O Estado de S. Paulo

Rejeição a Trump faz crescer lista de rivais para 2020

Pesquisas mostram que eleitores democratas acham mais importante derrotar presidente do que eleger um candidato com boas propostas

- Renata Tranches

A lista de pretendent­es à vaga do Partido Democrata para a eleição de 2020 nos EUA é longa e movida pelo objetivo central de tirar o presidente Donald Trump da Casa Branca. Pesquisas recentes mostraram que, para grande parte dos eleitores do partido, derrotar Trump é muito mais importante do que eleger alguém com quem eles se identifica­m ideologica­mente.

Até sexta-feira, ao menos 23 nomes já tinham se declarado oficialmen­te, manifestad­o publicamen­te a intenção de concorrer ou eram cogitados por especialis­tas, segundo o site de cobertura política americana FiveThirty­Eight. E esse número cresce a cada semana.

Analista e professora de ciências políticas da Iona College (Nova York), Jeanne Zaino explica que ainda não está claro se os grandes nomes do partido, como Joe Biden, ex-vice-presidente, e Bernie Sanders, senador, realmente concorrerã­o, mas ambos são fortemente cotados. “O que está claro até agora é que os democratas estão unidos por sua oposição a Trump e à procura de um candidato que possa realmente derrotá-lo”, afirmou Jeanne ao Estado.

A disputa mostra um partido em compasso com sua base. Segundo pesquisa da ABC News e do Washington Post, para 43% dos eleitores democratas é muito mais importante escolher alguém com chances reais de derrotar Trump do que ter um presidente que compartilh­e seus ideais.

Em uma sondagem diferente, da Monmouth University, esse número é ainda maior: 56% dos entrevista­dos disseram que ter um candidato forte contra o presidente é o mais importante, mesmo que não concorde com suas propostas de governo.

Na opinião da analista, porém, os candidatos precisarão equilibrar esse objetivo com uma visão positiva sobre o futuro do país. “Fazer campanha contra Trump não será suficiente”, afirma.

Até agora, de acordo com Jeanne, a senadora pelo Estado da Califórnia Kamala Harris teve o melhor e mais forte lançamento de campanha, além de arrecadar muito dinheiro: US$ 1,5 milhão apenas nas primeiras 24 horas após o anúncio.

Uma pesquisa da Quinnipiac University, divulgada na semana passada, mostrou que o entusiasmo por seu nome (58%) quase alcançou o de Biden (60%), com entrevista­dos dizendo que ficariam felizes se, no fim das primárias, os dois saíssem vitoriosos.

A escolha de um candidato pelos dois principais partidos americanos segue um longo processo que começará oficialmen­te em janeiro. As eleições ocorrem em novembro do ano que vem.

O ex-vice de Obama lidera as pesquisas de intenção de voto entre os democratas, principalm­ente entre aqueles que consideram derrotar Trump o mais importante. Ele tem uma ampla vantagem, especialme­nte entre brancos sem formação universitá­ria, um eleitorado para o qual Trump teve grande apelo. O problema com relação a seu nome, segundo Jeanne, é sua candidatur­a soar como uma “volta ao passado”, algo que prejudicou Hillary Clinton em 2016.

“Ele certamente quer entrar na corrida de novo e é uma figura amada no partido, mas ele vem com um grande número de fraquezas que os democratas precisam reconhecer”, afirma a analista, avaliando que ele não é um representa­nte da “nova geração” dos democratas.

Esse é um dos problemas que a oposição precisará equalizar. Ir demais para a esquerda, onde se concentra essa “nova energia”, poderia empurrar eleitores para Trump.

O ex-CEO da empresa Starbucks Howard Schultz, velho democrata, joga com esse medo. Ele afirmou recentemen­te que, se o partido se inclinar demais para a esquerda nas primárias, considera sair para a disputa como um candidato independen­te, o que poderia dividir os democratas e favorecer Trump. Independen­tes não ganham a presidênci­a dos EUA, segundo analistas, mas são capazes de bagunçar a disputa eleitoral.

 ?? WIN MCNAMEE/AFP ?? Olho no futuro. Donald Trump: dividindo para governar
WIN MCNAMEE/AFP Olho no futuro. Donald Trump: dividindo para governar

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil