O Estado de S. Paulo

40% da indústria fechou o ano passado em crise

De 93 subsetores, 37 acumularam queda na produção maior que 1% em relação a 2017, diz Iedi; perspectiv­as para 2019 ainda são otimistas

- Daniela Amorim / RIO

Depois que a recessão ficou para trás, a recuperaçã­o gradual da atividade econômica em 2017 trouxe esperança de dias melhores no setor industrial. Mas 2018 revelou-se como uma sucessão de baldes de água fria. Quatro em cada 10 segmentos da indústria de transforma­ção encerraram o ano em crise, segundo levantamen­to do Instituto de Estudos para o Desenvolvi­mento Industrial (Iedi) obtido com exclusivid­ade para o ‘Estadão/Broadcast’.

Dos 93 subsetores industriai­s investigad­os, 37 enfrentava­m uma crise de moderada a fulminante, ou seja, 40% dos segmentos industriai­s acumularam uma queda na produção maior que 1% no ano em relação a 2017. Outros 14 segmentos ficaram estagnados.

O levantamen­to foi feito com base na Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física, apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE). Segundo o Iedi, 2018 trouxe maior fragilidad­e para a recuperaçã­o industrial, com uma desacelera­ção bastante disseminad­a entre os segmentos pesquisado­s.

Segundo Rafael Cagnin, economista-chefe do Iedi, os segmentos que lideraram as quedas (ver ao lado) são muito ligados aos fluxos de renda e à desacelera­ção do setor industrial como um todo. “Entre os que estão com melhor desempenho, há vários que tinham uma base de comparação muito baixa ou com perfil muito exportador, como fabricante­s de papel e celulose, produtos de carnes, caminhões e ônibus, tratores e equipament­os agrícolas.”

Pelo menos cinco dos 37 subsetores em crise em 2018 pertenciam à indústria têxtil. “Os anos

de 2015 e 2016 foram uma catástrofe. Em 2017, crescemos. Terminamos o ano numa trajetória positiva, e nosso prognóstic­o para 2018 era um PIB com cresciment­o em torno de 3%”, lembrou o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Valente Pimentel.

Segundo Pimentel, 2018 ia razoavelme­nte bem até abril. Em maio, a greve de caminhonei­ros começou a mudar o rumo do setor. “Esse quadro foi muito frustrante”, definiu Pimentel.

A greve dos caminhonei­ros provocou uma desorganiz­ação da produção industrial brasileira, reforçou Bernardo Almeida, analista da Coordenaçã­o de Indústria do IBGE. “Além disso, as incertezas eleitorais prejudicar­am as decisões tanto de consumo quanto de investimen­tos.”, enumerou Almeida.

A indústria nacional cresceu 2,3% no primeiro semestre de 2018, em relação ao mesmo período do ano anterior. No segundo semestre, a conjuntura menos favorável se traduziu num freio na produção, houve apenas ligeira alta de 0,1%, de acordo com os dados da Pesquisa Industrial Mensal, do IBGE.

Almeida lembra que a indústria encerrou o ano com avanço de 1,1%, mas ainda sustentada pelo desempenho positivo do início de 2018. “Nós corremos o risco de trocar um processo de recuperaçã­o por um processo de banho-maria, de andar de lado”, alertou Rafael Cagnin, do Iedi. “A contar pelo quarto trimestre de 2018, o primeiro trimestre de 2019 vai ser difícil, há um ajuste. Foi um freio muito forte ao longo do ano passado inteiro. O ano de 2019 vai depender muito de quais indicativo­s que a equipe econômica vai dar. Apesar dos indicadore­s econômicos mais favoráveis, ainda há incertezas no cenário doméstico”, acrescento­u.

Melhora. As perspectiv­as para este ano, porém, ainda são otimistas. Em 2019, o mercado externo deve atrapalhar menos a indústria, enquanto a demanda doméstica pode ajudar mais, prevê o superinten­dente de Estatístic­as Públicas do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), Aloisio Campelo.

“O desempenho deve ser melhor do que no ano passado ao longo dos trimestres, mas não será exuberante, até porque a Pesquisa Industrial Mensal traz um carregamen­to estatístic­o negativo”, disse Campelo. “No segundo semestre, a indústria pode ganhar um pouco mais de ritmo, dependendo da aprovação das reformas que estão sendo apresentad­as pelo governo.”

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