O Estado de S. Paulo

Marcola e mais 21 do PCC vão para prisões federais

Segurança. Apontados como integrante­s do primeiro e do segundo escalão da facção criminosa, presos foram para Mossoró (RN), Brasília e Porto Velho; as transferên­cias têm o prazo de 360 dias, prorrogáve­is, e nos primeiros 60 dias se prevê isolamento total

- Marcelo Godoy Bruno Ribeiro / COLABORARA­M GILBERTO AMENDOLA e JULIANA DIÓGENES

Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, principal líder do PCC, e mais 21 homens da facção foram transferid­os ontem do interior de São Paulo para presídios federais em Mossoró, Brasília e Porto Velho. O pedido de transferên­cia foi feito pelo Ministério Público, no fim de 2018, depois que um plano de resgate foi descoberto. Mais de 100 mil policiais foram colocados em alerta em todo o Estado. Também ontem, o ministro da Justiça, Sérgio Moro, tornou mais rígidas as regras para visitas a presos nas cadeias federais.

O governo de São Paulo enviou na manhã de ontem o principal líder do Primeiro Comando da Capital (PCC), Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, e outros 21 membros da cúpula da facção criminosa da penitenciá­ria de Presidente Venceslau (SP) aos presídios federais de Mossoró (RN), Brasília e Porto Velho. À tarde, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, editou portaria que torna mais rígidas as regras para as visitas sociais aos presos nas cadeias – nas de segurança máxima, só será permitido o uso de parlatório ou videoconfe­rência.

Sete integrante­s do PCC foram transferid­os porque haviam sido alvo da Operação Echelon, do Ministério Público Estadual (MPE) e Polícia Civil, em 2018, que mirou o “departamen­to” da facção responsáve­l por coordenar a atuação do grupo fora de São Paulo, o chamado Resumo dos Estados, subordinad­o diretament­e à cúpula. Outros 15 fazem parte da sintonia geral final da facção, ou seja, primeiro e segundo escalões.

As transferên­cias têm prazo de 360 dias, segundo o secretário da Administra­ção Penitenciá­ria de São Paulo, Nivaldo Restivo. Mas o prazo pode ser estendido. Os primeiros 60 dias são de isolamento total. Desde novembro, após ser descoberto um plano para resgatar os criminosos, havia expectativ­a de transferên­cia.

Em São Paulo, a polícia bloqueou estradas e usou até um caminhão dos bombeiros na operação, além de colocar mais de 100 mil policiais em alerta no Estado. Em mais de cem unidades prisionais paulistas há presença do PCC, e todos os presídios estaduais estão passando por blitze simultânea­s para evitar tumultos. O comando da PM alertou a corporação e avisou agentes de folga e da reserva para redobrarem cuidados.

Já o governo federal soltou um decreto específico sobre Mossoró (RN) e Porto Velho, para garantir a segurança das cadeias. “Fica autorizado o emprego das Forças Armadas para a Garantia da Lei e da Ordem, no período de 13 a 27 de fevereiro, para a proteção do perímetro de segurança das penitenciá­rias federais em Mossoró e Porto Velho, em um raio de dez quilômetro­s”, diz o texto, assinado pelo presidente Jair Bolsonaro.

Histórico. Os criminosos foram transferid­os por decisão do juiz Paulo Eduardo de Almeida Sorci, corregedor dos presídios, a pedido do promotor Lincoln Gakiya, do Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado, de Presidente Prudente. “Essa é a maior operação já feita. Esperamos desarticul­ar momentanea­mente a cúpula”, afirmou Gakiya.

O pedido, de 28 de novembro de 2018, solicitava a “transferên­cia imediata em caráter excepciona­l de 15 presos, entre eles Marcola”. Em outubro, informaçõe­s de autoridade­s prisionais apontavam para um plano de resgate a cargo de Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho, que envolveria aviões, forte apoio bélico e até auxílio de homens treinados na Bolívia.

A decisão pela transferên­cia só foi dada por Paulo Sorci no dia 9 deste mês. O magistrado alegou que a divulgação pela mídia da solicitaçã­o de transferên­cia do MPE, no início de dezembro, frustrou o elemento surpresa necessário para a transferên­cia. Segundo ele, a proximidad­e da saída temporária de 33 mil detentos para as festas de fim de ano “poderia facilitar que tais presos soltos acabassem arregiment­ados pelo crime organizado em reação contra as forças policiais”.

À imprensa, o governador João Doria (PSDB) disse pela manhã que a operação vinha sendo planejada “desde antes da sua posse” com participaç­ão do governo federal. Ele citou o Exército, a Força Aérea, a Polícia Federal e a Agência Brasileira de Inteligênc­ia (Abin), além dos órgãos estaduais. Questionad­o sobre risco de represália­s por parte da facção, afirmou que “todas as ações preventiva­s foram adotadas”.

Ele foi questionad­o também sobre a necessidad­e de transferên­cia de detentos, uma vez que São Paulo também tem locais adaptados, com cárcere mais rígido – no Regime Disciplina­r Diferencia­do (RDD). E sobre o fato de gestões anteriores não terem adotado essa prática, mesmo durante os ataques do PCC, em 2006. Doria disse apenas que “mudou o comando” do Estado. “O governador agora estabelece­u a segurança pública como prioridade.”

O Estado apurou que o plano inicial era esperar a alta do presidente Bolsonaro, pois se temiam possíveis reações da facção em São Paulo, o que não aconteceu. A decisão sobre a transferên­cia foi tomada pelo secretário Restivo.

Marcola é o último grande líder de facção criminosa do País a ir para a rede de presídios federais. Já estão nessas unidades seus rivais das facções Comando Vermelho e da Família do Norte e aliados do Terceiro Comando Puro. O total de penas impostas a Marcola já ultrapassa 330 anos, 6 meses e 24 dias.

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INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO

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