O Estado de S. Paulo

Vera Magalhães

Vai sobrar para os generais

- Vera Magalhães

Bolsonaro promoveu a fritura de um ministro que começou pelas redes sociais, evoluiu para a TV e colocou até Moro no olho do furacão. Caberá aos generais contornar a bagunça.

Com 44 dias de mandato, dos quais 15 passou internado, Jair Bolsonaro promoveu ontem um processo de fritura de um ministro que começou pelas redes sociais e tendo o filho como instrument­o, evoluiu para uma entrevista à TV e colocou até Sérgio Moro no olho do furacão de uma crise política que preocupa os militares e não se sabe que extensão terá.

Gustavo Bebianno praticamen­te foi demitido no ar por Bolsonaro, depois de um dia inteiro sob óleo quente no qual foi colocado primeiro por Carlos Bolsonaro e, depois, pelo pai em pessoa.

Embora pouco seja visto nesta função, “Carluxo” tem mandato de vereador no Rio. Mesmo não tendo cargo na gestão do pai, é um de seus principais protagonis­tas. Chamou de mentiroso pelo Twitter o secretário-geral da Presidênci­a, Gustavo Bebianno. Para corroborar sua tese, divulgou na mesma rede o áudio de uma conversa privativa de Bolsonaro com o auxiliar.

A indisposiç­ão de Carlos com Bebianno remonta à campanha. Por pouco ele ficou sem ministério, mas a gratidão do então presidente eleito ao advogado, que comandou o PSL na campanha, superou a birra do filho. Agora, a suspeita de que mais de uma seção estadual do partido usou laranjas para destinar recursos do Fundo Partidário foi o pretexto para “Carluxo” voltar à carga, sob os auspícios do pai.

Caberá aos generais tentar contornar a bagunça. A área de inteligênc­ia do governo considera precedente gravíssimo o vazamento de conversas privativas do presidente. Também não aprova a interferên­cia da família na gestão. Ao autorizar a impostura do filho e endossá-la, Bolsonaro mostra que não entende a dimensão republican­a do cargo que ocupa. Mais digno seria demitir o ministro de uma vez.

Bebianno, aliás, disse que não pedirá demissão pois não fez nada de errado no caso do laranjal do PSL. O risco político de se fritar um aliado que sabe muito é que, ao cair, ele pode decidir não sair pela porta dos fundos do palácio. E então estará armada uma crise cujos desdobrame­ntos podem implodir o partido do presidente e dificultar a aprovação da reforma da Previdênci­a. Não custa lembrar que ela estava prestes a ser aprovada no governo Michel Temer quando veio o caso JBS e implodiu tudo.

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