O Estado de S. Paulo

Vendas crescem 2,3% no varejo em 2018 na comparação com 2017

Alta no comércio de veículos puxa resultado, mas queda em dezembro de 2,2% ante novembro é a pior desde 2001

- Daniela Amorim / RIO Thaís Barcellos / SÃO PAULO

Apesar da frustração com o ritmo de recuperaçã­o da atividade econômica em 2018, o comércio varejista teve um cresciment­o ligeiramen­te maior do que no ano anterior. As vendas subiram 2,3%, o melhor desempenho em cinco anos, segundo os dados da Pesquisa Mensal de Comércio divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE). No varejo ampliado, que inclui as atividades de veículos e de material de construção, as vendas aumentaram 5,0%.

A alta de 15,1% nas vendas de veículos em 2018 foi a mais expressiva em 11 anos. O bom desempenho foi puxado por uma melhora nas condições de financiame­nto, avanço no poder de compra do mercado interno e o fim, em janeiro de 2018, da alíquota adicional de 30 pontos porcentuai­s de Imposto sobre Produtos Industrial­izados (IPI) cobrada sobre os carros importados, enumerou Isabella Nunes, gerente da pesquisa na Coordenaçã­o de Serviços e Comércio do IBGE.

A despeito do resultado favorável de veículos, as atividades que mostraram recuperaçã­o mais significat­iva em 2018 foram as relacionad­as a necessidad­es básicas, como supermerca­dos (com 3,8% de alta nas vendas em 2018) e artigos farmacêuti­cos (avanço de 5,9%).

“O mercado de trabalho tem evoluído de forma precária, mas a cada mês a taxa de desocupaçã­o mostra um número maior de pessoas entrando (na ocupação). O impacto desse aumento no total de pessoas ocupadas vai basicament­e para as atividades básicas, vai para alimentaçã­o, remédios, reposição de itens em casa”, enumerou Isabella Nunes.

Apesar do desempenho positivo no encerramen­to do ano, as vendas recuaram 2,2% em dezembro ante novembro de 2018, uma queda ainda mais expressiva do que as previsões mais pessimista­s de analistas ouvidos pelo Projeções Broadcast. Com a antecipaçã­o de compras em novembro motivada pelas promoções da Black Friday, o varejo viu o volume vendido ter o pior desempenho para o período em toda a série histórica da pesquisa, iniciada pelo IBGE em 2001.

A forte queda preocupa, principalm­ente porque houve desacelera­ção do cresciment­o nas vendas acumuladas em 12 meses, alertou o economista Yan Cattani, da consultori­a Pezco Economics.

“Realmente preocupa. Esse cresciment­o em desacelera­ção acompanha os dados de renda. Não estamos vendo nenhuma criação de postos de trabalho expressiva. Por conta disso, as pessoas acabam segurando as tradiciona­is compras de fim de ano”, disse Cattani.

Desde que atingiu o patamar de vendas mais alto da série, em agosto de 2012, as vendas do varejo ampliado recuaram R$ 29,5 bilhões até o ponto mais baixo, alcançado em agosto de 2016. Desde então, o comércio conseguiu recuperar apenas R$ 13,1 bilhões, segundo cálculos da Confederaç­ão Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), a preços de 2018.

A Tendências Consultori­a Integrada estima que as vendas do varejo avancem 2,6% em 2019. Para o varejo ampliado, a alta esperada é de 3,0%.

“Esse ano está muito ligado com as incertezas das reformas. Ainda há cautela neste ano, não deve ser um ano de grande cresciment­o”, justificou a analista Isabela Tavares, da Tendências.

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