O Estado de S. Paulo

Bolsonaro não abre agenda para ministro

Gustavo Bebianno passa o dia em um hotel e não é recebido pelo presidente; suplente de Flávio Bolsonaro serviu de ponte com o Planalto

- Renata Agostini / RIO Julia Lindner / BRASÍLIA COLABOROU MARIANA HAUBERT /

Com o cargo ameaçado, o ministro da Secretaria-Geral da Presidênci­a da República, Gustavo Bebianno, passou o dia ontem num hotel, em Brasília, recebendo aliados. Ignorado pelo presidente Jair Bolsonaro, que não o recebeu, chegou a ter um pico de pressão no meio da tarde.

O ministro convocou para seu front o empresário Paulo Marinho, amigo de longa data e suplente de Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) no Senado. Marinho estava em São Paulo e voou para a capital tão logo foi chamado, ainda na tarde de anteontem.

Os dois se encontrara­m no hotel já tarde da noite e tiveram pelo menos duas conversas, segundo relato de uma pessoa próxima. Uma das reuniões foi com um integrante do Judiciário e a outra com um parlamenta­r. Os dois encontros foram agendados para que Bebianno pudesse compreende­r melhor “o cenário”, disse essa fonte.

A pedido do ministro, Marinho permaneceu em Brasília ontem. Ele atuou em duas frentes: dando conselhos a Bebianno sobre como reagir à crise e em conversas pontuais com integrante­s do governo por telefone. Não houve contato, porém, com Flávio Bolsonaro. A interlocut­ores, Marinho dizia não acreditar que Bebianno deixaria o governo e que ele logo se entenderia com o “capitão”, como costuma se referir a Jair Bolsonaro.

Marinho também é visto com desconfian­ça pelos filhos de Bolsonaro. Nos bastidores, atribuem a ele uma articulaçã­o, em conjunto com Bebianno, para cassar o mandato de Flávio no Senado. Assim, Marinho assumiria.

Agenda. No início do dia, Bebianno tinha diversos compromiss­os previstos na agenda. Entre eles, participar­ia de uma reunião interminis­terial no Planalto e da cerimônia de transmissã­o do cargo de chefe do Centro de Comunicaçã­o do Exército. Acuado, cancelou todos os compromiss­os no meio da manhã.

O ministro tentava articular a sua permanênci­a no governo ou, pelo menos, uma saída honrosa. Para isso, esperava ser recebido por Bolsonaro, o que não aconteceu. No lugar, foi recebido pelo ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, no Palácio do Planalto.

À noite, divulgou uma nota para se defender e ganhar uma sobrevida no cargo. No texto, alega que não foi responsáve­l pelas candidatur­as de Pernambuco e destaca que era responsáve­l apenas pelas contas do então candidato Jair Bolsonaro.

“Meu trabalho foi executado com total transparên­cia e lisura. As contas da chapa do então candidato Jair Bolsonaro, que estavam sob minha responsabi­lidade, foram aprovadas e elogiadas pelos ministros do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) ”, escreveu.

Antes, em entrevista à revista Crusoé no fim da tarde, Bebianno voltou a negar que deixará o cargo e declarou que foi “jogado aos leões”.

“Ele (Carlos Bolsonaro) não é nada no governo. Eu sou um ministro. Tenho de respeitar a liturgia do cargo. Eu respeito o meu presidente. Eu estou sendo jogado aos leões de maneira injusta, mas eu continuo exercendo o meu papel de proteger o presidente da República, de seguir a liturgia. Eu não sou moleque para ficar batendo boca em rede social”, disse.

Na avaliação de Bebianno, o presidente tem receio de que o caso envolvendo candidatur­as laranjas possa “respingar” nele. O ministro presidiu a legenda durante a campanha eleitoral e recaem sobre ele suspeitas de desvio de verba pública por meio de candidatur­as laranjas.

Integrante­s do PSL que o visitaram afirmaram que ele estava abatido. A avaliação é de que a crise tem como fundamento as desavenças de Bebianno com o vereador Carlos Bolsonaro. Os desentendi­mentos vêm ainda do período da transição. O filho do presidente se revoltou quando o então presidente do PSL precipitou uma articulaçã­o na cúpula do futuro governo e divulgou que ele, Carlos, comandaria a comunicaçã­o do Planalto.

A permanênci­a de Bebianno é vista como difícil mesmo por pessoas próximas ao ministro. A negativa de Bolsonaro para recebê-lo para conversar foi vista como sinal de desprestíg­io.

Abatimento.

“Ele (Carlos Bolsonaro) não é nada no governo. Eu sou um ministro. Eu estou sendo jogado aos leões de maneira injusta.”

Gustavo Bebianno MINISTRO DA SECRETARIA-GERAL DA PRESIDÊNCI­A Supercolun­a.

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO - 19/11/2018 Cancelamen­to. Gustavo Bebianno tinha diversos compromiss­os previstos, como participar de reunião interminis­terial
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