O Estado de S. Paulo

A harmonia entre os Poderes

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Para voltar ao trilho do desenvolvi­mento econômico e social, o País tem claras e imediatas necessidad­es. É preciso realizar reformas estruturan­tes, a começar pela reforma da Previdênci­a.

Para voltar aos trilhos do desenvolvi­mento econômico e social, o País tem claras e imediatas necessidad­es. É preciso realizar reformas estruturan­tes, a começar pela reforma da Previdênci­a. É preciso restabelec­er um ambiente de normalidad­e e estabilida­de jurídico-institucio­nal. Há ainda um longo caminho no combate à criminalid­ade e à impunidade, mas nem tudo é corrupção ou podridão, e tratar o cenário nacional como terra devastada, além de injusto, significa pôr a perder muitas coisas boas construída­s ao longo do tempo. É preciso também amenizar a polarizaçã­o político-ideológica. Compreensí­vel numa campanha eleitoral, o clima de conflito, se estendido ao longo do tempo, esgarça as relações sociais e gera danos em todas as esferas da vida nacional.

Se as atuais necessidad­es do País são evidentes, está claro também que os Três Poderes têm sido incapazes – ao menos, até o momento – de atender a contento a essas demandas. Na semana passada, houve um almoço em Brasília que reuniu a cúpula dos Três Poderes a respeito dos possíveis caminhos para, diminuindo as tensões entre Executivo, Judiciário e Legislativ­o, torná-los mais funcionais. É preciso, por exemplo, trabalhar coordenada­mente para que a reforma da Previdênci­a, prioridade nacional, seja de fato aprovada pelo Congresso.

“Há um intuito de todos de construir uma nova agenda e de aprovar a reforma da Previdênci­a. Este encontro é um sinal importante, estamos construind­o um pacto para governar o Brasil”, afirmou o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, anfitrião do almoço.

Nessa trajetória de união e cooperação entre os Poderes é indispensá­vel que o Executivo cumpra o seu papel. Desde a posse, tem causado perplexida­de o fato de o presidente Jair Bolsonaro, em vez de buscar a união nacional, continuar alimentand­o polêmicas e fissuras, num clima de guerrilha eleitoral. No dia anterior ao almoço, por exemplo, o presidente da República compartilh­ou em sua conta no Twitter vídeo em que seu filho Carlos criticava a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) a respeito da competênci­a da Justiça Eleitoral. Não é disso que o País precisa.

Nesse reequilíbr­io institucio­nal em busca de maior funcionali­dade, é também evidente a necessidad­e de o Ministério Público (MP) adequar-se às suas competênci­as institucio­nais, sem que alguns de seus membros invadam outras searas ou agravem desnecessa­riamente as tensões.

A Suprema Corte tem sido alvo de ataques, nas redes sociais, de grupos que desmerecem, desautoriz­am e ridiculari­zam todos aqueles que ousam ter opiniões divergente­s das suas. É surpreende­nte, no entanto, que alguns desses ataques venham de membros do MP, cuja função é defender a ordem jurídica e o Estado Democrátic­o de Direito.

Para diminuir as tensões, é preciso também uma atitude de cooperação e de menos protagonis­mo dos ministros do STF. Não poucas vezes, são os próprios integrante­s da Corte que alimentam divisões, promovem embates e, mais grave, ferem o caráter colegiado do Supremo. É urgente a promoção de uma nova cultura no STF, mais disposta a aceitar a posição majoritári­a, a conferir estabilida­de à jurisprudê­ncia ao longo do tempo, a restringir as decisões monocrátic­as para os casos imprescind­íveis, a defender e a aplicar a Constituiç­ão e as leis, sem imiscuir-se com tanta frequência em trajetória­s alternativ­as.

O Congresso tem também papel especial na busca da funcionali­dade institucio­nal. É ele quem deve processar com diligência as reformas de que tanto o País precisa. A renovação ocorrida nas eleições passadas deve servir para banir velhos costumes que são absolutame­nte deletérios para o interesse nacional. No entanto, tanto os antigos parlamenta­res como os novos não podem se furtar de fazer política, na melhor acepção da palavra. A decisiva contribuiç­ão do Congresso para o País decorre precisamen­te dessa busca por encontrar os consensos e propostas possíveis para os problemas nacionais. Não é no grito, na intolerânc­ia e, muito menos, na violência, física ou verbal, que o Legislativ­o cumprirá o seu papel.

É essencial o diálogo entre Executivo, Judiciário e Legislativ­o. Mas o principal fruto que se espera desse diálogo é que cada um dos Poderes cumpra seu dever. Essa é a harmonia institucio­nal de que o País precisa.

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