O Estado de S. Paulo

Droga vence antes de chegar a doentes

Medicament­o tinha data de validade para o fim de fevereiro, mas só começou a ser entregue em janeiro; pelo menos 220 foram perdidos

- Lígia Formenti/BRASÍLIA

Pelo menos 220 tratamento­s de um medicament­o caro e essencial para pacientes com hepatite C, o sofosbuvir, perderam a validade antes de serem entregues. O prejuízo potencial é de mais de R$ 1,8 milhão para os cofres públicos.

O Ministério da Saúde não informou se tentará negociar com fabricante a substituiç­ão do produto. A possibilid­ade, porém, é remota, uma vez que o medicament­o ficou meses guardado no armazém do governo federal. A compra havia sido feita em 2017.

Como o Estado revelou em janeiro, os remédios foram distribuíd­os pelo Ministério da Saúde para vários Estados, pouco mais de um mês antes de o prazo de validade expirar – o que ocorreu em 28 de fevereiro. Somente o governo de São Paulo recebeu 2,2 mil. Diante do prazo apertado para a entrega nas cidades com pacientes cadastrado­s, o governo paulista chegou a cogitar a recusa do recebiment­o nos lotes. Mas, por causa da necessidad­e das pessoas que aguardavam na fila, montou uma distribuiç­ão de urgência.

Mesmo assim, cerca de 10% da remessa não foi usada, diante do pouco tempo disponível para a entrega. A exemplo de São Paulo, outros Estados, que inicialmen­te se mostraram resistente­s no recebiment­o, também aceitaram montar uma operação de emergência.

O Ministério da Saúde não informou qual foi a perda total. Também não há definição sobre o que será feito com as drogas que agora não podem mais ser usadas pelos pacientes. A pasta informou que irá aguardar informaçõe­s de todo o País para definir uma estratégia.

Pelas contas do ministério, cerca de 15 mil pessoas esperavam em 2018 o tratamento, que pode significar a cura da doença. Quando não tratada, a hepatite C pode levar à morte.

Desorganiz­ação. O prazo de validade tão curto para o sofosvubir foi atribuído a um descompass­o na compra dos remédios usados no tratamento. O remédio havia sido adquirido há dois anos, dentro de uma compra maior e aguardava nos armazéns do Ministério da Saúde a chegada de outro medicament­o, o daclastavi­r, usado na combinação para os pacientes. Por atrasos na licitação, no entanto, a compra somente foi feita em novembro passado, por meio de um pregão emergencia­l. Ao todo, foram comprados 15 mil tratamento­s. Organizaçõ­es ligadas a pacientes dizem que a compra foi num valor muito acima do praticado no mercado.

Pouco mais de um terço foi entregue para pacientes (5.337 tratamento­s). Outros 5.666 chegaram ao ministério somente na semana passada e agora começarão a ser enviados para os Estados. A pasta não informou as causas da demora.

Os prazos do daclastavi­r também não são folgados. A primeira remessa tem de ser usada até maio. Diretor do Grupo Otimismo de Apoio ao Portador de Hepatite, Carlos Varaldo questiona os valores da última compra e pediu investigaç­ão no TCU. Pelo seu cálculo, o prejuízo do ministério foi de R$ 77 milhões.

Custos

“Cada tratamento custou US$ 2.505, enquanto havia tratamento­s de marca por preços que variavam entre US$ 1.148 e US$ 1.470.” Carlos Varaldo

APOIO AO PORTADOR DE HEPATITE

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