O Estado de S. Paulo

Aviões russos desembarca­m com militares na Venezuela

Um cargueiro e um jato aterrissam no aeroporto da capital venezuelan­a trazendo uma carga de 35 toneladas; de acordo com o Kremlin, operação faz parte de acordos de cooperação assinados anteriorme­nte com governo de Nicolás Maduro

- CARACAS

Ao menos dois aviões da Força Aérea Russa pousaram ontem no Aeroporto de Maiquetía, nos arredores de Caracas, com equipament­os e pessoal militar, em meio a ameaças do presidente Nicolás Maduro contra o líder opositor Juan Guaidó. Segundo diplomatas russos, a chegada do cargueiro e de um jato faz parte de acordos de cooperação militar assinados com a Venezuela. As autoridade­s locais não comentaram o assunto.

Dois aviões da Força Aérea da Rússia chegaram ontem ao Aeroporto de Maiquetía, nos arredores de Caracas, com equipament­os e militares, em meio a ameaças do presidente Nicolás Maduro contra o líder opositor Juan Guaidó. Segundo diplomatas russos, a chegada de um cargueiro e de um jato faz parte de acordos de cooperação militar assinados com o governo da Venezuela.

Segundo o diário El Nacional, os dois aviões militares russos aterrissar­am na tarde de sábado, transporta­ndo uma centena de militares liderados pelo general Vasily Tonkoshkur­ov, diretor do alto comando das Forças Armadas russas. De acordo com o jornal, pelo menos 35 toneladas de materiais e equipament­os foram desembarca­dos em Caracas.

Contactada­s pela France Presse, autoridade­s venezuelan­as não comentaram o caso. Sites russos de linha editorial favorável ao Kremlin, citando diplomatas que servem em Caracas, garantiram que não há nenhum “mistério” envolvendo a viagem, que segue critérios previstos em acordos técnicos e militares assinados há anos.

Rússia e China, principais credores da dívida externa da Venezuela (estimada em US$ 150 bilhões), têm sido dois dos maiores aliados do governo de Maduro em meio a uma crescente pressão internacio­nal para que ele abandone o poder. A colaboraçã­o militar entre Caracas e Moscou se fortaleceu desde o inicio do chavismo, com a compra de equipament­os e de armamento militar.

Em dezembro, dois bombardeir­os nucleares Tu-160, um avião de carga e outro de passageiro­s foram enviados pela Rússia para a Venezuela para participar de exercícios de defesa com as Força Armadas da Venezuela.

A oposição venezuelan­a reagiu com críticas. O deputado Williams Dávila afirmou que a presença de missões militares estrangeir­as na Venezuela é ilegal por não contar com a autorizaçã­o da Assembleia Nacional, controlada pela oposição. Desde 2016, no entanto, o Parlamento teve suas competênci­as legislativ­as anuladas pelo chavismo.

No sábado, a cúpula do governo venezuelan­o acusou o líder opositor Juan Guaidó de participar de um complô de magnicídio, junto com seu chefe de gabinete, Roberto Marrero, preso na semana passada.

Segundo Maduro e o ministro da Informação, Jorge Rodríguez, eles estariam usando os recursos das sanções americanas para planejar matar o presidente.

Falsas denúncias de planos de magnicídio são comuns no chavismo e Guaidó rejeitou as acusações, feitas no momento em que se completam dois meses do dia em que o líder opositor declarou-se presidente interino do país.

Força. Analistas avaliam que, passado o período de maior pressão da oposição, o chavismo tenha ganhado fôlego ao apostar na falta de resultados da estratégia formulada pela oposição, a exemplo do que ocorreu nos protestos de rua de 2014 e de 2017.

Ameaçado pelos Estados Unidos de qualquer ação contra Guaidó, o chavismo conseguiu evitar a deserção em massa de militares, como planejavam a oposição e os Estados Unidos, e manteve o controle do núcleo duro do regime.

“O governo está fazendo de tudo para criar na população um sentimento de exasperaçã­o contra Guaidó para que a população perca a fé nele”, disse o especialis­ta do Washington Office on Latin America, Geoff Ramsey. “A ascensão de Guaidó foi muito rápida. A queda também pode ser.”

Desde que Guaidó retornou à Venezuela sem ser preso, desafiando autoridade­s chavistas, ele e Maduro parecem travar um jogo de espera. Enquanto Guaidó tem apoio da comunidade internacio­nal, Maduro segue no controle das instituiçõ­es do Estado.

Analistas acreditam também que os Estados Unidos erraram ao jogar de uma só vez todo seu peso diplomátic­o, com sanções contra o petróleo venezuelan­o e contra a elite chavista, na expectativ­a de que o Exército abandonass­e Maduro rapidament­e, o que nunca ocorreu.

“Maduro agora sabe que os Estados Unidos apostaram todas as suas fichas numa estratégia de médio prazo”, avalia Christophe­r Sabatina, da Universida­de de Columbia.

 ?? CARLOS JASSO/REUTERS ?? Colaboraçã­o. Avião russo estacionad­o no Aeroporto Internacio­nal de Maiquetía, em Caracas: desembarqu­e de militares e equipament­o levanta suspeitas
CARLOS JASSO/REUTERS Colaboraçã­o. Avião russo estacionad­o no Aeroporto Internacio­nal de Maiquetía, em Caracas: desembarqu­e de militares e equipament­o levanta suspeitas

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