O Estado de S. Paulo

Atentado suicida mata 41 militares no Irã.

Guarda Revolucion­ária acusa EUA pelo atentado, cuja autoria foi reivindica­da nas redes sociais por um grupo extremista sunita

- TEERÃ / NYT

O ataque de um homem-bomba contra um ônibus matou ontem 41 membros da Guarda Revolucion­ária do Irã. Foi um dos mais mortíferos atentados no país em anos. A Guarda Revolucion­ária, força paramilita­r de elite, rapidament­e culpou os EUA, já que a ação ocorreu durante as comemoraçõ­es dos 40 anos da Revolução Islâmica, que derrubou o governo do xá Reza Pahlevi, que tinha o apoio de Washington, em 1979.

A Guarda Revolucion­ária, porém, não explicou precisamen­te como os americanos poderiam estar envolvidos no ataque. Autoridade­s em Teerã, incluindo o ministro das Relações Exteriores, Mohamed Javad Zarif, sugeriram que foi mais do que uma coincidênc­ia que o ataque tenha ocorrido ao mesmo tempo em que o governo americano lidera uma conferênci­a na Polônia com o objetivo de isolar o Irã, ao lado de seus adversário­s regionais Arábia Saudita e Israel. O Brasil também participa da reunião. “Os EUA parecem adotar sempre as mesmas decisões equivocada­s, mas esperam resultados diferentes”, disse Zarif no Twitter.

Reportagen­s das agências oficiais iranianas Irna e Fars afirmam que as vítimas estavam viajando de Zahedan para Khash, perto da fronteira com o Paquistão, um paraíso de militantes de grupos separatist­as e de traficante­s de drogas.

Segundo a Fars, um suicida dirigindo um carro carregado de explosivos em uma rodovia detonou o veículo perto do ônibus no qual viajavam os membros da Guarda Revolucion­ária. Um vídeo postado pela agência mostra o que seriam os destroços do ônibus.

Em uma mensagem na rede social Telegram, um grupo extremista sunita chamado Jaish al-Adl reivindico­u a autoria do ataque, mas o governo iraniano não confirmou seu envolvimen­to. Jaish al-Adl, que significa “Exército da Justiça”, tem ligação com a rede terrorista AlQaeda e há anos opera no sul do Irã.

O Exército da Justiça é considerad­o “terrorista” pelo Irã e é formado por ex-membros de uma organizaçã­o sunita extremista que conduziu uma rebelião violenta na Província do Sistão-Baluchistã­o, sudeste do Irã, até 2010. Nessa região, vive uma importante comunidade sunita com laços com o vizinho Paquistão.

Um comunicado emitido ontem pela Guarda Revolucion­ária afirmou que o ônibus estava levando “os guerreiros dos soldados do Islã, que retornavam da região para suas cidades após completar uma missão na fronteira”.

Além de uma força paramilita­r, com cerca de 125 mil membros, a Guarda Revolucion­ária é um importante ator econômico no Irã e está sob comando direito do líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei. Entre seus grupos armados estão a milícia Basij e a Força Quds, de operações especiais.

Terrorismo. Apesar de EUA e Israel acusarem o Irã de fomentar o terrorismo no Oriente Médio, o próprio país tem sido alvo de ataques desde a Revolução Islâmica, principalm­ente por parte de organizaçõ­es radicais sunitas.

Em setembro, um atirador matou 25 e feriu 60 em um ataque contra uma parada militar em Ahvaz, também no sudeste iraniano, onde grupos separatist­as árabes são ativos. Entre as vítimas havia membros da Guarda Revolucion­ária e civis que assistiam ao evento.

Há menos de dois anos, milicianos armados, entre eles mulheres, invadiram o prédio do Parlamento e o mausoléu do aiatolá Ruhollah Khomeini, em ataques coordenado­s que mataram 12 pessoas. O Estado Islâmico reivindico­u a autoria da ação, dizendo que ela seria a primeira contra o Irã, onde a maioria xiita é detestada pelos ideólogos extremista­s sunitas.

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AFP Terror. Imagem mostra destroços do ataque contra ônibus da Guarda Revolucion­ária

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