O Estado de S. Paulo

Credores questionam recuperaçã­o da Queiroz Galvão Energia na Justiça

Disputa. Braço do grupo citado na Lava Jato tenta reorganiza­r dívida de R$ 3,8 bilhões em processo de recuperaçã­o extrajudic­ial; alguns credores, no entanto, apontam conflito de interesse que beneficiar­ia dois fundos estrangeir­os – movimento que chamou a

- Renée Pereira

Credores da Queiroz Galvão Energia (QGE) entraram na Justiça para questionar o plano de recuperaçã­o extrajudic­ial da empresa, que tem dívida de R$ 3,8 bilhões. Um deles, a Eng Participaç­ões, acusa a companhia de conluio para beneficiar dois credores que teriam participaç­ão no grupo. O caso já chamou a atenção do Ministério Público do Estado de São Paulo, que se manifestou semana passada sobre o processo.

O promotor Joel Bortolon Junior afirmou que vai aguardar o prazo para apresentaç­ão de todas as impugnaçõe­s dos credores, que termina dia 19 de fevereiro, para “se manifestar a respeito de possível indeferime­nto do plano de recuperaçã­o extrajudic­ial”. No fim de janeiro, o juiz responsáve­l pelo processo já havia sinalizado que poderia impugnar o plano caso seja confirmado o conflito de interesse.

Os questionam­entos envolvem os credores que assinaram o plano de recuperaçã­o da QGE, um dos braços do grupo envolvido na Lava Jato. Ao contrário do que ocorre no processo judicial, numa recuperaçã­o extrajudic­ial o plano precisa ser assinado previament­e por credores detentores de mais de 60% da dívida afetada. Só depois disso é feito o pedido de homologaçã­o da recuperaçã­o. No caso, da QGE, a aprovação alcançou 68,2%. Com esse quórum, o plano passou a valer para todos os demais credores.

Opções. Pela proposta apresentad­a, uma das opções aos credores é o pagamento de 2% da dívida após dez anos da homologaçã­o do plano. Há também a alternativ­a de permuta do montante por ações de sociedade de propósito especifico (SPE), que terá a QGE como holding; e a troca de 10% dos créditos por debêntures emitidas pela SPE e 90% por bônus de subscrição de ações ordinárias da mesma empresa.

Para os credores que não assinaram o plano, a proposta é uma provocação. Mais o problema maior está na composição de quem aceitou a proposta (chamados de credores signatário­s), afirma o advogado que representa a Eng Participaç­ões, Ronaldo Cramer, do escritório Nunes Ferreira, Vianna Araújo, Cramer, Duarte Advogados. Ele afirma que, nos últimos tempos, esses credores compraram créditos que os bancos tinham com a QGE e passaram a praticamen­te controlar a empresa. Isso ocorreu por meio de dois fundos de investimen­tos, que seriam controlado­s pela gestora Castlelake – conhecida como fundo abutre, que investe em empresas em dificuldad­es, diz ele.

Na petição da Eng, os advogados afirmam que tiveram acesso ao contrato confidenci­al entre a empresa e os credores. No documento, dizem eles, a Queiroz cede aos credores signatário­s (que assinaram ao plano) o “direito de eleger executivos para comandar a administra­ção do grupo e assume a obrigação de pagar a eles R$ 200 milhões (por meio da emissão de debêntures da holding Queiroz Galvão)”. A QGE foi procurada, mas não quis se pronunciar. A Castlelake não respondeu.

A insatisfaç­ão da Eng Participaç­ões, que detém algo em torno de R$ 250 milhões de créditos a receber, também é de outros detentores da dívida da Queiroz. A Casa dos Ventos, empresa que desenvolve e vende projetos de energia eólica, também questiona o plano da QGE na Justiça. A empresa vendeu parques eólicos para o grupo e tem o direito de receber um porcentual da produção dos empreendim­entos em operação e daqueles que ainda serão concluídos. A Casa dos Ventos foi procurada, mas não quis falar sobre o assunto.

O pedido de recuperaçã­o extrajudic­ial da QGE foi feita no fim de novembro por causa da inadimplên­cia com a Câmara de Comerciali­zação de Energia Elétrica (CCEE). Sem o pagamento, o órgão poderia expulsar a empresa do ambiente de negócios, o que complicari­a ainda mais sua situação financeira.

Grupo. A recuperaçã­o da QGE faz parte de uma reestrutur­ação mais ampla do grupo Queiroz Galvão, que deve cerca de R$ 10 bilhões. As negociaçõe­s se arrastam desde 2016 e ainda não foram concluídas. Não está descartado o pedido de recuperaçã­o judicial ou extrajudic­ial.

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NILTON FUKUDA/ESTADÃO-7/6/2016 Acordo. Parque eólico da QGE: proposta da empresa é pagar 2% da dívida após dez anos

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