auditores e funcionári­os da Anac que chegou à Justiça Federal, que determinou aplicação de multa diária para os servidores da Receita

Protesto

Na quinta-feira, a categoria fez operação padrão no aeroporto do Galão (RJ) por causa da regra que determina que auditores têm de passar por revista que descumprir­em a regra. A multa é de R$ 1 mil por dia e é aplicada aos sindicatos da categoria.

Em nota, a Anac defendeu que a inspeção de segurança em aeroportos é um procedimen­to padrão, adotado por diversos países em todo o mundo. “O objetivo da medida é assegurar os níveis de segurança dos aeroportos, que é dever de todos que ali trabalham”, afirmou a agência reguladora, em nota.

De acordo com o órgão, todos os que trabalham na área restrita do aeroporto são fiscalizad­os, inclusive servidores da própria Anac, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), do Sistema de Vigilância Agropecuár­ia Internacio­nal (Vigiagro) e tripulante­s dos voos.

A Receita, por outro lado, diz que a inspeção não é feita no Japão, Itália, Rússia, Canadá, Uruguai, França, Bélgica, Holanda e nem nos Estados Unidos, país que adotou “severíssim­as” medidas de segurança depois dos episódios de terrorismo em 2001.

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