O Estado de S. Paulo

CPI da ‘Lava Toga’ é arquivada

Três parlamenta­res retiram assinatura­s de pedido após intervençã­o de ministros do STF

- Rafael Moraes Moura Renan Truffi / BRASÍLIA

Após atuação de ministros do STF, pedido de CPI para investigar tribunais superiores foi arquivado por falta de assinatura­s – Kátia Abreu e Tasso Jereissati retiraram apoio.

Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) atuaram nos bastidores, durante o fim de semana, para que o Senado recuasse da abertura de uma Comissão Parlamenta­r de Inquérito (CPI) para investigar o “ativismo judicial” em tribunais superiores. Apelidada de “Lava Toga”, a CPI era um pedido do senador Alessandro Vieira (PPS-SE), mas foi enterrada após três senadores retirarem o apoio.

Katia Abreu (PDT-TO), Tasso Jereissati (PSDB-CE) e Eduardo Gomes (MDB-TO), que assinaram o requerimen­to num primeiro momento, desistiram antes que a comissão fosse instalada. Ontem, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), confirmou o arquivamen­to por falta de assinatura­s necessária­s – é preciso o apoio de, no mínimo, 27 dos 81 senadores para a comissão ir adiante. “O requerimen­to foi apresentad­o com número suficiente (de assinatura­s), mas não constavam no momento (da sessão de ontem)”, disse.

Corpo a corpo. O Estadão/Broadcast apurou que ministros do STF trataram do assunto diretament­e com senadores no fim de semana. Segundo Kátia, ela falou por telefone com o ministro Gilmar Mendes antes de recuar. Para a senadora, este não é o momento para abrir uma crise institucio­nal no País.

Depois do arquivamen­to, o presidente do Supremo, ministro Dias Toffoli, elogiou a postura de Alcolumbre no episódio. “O arquivamen­to pelo presidente do Senado Davi Alcolumbre mostra a habilidade em evitar conflitos entre os Poderes em um momento em que o País precisa de unidade para voltar a crescer e a se desenvolve­r”, afirmou ao Estado.

Nos bastidores, porém, integrante­s do Supremo veem as digitais do ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, nas movimentaç­ões do senador Alessandro Vieira. Para membros do STF ouvidos pela reportagem sob a condição de anonimato, a “CPI da Lava Toga” – voltada, em tese, para investigar a atuação de tribunais superiores – mirava, na verdade, a Suprema Corte.

Ao apresentar o pedido de criação da CPI, Vieira apontou o “uso abusivo de pedidos de vista ou expediente­s processuai­s para retardar ou inviabiliz­ar decisões do plenário” e a “diferença abissal do lapso de tramitação de pedidos, a depender do interessad­o” – dois pontos que dizem respeito direto ao funcioname­nto interno do Supremo.

No STF, a avaliação é a de que a conturbada eleição para a Mesa do Senado contribuiu para a coleta de assinatura­s. Na ocasião, Dias Toffoli determinou que a votação fosse secreta, contrarian­do o grupo que apoiou Alcolumbre. Para um ministro da Corte, a articulaçã­o de senadores pró-CPI foi uma “provocação açodada de sujeito que ocupa o cargo sem saber andar em tesourinha­s”, em referência às curvas no trânsito de Brasília.

As chances da CPI ser instalada, entretanto, já eram mínimas antes mesmo do recuo dos senadores. O regimento interno do Senado impede que a Casa investigue atribuiçõe­s do STF. Com base nesse artigo, a Secretaria-Geral da Mesa do Senado já poderia ter declarado o pedido improceden­te antes mesmo da retirada das assinatura­s.

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO Pauta. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), chega ao Congresso
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SENADOR (PPS-SE) ?? ‘Caixa-preta’“Alguns setores do STF configuram, sem dúvida, o que se denomina caixa-preta.”
Alessandro Vieira SENADOR (PPS-SE) ‘Caixa-preta’“Alguns setores do STF configuram, sem dúvida, o que se denomina caixa-preta.”

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