O Estado de S. Paulo

‘ESTABILIZA­MOS, MAS SEM CRESCER EM 2017 E 2018’

Empresário do setor têxtil em Sorocaba, João Guariglia ainda se recupera da crise de 2014

- JOSÉ MARIA TOMAZELA

Uma das mais tradiciona­is confecções de Sorocaba, no interior de São Paulo, a Rota Uniformes está desde 2014 com quase a metade de suas máquinas paradas. “Naquele ano, quando as vendas começaram a despencar, estávamos com 93 funcionári­os. Hoje, temos 47 e só conseguimo­s sobreviver porque demitimos no momento certo. Se a gente esperasse mais, talvez não tivesse como pagar os encargos trabalhist­as”, diz o empresário João Francisco Guariglia.

O dono da Rota conta que a expectativ­a era de que a retomada fosse mais rápida, mas a crise se prolongou. “Em 2017, havia expectativ­a de melhora, mas no setor de confecções ela não ocorreu. Depois de atingir o fundo do poço em 2016, conseguimo­s estabiliza­r, mas não houve cresciment­o em 2017 nem no ano passado.” A queda nas vendas das confecções reduziu a produção e atingiu também as indústrias de tecidos. “Apenas as grandes indústrias têxteis sobreviver­am à duras penas”, diz.

Este ano, a Rota espera crescer 5% em produção e vendas. “É uma meta que temos de alcançar para manter o quadro de funcionári­os e a saúde da empresa. Estamos vivos, mas na UTI. Para voltar ao quarto ainda leva um tempo.” A empresa produz em média 15 mil peças por mês, volume que, no pico da produção, em 2014, era de 25 mil peças. Do total, 40% são uniformes escolares e 60% são vestimenta­s profission­ais.

A Rota trabalha só com tecidos nacionais, em razão da melhor qualidade, segundo Guariglia. Muitos uniformes têm o selo antipillin­g (bolinhas) e proteção contra raios ultraviole­tas.

O empresário afirma que um lance de sorte, em 2014, ajudou a empresa a sobreviver. “Numa feira, em Santa Catarina, encontrei uma máquina de corte e enfestadei­ra automática de R$ 1,1 milhão. Estava quase pegando dinheiro a juros bancários, quando vi uma linha de crédito no BNDES. Foi sacramenta­r o negócio e, dias depois, a linha foi suspensa. Quem financiou em banco não aguentou”.

Segundo o empresário, se houver retomada rápida, vai faltar mão de obra. “Preciso de costureira e não acho. Como a crise foi longa, quem saiu foi para outra atividade. Procurei um mecânico que trabalhou com a gente, mas agora ele faz transporte escolar. Começou com uma van e está com três, não tem como voltar para o setor.”

A tradição da família Guariglia em confecção começou há 60 anos, quando a mãe de João começou a bordar enxovais para recém-nascidos. Logo ela e o marido montaram uma pequena loja, no centro de Sorocaba, que se transformo­u na Cirandinha, com foco na confecção de enxovais para batizados. Em 1986, João e seu irmão, ambos engenheiro­s, começaram a produzir uniformes profission­ais. Em 2000, ele deixou a sociedade para fundar a Rota, a maior do segmento na região. “Passamos por muitas situações difíceis, mas nenhuma crise foi tão séria quando esta”. /

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EPITACIO PESSOA/ESTADAO Realidade. Metade das máquinas da fábrica de João Francisco Guariglia está parada

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