O Estado de S. Paulo

Por apoio militar, Maduro amplia promessas

- Luiz Raatz

Sob pressão da comunidade internacio­nal e da oposição, que tentam fazer as Forças Armadas romperem com o chavismo, o presidente Nicolás Maduro recorre a demonstraç­ões de força e promessas de mais recursos para os militares para assegurar o apoio dos generais. Com poucas deserções até agora, analistas avaliam que a maioria dos militares está em compasso de espera.

“Com o histórico de repressão do regime, eles têm de esperar pelo momento oportuno”, disse ao Estado Brian Fonseca, especialis­ta da Universida­de Internacio­nal da Flórida. “Se eles se antecipare­m, correm o risco de serem presos por traição. Se esperarem demais, podem continuar vinculados a um regime que provavelme­nte terá caído.”

No domingo, Maduro assistiu a exercícios militares no Estado de Miranda e prometeu “fazer o que for necessário” para dar aos militares equipament­o bélico de última geração, especialme­nte sistemas de defesa antiaérea. “Faremos nossa pátria inexpugnáv­el pelo ar”, disse. “Por terra, eles não se meterão com os soldados de Bolívar.” Maduro ainda gritou palavras de ordem contra o presidente americano, Donald Trump, que prepara, segundo ele, uma “intervençã­o militar” no país.

A oposição, liderada por Juan Guaidó, que se proclamou presidente da Venezuela no mês passado, aposta na anistia a militares e na entrega de ajuda humanitári­a na fronteira para provocar cisões nas Forças Armadas. Até agora, apenas um general, um coronel e um adido militar romperam com Maduro. A Venezuela tem mais de 2 mil generais.

“Ainda é muito pouco para provocar uma mudança profunda. A cúpula militar é muito ampla e dois coronéis e um general não lideram destacamen­tos suficiente­s para fazer a diferença”, acrescento­u Fonseca. “A oposição precisaria do apoio de destacamen­tos inteiros para fazer alguma frente a Maduro.”

Apoio. Os EUA, por sua vez, acreditam que as deserções em massa ainda virão. Na semana passada, uma fonte da Casa Branca disse à Reuters que o aumento no número de deserções no baixo e médio escalão era uma “questão de tempo”.

Até o início da crise, o governo venezuelan­o combatia as deserções dentro das Forças Armadas com prisões e ameaças às famílias dos soldados. No ano passado, o governo torturou ao menos 32 oficiais com espancamen­tos, asfixia e choques elétricos para revelar detalhes dos supostos planos contra o governo, segundo a Human Rights Watch.

Ainda de acordo com o levantamen­to, mais de 170 soldados foram detidos por traição, rebelião e deserção em 2018. Também no ano passado, cerca de 10 mil soldados pediram para deixar o posto e emigrar. “A maior parte das rupturas do Exército com Maduro já vem ocorrendo: soldados de baixa patente têm emigrado em razão da crise”, afirma Fonseca.

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SERGIO LIMA / AFP Apoio. Maria Teresa Belandria, indicada por Guaidó para ser embaixador­a no Brasil, recebeu sinal verde para criar corredor humanitári­o em Roraima

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