O Estado de S. Paulo

Petrobrás admite supercampo no ES e vai pagar dívida de R$ 3,1 bi

Estatal travou disputa durante cinco anos com a ANP para reconhecer campo; ES alertou agência sobre o caso

- Fernanda Nunes / RIO

Após quase cinco anos de disputa com a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombust­íveis (ANP), a Petrobrás concordou em pagar uma dívida de R$ 3,1 bilhões - R$ 1,1 bilhão de uma só vez, ainda neste ano, e o restante em 60 vezes. A empresa vai compensar os governos do Estado e municípios capixabas, além da União, pela produção no supercampo Novo Jubarte, que negava existir. O dinheiro, esperado para abril, deve ajudar o Espírito Santo a fechar a conta da Previdênci­a de 2018.

A Petrobrás tratava o reservatór­io do Novo Jubarte como se fossem sete, sem interligaç­ão entre eles. Com isso, conseguia ficar isenta do pagamento de participaç­ão especial, uma compensaçã­o financeira que incide exclusivam­ente sobre grandes áreas produtoras.

Em 2013, o governo do Espírito Santo, onde está localizado o reservatór­io, alertou a agência reguladora, que, no ano seguinte, baixou uma resolução obrigando a empresa a admitir a existência do supercampo e a recolher a participaç­ão especial relativa a ele. Iniciou aí a desavença entre a petroleira estatal e a agência reguladora. O fim dessa novela é esperado para hoje, quando, em audiência pública, as duas partes apresentar­ão ao mercado os detalhes do acordo que fecharam.

No fim do ano passado, Petrobrás e ANP concordara­m em unificar cinco áreas - Jubarte, Baleia Azul, Baleia Franca, partes de Cachalote e Pirambu, além de pequenas parcelas de Caxaréu e Mangangá. Todos são divisões do bloco BC-60, concedido pela União à estatal na chamada rodada zero, antes de começar a leiloar concessões ao mercado.

Ainda que o supercampo seja menor do que a ANP gostaria, em volume de produção, perde apenas para o líder nacional, o campo de Lula, localizado no pré-sal da Bacia de Santos. A Petrobrás estima investimen­to total de US$ 8,3 bilhões no Novo Jubarte, que, nos próximos 20 anos, deve gerar R$ 25,7 bilhões em participaç­ão especial (o equivalent­e a R$ 18,6 bilhões a valor presente, com desconto de 10% ao ano de inflação), segundo documento da agência reguladora.

Plataforma­s. Com o fim do impasse com a ANP, a Petrobrás conseguirá estender por 27 anos o prazo da concessão da área, que terminaria em 2029. Desde 2016, as três plataforma­s instaladas no Parque das Baleias extraíram 541 milhões de barris de petróleo na região. “A operadora espera viabilizar a produção adicional de 665 milhões de barris de óleo, incrementa­ndo o fator de recuperaçã­o de 14,8% para 22,4%”, informa a ANP em relatório. Uma nova plataforma, com capacidade de 100 mil barris por dia, deve começar a produzir na área em 2022. Procurada, por meio de sua assessoria de imprensa, a direção da Petrobrás não se pronunciou até o fechamento desta edição.

Principal beneficiad­o pelo acordo, o governo do Espírito Santo conta com a entrada em seu caixa de até R$ 750 milhões em abril deste ano e o restante, cerca de R$ 500 milhões, em parcelas. “A ideia não é usar todo recurso com a Previdênci­a. O Estado está com as contas sanadas, mas, sem dúvida, esse dinheiro ajuda a planejar (o pagamento da aposentado­ria dos servidores)”, afirmou o Procurador Geral do Estado, Rodrigo De Paula.

Após a audiência pública de hoje, o acordo deve passar ainda pelo crivo do Ministério de Minas e Energia e da Procurador­ia Geral da União, processo que deve se estender até o fim de março. Só então será assinado e, após dez dias, a estatal terá que pagar a primeira parcela, de R$ 1,1 bilhão.

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