Atentado suicida mata 41 militares no Irã.
Guarda Revolucionária acusa EUA pelo atentado, cuja autoria foi reivindicada nas redes sociais por um grupo extremista sunita
O ataque de um homem-bomba contra um ônibus matou ontem 41 membros da Guarda Revolucionária do Irã. Foi um dos mais mortíferos atentados no país em anos. A Guarda Revolucionária, força paramilitar de elite, rapidamente culpou os EUA, já que a ação ocorreu durante as comemorações dos 40 anos da Revolução Islâmica, que derrubou o governo do xá Reza Pahlevi, que tinha o apoio de Washington, em 1979.
A Guarda Revolucionária, porém, não explicou precisamente como os americanos poderiam estar envolvidos no ataque. Autoridades em Teerã, incluindo o ministro das Relações Exteriores, Mohamed Javad Zarif, sugeriram que foi mais do que uma coincidência que o ataque tenha ocorrido ao mesmo tempo em que o governo americano lidera uma conferência na Polônia com o objetivo de isolar o Irã, ao lado de seus adversários regionais Arábia Saudita e Israel. O Brasil também participa da reunião. “Os EUA parecem adotar sempre as mesmas decisões equivocadas, mas esperam resultados diferentes”, disse Zarif no Twitter.
Reportagens das agências oficiais iranianas Irna e Fars afirmam que as vítimas estavam viajando de Zahedan para Khash, perto da fronteira com o Paquistão, um paraíso de militantes de grupos separatistas e de traficantes de drogas.
Segundo a Fars, um suicida dirigindo um carro carregado de explosivos em uma rodovia detonou o veículo perto do ônibus no qual viajavam os membros da Guarda Revolucionária. Um vídeo postado pela agência mostra o que seriam os destroços do ônibus.
Em uma mensagem na rede social Telegram, um grupo extremista sunita chamado Jaish al-Adl reivindicou a autoria do ataque, mas o governo iraniano não confirmou seu envolvimento. Jaish al-Adl, que significa “Exército da Justiça”, tem ligação com a rede terrorista AlQaeda e há anos opera no sul do Irã.
O Exército da Justiça é considerado “terrorista” pelo Irã e é formado por ex-membros de uma organização sunita extremista que conduziu uma rebelião violenta na Província do Sistão-Baluchistão, sudeste do Irã, até 2010. Nessa região, vive uma importante comunidade sunita com laços com o vizinho Paquistão.
Um comunicado emitido ontem pela Guarda Revolucionária afirmou que o ônibus estava levando “os guerreiros dos soldados do Islã, que retornavam da região para suas cidades após completar uma missão na fronteira”.
Além de uma força paramilitar, com cerca de 125 mil membros, a Guarda Revolucionária é um importante ator econômico no Irã e está sob comando direito do líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei. Entre seus grupos armados estão a milícia Basij e a Força Quds, de operações especiais.
Terrorismo. Apesar de EUA e Israel acusarem o Irã de fomentar o terrorismo no Oriente Médio, o próprio país tem sido alvo de ataques desde a Revolução Islâmica, principalmente por parte de organizações radicais sunitas.
Em setembro, um atirador matou 25 e feriu 60 em um ataque contra uma parada militar em Ahvaz, também no sudeste iraniano, onde grupos separatistas árabes são ativos. Entre as vítimas havia membros da Guarda Revolucionária e civis que assistiam ao evento.
Há menos de dois anos, milicianos armados, entre eles mulheres, invadiram o prédio do Parlamento e o mausoléu do aiatolá Ruhollah Khomeini, em ataques coordenados que mataram 12 pessoas. O Estado Islâmico reivindicou a autoria da ação, dizendo que ela seria a primeira contra o Irã, onde a maioria xiita é detestada pelos ideólogos extremistas sunitas.