O Estado de S. Paulo

Governo quer ter maior controle sobre Sistema S

Proposta é que lei garanta ao Executivo poderes para direcionar oferta de cursos e aplicação do orçamento de entidades como Senai e Senac

- Lorenna Rodrigues Idiana Tomazelli / BRASÍLIA

A equipe econômica estuda projeto de lei para estabelece­r metas e controlar o repasse a entidades do Sistema S – calculado em R$ 17 bilhões. A ideia é determinar quais treinament­os serão oferecidos por entidades como Sesi e Senai.

Após prometer “meter a faca” nos recursos do Sistema S, o governo prepara mudanças para ter mais controle sobre como o orçamento dessas entidades é aplicado em atividades de qualificaç­ão de trabalhado­res. A equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, quer ter poder para determinar onde e quais treinament­os serão oferecidos por entidades como Sesi, Senai e Senac.

O conjunto de entidades recebe cerca de R$ 17 bilhões por ano recolhidos em tributos sobre a folha de pagamento. A ideia é enviar um projeto de lei ao Congresso para estabelece­r que o dinheiro só será repassado mediante a assinatura de contratos de gestão, que terão objetivos e metas a serem alcançados.

Prevendo a dificuldad­e de aprovação da mudança e com a reforma da Previdênci­a como prioridade, a reformulaç­ão das vagas será, em um primeiro momento, negociada com o Sistema S para atender de forma mais eficiente a demanda dos empregador­es em cada região. A intenção do governo é lançar até o fim do primeiro semestre alguns pilotos do que será o novo plano nacional de qualificaç­ão de mão de obra, que terá a efetividad­e acompanhad­a de perto por meio dos índices de empregabil­idade dos trabalhado­res treinados.

Sem dinheiro em caixa para fazer novos investimen­tos em qualificaç­ão, o governo vai aproveitar as vagas que o Sistema S tem de oferecer gratuitame­nte para colocar seu plano em operação. Hoje essas gratuidade­s correspond­em a 66% do orçamento destinado para treinament­o, mas são as entidades que escolhem quais cursos serão oferecidos em cada região.

Agora, a ideia é que os cursos serão escolhidos de acordo com o perfil de trabalhado­r que o empregador precisa. Isso evita, segundo uma fonte do governo, que um curso sobre confecção de calçados seja oferecido num Estado onde não há indústria calçadista ou treinament­o para qualificaç­ão de padeiros em cidades com uma padaria – exemplos reais identifica­dos pela equipe.

Necessidad­es. O governo já trabalha no desenvolvi­mento de sistema para captar em bancos de dados oficiais, sites da internet e informaçõe­s das próprias empresas quais seriam as principais necessidad­es dos empregador­es na hora de contratar e para aumentar a produtivid­ade de seus funcionári­os. Com os resultados dessa automação, o governo vai demandar que tipo de vaga quer e em que local quer para seu programa, invertendo a lógica atual pela qual são as entidades do Sistema S que oferecem ao governo vagas em cursos já existentes.

Após esse processo, a intenção é medir a eficiência dos cursos pelo número de pessoas que conseguem emprego depois. Treinament­os que não resultarem em contrataçõ­es serão extintos. Também está em estudo acabar com a exigência de uma carga horária mínima, pois esse piso pode engessar a oferta de vagas, segundo a fonte. A avaliação é que há setores que podem se beneficiar de treinament­os mais curtos, o que é vedado hoje, e que isso permite treinar um número maior de pessoas com o mesmo volume de recursos.

A avaliação da eficácia dos pilotos servirá para saber se as medidas vão na direção certa ou se é preciso adaptar os cursos antes de nacionaliz­ar o plano. Esse cuidado será adotado para evitar o mesmo erro de experiênci­as anteriores, como ocorreu com o Pronatec. O programa de treinament­o que foi um dos carros-chefes do governo Dilma Rousseff recebeu recursos bilionário­s, mas fracassou na tarefa de posicionar os trabalhado­res no mercado. Uma auditoria da Controlado­ria-Geral da União (CGU) mostrou que outras três iniciativa­s bancadas pelo extinto Ministério do Trabalho entre 2003 e 2017, ao custo de R$ 1,75 bilhão, empregaram apenas 10% dos beneficiad­os.

Orçamento. Na segunda etapa, o governo pretende enviar ao Congresso Nacional um projeto de lei para permitir a assinatura de contratos de gestão com as entidades do Sistema S. Hoje, o governo apenas faz o repasse de recursos para as entidades – esse dinheiro vem de contribuiç­ões das empresas sobre os salários de seus funcionári­os – e aprova quase que automatica­mente o orçamento apresentad­o por elas.

Segundo a fonte ouvida pelo Estadão/Broadcast, o uso da estrutura do Sistema S não inviabiliz­a o plano da equipe econômica de reduzir os repasses para essas entidades, já que a ideia é tornar a aplicação dos recursos mais eficiente. Ainda na transição, o ministro da Economia disse que pretendia “meter a faca no Sistema S”. Governos anteriores já tentaram diminuir essas transferên­cias ou até mesmo redirecion­ar o uso dos recursos, sem sucesso, e o Tribunal de Contas da União (TCU) já apontou, em auditoria preliminar, inconsistê­ncias nas contas das entidades.

Procuradas, a Confederaç­ão Nacional da Indústria (CNI) e a Confederaç­ão Nacional do Comércio (CNC) não se pronunciar­am.

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SÉRGIO AMARAL/CNI - 1/7/2011 Orçamento. No ano passado, Sesc recebeu R$ 5 bi; Sistema S como um todo levou R$ 17 bi

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