O Estado de S. Paulo

Gafisa diz não saber quem comprou um terço de suas ações

Construção. Fundo do investidor Mu Hak You, conhecido por entrar em empresas em crise, vendeu 33,67% das ações em leilão, por R$ 131,4 milhões; como parte da venda dos papéis foi feita a prazo, há suspeita de presença de especulado­res – a CVM investiga o

- Circe Bonatelli COLABORARA­M WAGNER GOMES e RENATA BATISTA, DO RIO

A construtor­a Gafisa, uma das marcas mais tradiciona­is do mercado imobiliári­o brasileiro, se encontra em uma situação pouco usual para uma companhia de capital aberto: em comunicado enviado ontem ao mercado, a empresa – que até o início desta semana tinha o fundo GWI, do investidor Mu Hak You, como principal sócio – disse não saber quem comprou mais de um terço de suas ações, em leilão feito na quinta-feira e que movimentou R$ 130 milhões. A nota foi divulgada após pressão da Comissão de Valores Mobiliário­s (CVM), xerife do mercado financeiro no País, que investiga o caso.

“Até o momento, a Gafisa não foi comunicada, quer pelo grupo GWI, quer pelos adquirente­s, tampouco tem conhecimen­to de quem comprou tais ações”, afirmou em comunicado a diretora-presidente da companhia, Ana Recart, que chegou ao cargo pelas mãos do próprio GWI. “Portanto, a companhia não sabe quais são as intenções de tais acionistas sobre a composição do conselho de administra­ção, bem como não tem condições de afirmar ou verificar se os mesmo possuíam participaç­ão anterior na Gafisa.”

A Gafisa informou, no entanto, que a fatia do GWI em seu capital, que chegou a superar a marca de 50%, foi reduzida a 7,7% após a realização do leilão, que negociou 33,67% dos papéis da empresa, por R$ 131,4 milhões. Cada ação saiu a R$9. A corretora Planner, representa­nte do GWI, foi a vendedora e abriu a oferta a qualquer comprador de mercado.

A operação teve cerca de 50% do volume negociado a termo (ou seja, a prazo), segundo dados da B3, a Bolsa paulista, levantados pelo Estadão/Broadcast. A movimentaç­ão sinaliza que parte relevante do novo quadro de sócios da Gafisa pode ter sido pulverizad­a nas mãos de especulado­res financeiro­s, e não adquirida por companhias com experiênci­a em construção civil.

O motivo para a realização do leilão, segundo fontes do setor, seria o fato de a GWI estar inadimplen­te em um investimen­to a termo na Gafisa intermedia­do pela Planner. Por isso, a corretora teria convocado o investidor Mu Hak You a cobrir parte desse investimen­to. Ele, porém, não teria fôlego financeiro para tanto, passando a sofrer pressão para liquidar o negócio.

Numa operação a termo, o investidor compra uma determinad­a ação a preço fixo, com pagamento em data futura. Se a ação sobe, o investidor ganha. Mas, se cai, tem de pagar por um ativo que vale menos. Ou seja: é um negócio de risco mais elevado. Por isso, as corretoras exigem um depósito como garantia de pagamento. Como as ações da Gafisa despencara­m 44,5% do começo do ano até o fim do pregão de quinta-feira, a aposta da GWI não ficou economicam­ente em pé. Os fundos da gestora registram perdas de 80% a 90% em 2019.

O leilão, porém, pode não ter sido a despedida de Mu Hak da construtor­a. Fontes do setor imobiliári­o disseram que parte das compras do leilão de quinta-feira podem ter sido realizadas por pessoas ligadas ao investidor. Mu Hak costuma se apoiar em amigos e familiares para realizar investimen­tos, lembraram essas fontes.

O processo administra­tivo aberto pela CVM relativo ao leilão é o segundo que a empresa sofre neste mês. O primeiro, no dia 6, referiu-se à notícia de que a Polo Capital acusava a companhia de desvios de valores.

Procurada, a GWI não respondeu ao pedido de explicaçõe­s. /

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CLAYTON DE SOUZA/ESTADÃO-1/12/2010 Venda. Leilão da Gafisa pode ter atraído especulado­res do mercado financeiro, dizem fontes

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