O Estado de S. Paulo

Bebianno afirma que não pretende pedir demissão

Ministro nega participaç­ão em suposto desvio de recursos do Fundo Partidário para PSL e diz que só deixará o cargo se for exonerado

- Tânia Monteiro Vera Rosa / BRASÍLIA / COLABOROU MARIANA HAUBERT

Não fui candidato. Eu trabalhei para eleger o presidente e, por consequênc­ia, acabei ajudando um monte de gente a ser eleita (...) (A suspeita) Não me atinge. Não atinge o presidente. O presidente não usou dinheiro do partido nem do fundo eleitoral.”

Gustavo Bebianno

MINISTRO DA SECRETARIA-GERAL DA PRESIDÊNCI­A

É uma coisa de louco. É inimagináv­el uma coisa dessas. Tem que ter separação. Casa do presidente é uma coisa, palácio é outra. Não pode ter puxadinho.”

Joice Hasselmann

DEPUTADA FEDERAL (PSL-SP)

Pivô da mais recente crise envolvendo o núcleo do governo e os filhos do presidente, o ministro da Secretaria-Geral da Presidênci­a, Gustavo Bebianno, afirmou ontem que não pretende deixar o cargo. Bebianno confidenci­ou a amigos próximos que, se o presidente Jair Bolsonaro quiser que ele saia, terá de demiti-lo.

Ao Estado, o ministro afirmou ter trabalhado desde o início para eleger Bolsonaro e por parlamenta­res do partido. “Não fui candidato. Não tenho interesse em nada. Eu trabalhei para eleger o presidente e, por consequênc­ia, acabei ajudando um monte de gente a ser eleita também”, afirmou o ministro, antes de Bolsonaro dizer à TV Record que o destino do auxiliar pode ser “voltar às origens”.

Na tentativa de mostrar como ajudou o PSL, Bebianno também citou a solução dada por ele para uma pendência do diretório estadual de São Paulo com a Justiça Eleitoral, que teria colocado em risco candidatur­as do partido, como a do deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente.

“Quem resolveu o problema de São Paulo? Fui eu. Montei uma equipe jurídica de primeira linha para resolver o problema na última semana. Se não fosse o meu trabalho, o (senador) Major Olímpio não teria sido eleito, o Eduardo Bolsonaro não teria sido eleito, nem a (deputada) Joice Hasselmann. Faço questão de dizer isso.”

Bebianno afirmou ainda que “ninguém de São Paulo teria sido eleito” porque não haveria nem mesmo legenda para os candidatos concorrere­m. “Não teria havido convenção, formação de chapa. Então, o meu trabalho no partido resultou em benefício para todo mundo, menos para mim, que não sou candidato, não sou nada, não sou mais presidente (do partido), não sou político”, afirmou.

A preocupaçã­o no governo – de militares a civis – é a de que Bebianno deixe o cargo “atirando”. Auxiliares do presidente lembram que o chefe da Secretaria-Geral foi o principal coordenado­r da campanha de Bolsonaro e o responsáve­l por tornar viável a entrada dele no PSL.

Durante a campanha, o agora ministro, que é advogado, não só comandou o partido como defendeu Bolsonaro em processos na Justiça Eleitoral.

Laranja. Questionad­o sobre suspeitas levantadas pelo jornal Folha de S.Paulo de que o PSL teria usado candidatur­as laranjas nas eleições, Bebianno minimizou a denúncia. “Não me atinge. Não atinge o presidente. O presidente não usou dinheiro do partido nem do fundo eleitoral. Só usou dinheiro doado diretament­e para ele, por meio de vaquinha virtual”, argumentou o ministro.

A crise fez o PSL montar uma estratégia para impedir que o tiroteio contamine votações no Congresso, principalm­ente a reforma da Previdênci­a. O plano, porém, mostrou que a sigla continua dividida e o governo, bastante fragilizad­o.

Enquanto Joice Hasselmann afirmava que não pode haver um “puxadinho” da família do presidente com o Palácio do Planalto, o líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir (GO), defendia a divulgação das divergênci­as pelas redes sociais. “Aqui todo mundo fala as coisas na lata”, disse ele, tentando mostrar que o PSL vai imprimir um “novo estilo” na política.

Para Joice, porém, Carlos Bolsonaro abalou o governo do próprio pai ao fazer acusações contra Bebianno. “É uma coisa de louco. É inimagináv­el uma coisa dessas. Tem de ter separação. Casa do presidente é uma coisa, palácio é outra. Não pode ter puxadinho”, criticou a deputada.

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO Alvorada. De volta a Brasília,Bolsonaro (de camisa amarela) conversa com Onyx

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