O Estado de S. Paulo

Persistênc­ia no erro petista

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Nos governos do PT, adotouse, com prejuízo para o País, a diplomacia Sul-Sul.

Nos anos em que o PT esteve no governo federal, adotou-se, com enorme prejuízo para o País, a chamada diplomacia Sul-Sul. Em vez de defender o interesse nacional, a política internacio­nal lulopetist­a esteve orientada por questões partidária­s e ideológica­s. O objetivo era atender ao projeto de poder do sr. Lula da Silva. Durante a campanha eleitoral do ano passado, o então candidato Jair Bolsonaro prometeu acabar com essa política. No entanto, a impressão é de que o País ainda não se desvencilh­ou do ranço petista.

Mesmo com todas as promessas de que a política internacio­nal teria no governo Bolsonaro uma nova orientação, o Brasil teve relevante participaç­ão em conferênci­a da ONU sobre a cooperação Sul-Sul. Realizada em Buenos Aires no final de março, a “Segunda Conferênci­a de Alto Nível das Nações Unidas sobre Cooperação SulSul” discutiu o papel da modalidade diplomátic­a terceiro-mundista para a implementa­ção da Agenda 2030 de desenvolvi­mento sustentáve­l.

Por ocasião da reunião, o próprio Itamaraty informou que o Brasil segue mantendo 380 iniciativa­s de cooperação Sul-Sul, distribuíd­as por 63 países em desenvolvi­mento ao redor do mundo. Ou seja, o governo do presidente Jair Bolsonaro continua apostando no erro petista.

O Brasil deve ampliar as parcerias e oportunida­des internacio­nais com todos os países possíveis, tendo sempre o interesse nacional como critério. Por exemplo, o Brasil é o maior exportador de carne do mundo, mas só tem acesso a cerca de metade dos mercados. O restante ainda está fechado ao produto brasileiro. Há, assim, um longo caminho de ampliação de oportunida­des comerciais, nos mais variados campos, o que deve incluir necessaria­mente os países em desenvolvi­mento.

O equívoco não é, portanto, estabelece­r e ampliar relações com os países do hemisfério Sul. O problema da tal “cooperação Sul-Sul” é subordinar a política externa a critérios ideológico­s, com prioridade­s que não correspond­em ao interesse nacional. Não tem por que o Brasil priorizar relações com os países em desenvolvi­mento sem que para isso existam motivos claros e objetivos.

Como se sabe, a diplomacia terceiro-mundista do mandarinat­o lulopetist­a causou grandes danos para o Brasil, deixando o País em condição periférica no grande jogo político e econômico mundial.

Sob o pretexto de promover a integração regional, o País alinhou-se a ditaduras companheir­as na América Latina. E sob a desculpa de preocupar-se com a situação social do continente africano, o governo petista aproximou-se de cleptocrac­ias africanas, em parcerias que em nada contribuía­m para o desenvolvi­mento do País. Enquanto isso, muitas oportunida­des de acordos com outros países e blocos foram perdidas, por mera antipatia ideológica.

A expectativ­a era de que o governo Bolsonaro fosse capaz de romper com essa política lulopetist­a. Não é, no entanto, o que se viu em Buenos Aires. A participaç­ão do Brasil na Cúpula Sul-Sul mostra também que não basta um discurso de campanha inflamado para mudar de fato a orientação do governo. É preciso realizar na prática a política prometida. Nesse sentido, o evento na Argentina é mais um alerta sobre a diferença entre fazer campanha eleitoral e governar de fato o País.

Recentemen­te, em aula magna no Instituto Rio Branco, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, criticou o terceiro-mundismo, que teria levado a “uma aposta em parceiros que não foram capazes de nos ajudar no nosso desenvolvi­mento”. Anuncia-se o diagnóstic­o crítico, mas a política criticada é mantida.

O País deve parar de promover uma diplomacia tacanha, guiada por limitações ideológica­s, de esquerda ou de direita. Urge retomar uma política externa historicam­ente equilibrad­a, de soluções de compromiss­o, de respeito ao direito internacio­nal e disposta ao entendimen­to multilater­al. O governo de Jair Bolsonaro tem sido pródigo em criticar e denunciar tudo o que acha que é “submissão ideológica”. Falta agora fazer.

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