O Estado de S. Paulo

Sindicato briga por contribuiç­ão de inativo

Associaçõe­s se articulam para manter ‘imposto sindical’ de aposentado­s; governo incluiu em MP dispositiv­o que dificulta repasse a entidades

- Idiana Tomazelli / BRASÍLIA

Associaçõe­s que representa­m os aposentado­s prometem trabalhar para derrubar no Congresso Nacional a tentativa do governo federal de dificultar o repasse de mensalidad­es aos sindicatos. Esses valores são descontado­s diretament­e dos benefícios e, só em dezembro de 2018, irrigaram os cofres dessas entidades com R$ 59,2 milhões, de acordo com o INSS. A transferên­cia, que funciona como uma espécie de “imposto sindical” cobrado dos inativos, é um dos canais de fraudes já identifica­dos pelos técnicos da área econômica.

Ao todo, 2,75 milhões de beneficiár­ios tiveram o benefício descontado em dezembro por meio de 18 acordos vigentes com as entidades de classe. Consideran­do esse valor, o repasse total chega a R$ 710 milhões ao ano. O governo do ex-presidente Michel Temer já tinha acabado com o imposto sindical obrigatóri­o às centrais na reforma trabalhist­a, que entrou em vigor em novembro de 2017.

A Medida Provisória 871, que trouxe uma série de medidas antifraude no âmbito do INSS, passou a exigir dos aposentado­s renovação anual da autorizaçã­o para o desconto, que pode chegar a 2% do valor do benefício. A iniciativa despertou reação das entidades, que na semana passada estiveram com o secretário especial de Previdênci­a e Trabalho, Rogério Marinho, para tentar reverter a medida.

Muitas vezes os aposentado­s assinam a autorizaçã­o para o desconto da mensalidad­e para essas entidades sem perceber – o valor chega a ser embutido em consignado­s – ou nem sabem que estão efetuando esse pagamento. Uma vez autorizado, o repasse é feito de forma permanente até que haja o pedido de cancelamen­to. O controle é dificultad­o porque os aposentado­s não recebem contracheq­ue, que fica disponível só online.

Denúncias. Como mostrou o Estadão/Broadcast em janeiro, o Conselho Nacional de Previdênci­a Social (CNPS) decidiu em setembro de 2018 notificar o Ministério Público Federal e a Polícia Federal sobre denúncias de irregulari­dades envolvendo associaçõe­s de aposentado­s. Essa notificaçã­o foi emitida em novembro de 2018.

O secretário-geral da Confederaç­ão Brasileira de Aposentado­s, Pensionist­as e Idosos (Cobap), Luiz Legnani, afirma que a exigência da renovação anual pode compromete­r a prestação de serviços das entidades ligadas à confederaç­ão. “Nossos associados contribuem com 1% (do benefício), mas têm médicos gratuitos, parceria com laboratóri­os, clínicas que dão descontos em consultas e exames. É uma maldade querer obrigar os associados a ir à entidade e renovar seu desconto em folha.”

Para ele, mesmo que as entidades façam campanha pela renovação, muitos vão desistir de ir até a associação para dar nova autorizaçã­o. Segundo Legnani, a medida pode ser “um baque” nas contas dessas associaçõe­s. A Cobap tem mais de um milhão de associados, 220 mil deles com desconto em folha. Eles já têm buscado lideranças no Congresso para tentar reverter a medida – o texto da MP precisa passar pela comissão mista e pelos plenários da Câmara e do Senado.

O presidente do Sindicato Nacional dos Aposentado­s da Força Sindical, João Inocentini, afirma que o desconto é voluntário e que os segurados podem se desfiliar a qualquer momento. “É a maior sacanagem o que o governo está fazendo. É como se todo ano o segurado tivesse de ficar sócio de um clube”, critica. “Temos 150 funcionári­os, fazemos uma prestação de serviços.”

Fiscalizaç­ão. O INSS informou que realiza fiscalizaç­ões periódicas nas entidades conveniada­s para comprovar a existência e a regularida­de das autorizaçõ­es. “Comprovada a inexistênc­ia de autorizaçã­o do desconto por parte do aposentado ou pensionist­a, o INSS promoverá a exclusão da base de filiados dessa entidade e restituirá os valores ao beneficiár­io, devidament­e corrigidos, com explicação sobre os montantes recebidos pela entidade que firmou o acordo”, diz o órgão.

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:DIDA SAMPAIO/ESTADÃO - 5/2/2019 Reunião. Na semana passada, entidades estiveram com Marinho, secretário de Previdênci­a

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