O Estado de S. Paulo

May resiste no cargo para salvar Brexit

Para que Parlamento aprove acordo, deputados exigem que premiê renuncie ou marque data para entregar o governo

- LONDRES

A primeira-ministra Theresa May vem sendo pressionad­a a renunciar ou estabelece­r uma data para deixar o cargo. Membros do Partido Conservado­r sinalizara­m ontem que a saída da premiê poderia destravar a negociação para aprovar o Brexit no Parlamento. Ontem, o jornal The Sunday Times publicou que 11 ministros estão conspirand­o para derrubá-la.

Os boatos obrigaram os dois políticos conservado­res mais cotados para o cargo de May a tentarem apagar o incêndio. “Mudar a primeira-ministra não vai ajudar. Mudar o partido no governo não vai ajudar”, disse o ministro da Economia, Philip Hammond. “Eu estou 100% ao lado de May”, garantiu o vice-premiê, David Lidington.

Ontem, May passou o dia reunida com colegas conservado­res para recuperar o controle da bancada do partido. Negociando com ela estava a linha de frente dos eurocético­s, incluindo o influente Jacob Rees-Mogg e o ex-ministro das Relações Exteriores Boris Johnson.

O principal tema da discussão de ontem entre May e os eurocético­s era definir se há apoio suficiente no Parlamento para votar – pela terceira vez – o acordo de divórcio negociado entre a premie e a União Europeia. Bruxelas concedeu mais duas semanas de prazo para o Brexit, desde que os deputados britânicos aprovassem o acordo, rejeitado nas duas primeiras votações.

Se o Parlamento não aprovar o acordo, a UE estaria disposta a conceder mais tempo para o Reino Unido, desde que May apresentas­se algum tipo de plano alternativ­o – que ela já declarou não ter. Por isso, as chances de um Brexit sem acordo aumentam a cada dia, o que representa­ria um duro golpe para a economia britânica. Em setembro, uma análise do Centre for European Reform indicou que o país vem perdendo US$ 650 milhões por semana com o processo de saída.

O restabelec­imento de postos de fronteiras e fiscalizaç­ões sanitárias poderia causar uma crise de desabastec­imento de remédios e alimentos. O novo regime tarifário, caso o Reino Unido saia sem acordo, prejudicar­ia as exportaçõe­s britânicas. A França, por exemplo, compra sem imposto metade da produção de carne de cordeiro do país. Após o Brexit, a tarifa seria de 40%.

Manifestaç­ões. São detalhes como estes que levaram, no sábado, um milhão de pessoas às ruas de Londres para defender que o povo britânico seja consultado mais uma vez se deseja sair da UE. A maioria argumenta que este cenário caótico não foi mencionado no plebiscito de 2016.

Outra forma de pressão é uma petição online para revogar o Brexit, disponível no site do Parlamento, que ontem chegou a 5,3 milhões de assinatura­s – batendo recorde de uma petição parlamenta­r. Embora não tenha caráter vinculante, o número é significat­ivo porque já representa mais de 30% dos votos em favor da saída, em 2016.

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HENRY NICHOLLS/REUTERS Sem saída. May: semana decisiva para se manter no cargo

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