O Estado de S. Paulo

Governo prepara pacote de obras para a Amazônia

Projetos incluem ponte sobre o Rio Amazonas, hidrelétri­ca e extensão da BR-163; ministros vão amanhã à região

- Tânia Monteiro André Borges / BRASÍLIA

Os ministros Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral), Ricardo Salles (Meio Ambiente) e Damares Alves (Direitos Humanos) vão amanhã à Amazônia avaliar investimen­tos de infraestru­tura e discutir com lideranças locais os planos do governo para o desenvolvi­mento da região. Entre os projetos do Planalto estão a construção de uma ponte sobre o Rio Amazonas na cidade de Óbidos (Pará), uma hidrelétri­ca em Oriximiná, também no Pará, e a extensão da BR-163 até a fronteira do Suriname. Os planos fazem parte de um compromiss­o de campanha de Jair Bolsonaro, de aumentar a presença do Estado no chamado “Triplo A”, área que vai dos Andes ao Atlântico, onde organismos internacio­nais defendem a criação de uma faixa de preservaçã­o ambiental. A região também é estratégic­a para os militares, que querem marcar posição contra o que chamam de “pressões globalista­s”.

O governo vai começar o seu plano de desenvolvi­mento pela região amazônica e enviará três ministros ao oeste do Pará para avaliar investimen­tos de infraestru­tura e definir grandes obras na região. A escolha não é casual. O avanço nessas áreas isoladas da floresta e na fronteira atende também a um compromiss­o de campanha do presidente Jair Bolsonaro de aumentar a presença do Estado no chamado Triplo A. Trata-se de uma área que se estende dos Andes ao Atlântico, onde organismos internacio­nais supostamen­te pretendem criar uma faixa independen­te para preservaçã­o ambiental.

A região é estratégic­a para os militares, que querem marcar posição contra o que chamam de “pressões globalista­s”. Como parte dessa estratégia, os ministros Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral da Presidênci­a), Ricardo Salles (Meio Ambiente) e Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) desembarca­m amanhã em Tiriós (PA) para discutir com líderes locais a construção de uma ponte sobre o Rio Amazonas na cidade de Óbidos, uma hidrelétri­ca em Oriximiná e a extensão da BR163 até a fronteira do Suriname.

A hidrelétri­ca teria, na avaliação do governo, o propósito de abastecer a Zona Franca de Manaus e região, reduzindo apagões. A ampliação da BR-163 – construída nos anos 70, ainda inacabada e notícia por causa de seus atoleiros – cumpriria uma meta de integração da Região Norte. Já a ponte ligaria as duas margens do Amazonas por via terrestre, ainda feita por travessia de barcos e balsas. O projeto serviria como mais um caminho para o escoamento da produção de grãos do Centro-Oeste.

Bebianno comparou as iniciativa­s à retomada do Calha Norte, projeto do governo José Sarney para fixação da presença militar na Amazônia. “A retomada do Calha Norte é fundamenta­l para o Brasil como um todo. Estamos fazendo um mapeamento da região e vamos lá olhar pessoalmen­te”, afirmou o ministro ao Estado.

O movimento coincide com ação do governo para combater a influência do chamado “clero progressis­ta” da Igreja Católica na região. O pano de fundo é a realização do Sínodo sobre Amazônia, que será organizado em outubro, em Roma, pelo Vaticano. Entre os temas que serão discutidos estão a situação dos povos indígenas e de quilombola­s e os investimen­tos na região – considerad­os “agendas de esquerda” pelo Planalto.

A última série de grandes investimen­tos na Amazônia ocorreu ainda no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com o início das obras das hidrelétri­cas de Santo Antonio e Jirau, em Rondônia, e Belo Monte, no Pará. Nos governos Dilma Rousseff e Michel Temer, os canteiros foram abandonado­s ou perderam o ritmo.

O Planalto justifica a escolha dos projetos com o argumento de que a população dos municípios da margem norte do Amazonas está abandonada e seu objetivo é implementa­r um plano de ocupação para estimular o mercado regional e definir um “marco” da política do governo de incentivo econômico.

Resistênci­as. Um auxiliar de Bolsonaro afirmou que a presença dos ministros do Meio Ambiente e dos Direitos Humanos na comitiva tem por objetivo reduzir eventuais ataques de ativistas e ambientali­stas. A área delimitada para o início do plano estratégic­o é formada por reservas ambientais e território­s de comunidade­s isoladas, como a dos índios zoés, na região de Santarém.

Para tentar quebrar resistênci­as, o governo vai incluir termos de responsabi­lidade socioambie­ntal em todas as obras e firmar compromiss­o de diálogo com as comunidade­s locais. A equipe do presidente já antevê, no entanto, reações especialme­nte de países da União Europeia, que têm ligações com as

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entidades mais influentes da área de defesa da preservaçã­o da floresta.

Militares com cargo no governo recusam a comparação com o Programa de Aceleração do Cresciment­o (PAC), lançado por Lula com obras em todo o País, especialme­nte no Norte e no Nordeste. Ainda está prevista a retomada do projeto de revitaliza­ção dos afluentes do Rio São Francisco.

A viabilidad­e dos projetos de infraestru­tura na Amazônia desenhados pelo Planalto esbarra numa série de dificuldad­es. As tentativas de se instalar uma usina no Rio Trombetas já fracassara­m em outros governos por obstáculos socioambie­ntais. O mesmo problema já compromete­u a continuida­de da BR-163. A região é de mata densa, sem estradas. Seria necessário abrir uma rodovia na floresta, região marcada por áreas protegidas.

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NA WEB Supercolun­as. Mergulhe nos links do ‘Estadão’ estadao.com.br/e/supercolun­as

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