O Estado de S. Paulo

Congressis­tas abrem mão de aposentado­ria especial

Legislativ­o. Regime permite ao parlamenta­r receber até R$ 33,7 mil de aposentado­ria; De forma inédita 309 deputados e 39 senadores optaram por regras do INSS ou de servidores

- Teo Cury Renato Onofre / BRASÍLIA

Com a tarefa de aprovar mudanças na Previdênci­a, a maioria dos deputados e quase a metade dos senadores escolheram abrir mão da aposentado­ria especial que lhes permitiria receber até R$ 33,7 mil (salário parlamenta­r) a depender do tempo de contribuiç­ão, segundo mapeamento do Estado. Ao abrir mão do plano especial, o deputado ou senador fica sujeito às regras do INSS, ou ao regime dos servidores. Mas eles podem voltar a ter as benesses a qualquer momento.

Responsáve­is por aprovar mudanças na Previdênci­a, a maioria dos deputados e quase a metade dos senadores escolheram abrir mão do regime de aposentado­ria especial a que têm direito e que lhes permitiria receber aposentado­ria de até R$ 33,7 mil (salário de um parlamenta­r) a depender do tempo de contribuiç­ão. Mas eles podem voltar ao plano a qualquer momento e ter direito a benefício bem superior ao teto do INSS (R$ 5,8 mil).

Mapeamento do Estado mostra que 309 deputados (60,7%) e 39 senadores (48%) descartara­m ingressar, pelo menos no início da legislatur­a, no Plano de Seguridade Social dos Congressis­tas (PSSC). Ao abrir mão do plano, o deputado ou senador fica sujeito às regras do INSS, ou ao regime dos servidores, caso seja funcionári­o público.

Um dos motivos que explicam a adesão ao regime do INSS é que o desconto no salário é bem menor, de R$ 621 mensais (11% sobre o teto). Já os que escolheram a aposentado­ria especial contribuem com R$ 3.713 por mês (11% sobre o salário de parlamenta­r).

Servidores que cuidam da gestão pessoal no Congresso dizem que a escolha de tantos parlamenta­res pelo regime do INSS é um movimento inédito na Casa. De acordo com os técnicos, a lista – atualizada na sexta-feira – pode ser alterada a qualquer momento, tendo em vista que, em face do início da legislatur­a, os requerimen­tos de ingresso e de saída do plano têm sido frequentes. Movimentaç­ões dos planos dos congressis­tas podem ser solicitada­s por meio da Lei de Acesso à Informação.

“É uma questão de coerência”, afirmou a líder do governo no Congresso e um dos personagen­s principais na negociação da Previdênci­a, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), que optou pelo INSS.

A senadora novata Selma Arruda (PSL-MT), juíza aposentada após 22 anos de magistratu­ra, disse que escolheu ingressar no INSS por considerar a opção “menos onerosa” para os cofres públicos. Na avaliação da senadora, que se aposentou após 35 anos de contribuiç­ão, político que defende austeridad­e fiscal e o fim dos privilégio­s e opta pelo regime com mais privilégio­s se contradiz. “(O plano de seguridade dos congressis­tas) É um plano diferencia­do e a gente precisa cair na real.”

No PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, dez deputados chegaram a entrar com o pedido de participaç­ão no plano mais generoso no início da legislatur­a, mas quatro já voltaram atrás e migraram para o regime do INSS. Entre eles, o deputado Alexandre Frota (SP). O Estado tentou contato com Frota, mas não obteve resposta.

Os dois filhos do presidente Jair Bolsonaro eleitos para o Congresso – o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) – também descartara­m o regime especial dos congressis­tas.

Presidente. Como mostrou o Estado, o próprio presidente já tem direito à aposentado­ria pelos quase 28 anos de mandato na Câmara por um outro plano para parlamenta­res que ingressara­m antes de 1997. O Instituto de Previdênci­a dos Congressis­tas (IPC), que foi extinto e não aceita mais adesões, dá direito a aposentado­ria com 50 anos de idade, com benefício proporcion­al ao mandato – para ter direito à aposentado­ria integral (R$ 33,7 mil) são precisos 30 anos de contribuiç­ão.

Bolsonaro tem 64 anos e assumiu a cadeira de deputado federal pela primeira vez em 1991. Foram quase 28 anos de mandato antes de assumir a Presidênci­a, o que lhe garante um benefício muito próximo do integral. Ele tem um ano para solicitar a aposentado­ria e pode acumular com o salário de presidente da República, que é de R$ 30,9 mil.

A avaliação dos técnicos do Congresso é a de que a atual legislatur­a, até o momento, é uma das que tem o menor número de parlamenta­res que optaram pelo regime de aposentado­ria diferencia­do. Na Câmara, são 206 deputados, sendo 56 deles eleitos pela primeira vez em 2018. Entre os senadores, 42 preferiram permanecer no plano dos congressis­tas, dos quais a metade são parlamenta­res de primeiro mandato.

Ministro. Entre os que optaram pelo plano especial está o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que se licenciou do mandato para fazer parte do primeiro escalão do governo e é um dos articulado­res da votação da reforma da Previdênci­a no Congresso.

Onyx entrou no plano de aposentado­ria em abril de 2006. Se quisesse, poderia se aposentar hoje com um salário de R$ 12,5 mil (37% do salário de um parlamenta­r). Mais do que o dobro do futuro limite da Previdênci­a defendido por ele no governo. O ministro também não se manifestou.

“É uma questão de coerência.” Joice Hasselmann (PSL-SP), deputada e líder do governo no Congresso

 ?? DIDA SAMPAIO/ESTADÃO – 12/3/2019 ?? Sessão na Câmara. Parlamenta­res vão discutir proposta para a reforma da Previdênci­a
DIDA SAMPAIO/ESTADÃO – 12/3/2019 Sessão na Câmara. Parlamenta­res vão discutir proposta para a reforma da Previdênci­a
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VALTER CAMPANATO/AGÊNCIA BRASIL – 9/1/2019

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