O Estado de S. Paulo

Além dos russos, Maduro conta com apoio de forças cubanas

Militares desertores venezuelan­os confirmam que cerca de 4,5 mil combatente­s de Cuba atuam na Venezuela

- Roberto Godoy

Além do apoio da Rússia, evidenciad­o com a chegada de dois aviões a Caracas no fim de semana, as Forças Armadas da Venezuela também contam com ajuda militar de Cuba do tamanho de uma brigada de infantaria, cerca de 4,5 mil combatente­s, divididos em grupos de 500 homens e mulheres. O suporte é formado ainda por um time de elite, de operações especiais – os Vespas Negras, dedicado a ações de infiltraçã­o, sabotagem, contraterr­orismo e resgate de reféns.

A tropa usa uniformes e insígnias venezuelan­a, embora preserve linha de comando e hierarquia próprios. De acordo com análises de relatórios da inteligênc­ia dos Estados Unidos, da Colômbia e do Brasil, a cooperação na área de Defesa cresceu com o forte movimento de contestaçã­o ao presidente Nicolás Maduro, em meio à crise que levará o país a uma inflação de 10.000.000% até dezembro, segundo previsão do Fundo Monetário Internacio­nal (FMI).

O suporte cubano já dura cerca de nove anos – e foi oficialmen­te admitido em 2010 pelo então presidente Hugo Chávez durante visita a Havana. No seu modo caracterís­tico, ao lado de Fidel Castro, Chávez declarou que “os irmãos cubanos nos apoiam”, rindo e fazendo o gesto de quem dispara um fuzil.

O efetivo de Cuba forma uma espécie de círculo de proteção em torno de Caracas com base em três áreas – Forte Tiuna, Guarnição de Barquisime­to e o Centro de El Tigre. Não são facilmente identifica­dos. Falam espanhol e se apresentam como tendo sido transferid­os de outras regiões. Usam o armamento padrão do Exército bolivarian­o – variantes 103 e 105 dos fuzis russos AK-47, mais uma pistola 9 mm; capacetes de fibra, o rosto pintado com camuflagem verde e preta.

A missão prioritári­a da formação é a garantia do núcleo do regime de Maduro. Há cerca de 40 mil voluntário­s cubanos na Venezuela trabalhand­o em programas sociais, de saúde, da agricultur­a, de educação e de cultura.

O formato atual da tropa foi atingido em 2014, mas só agora, com a deserção de oficiais superiores da Venezuela para a Colômbia, a informação produzida originalme­nte pelas agências inteligênc­ia americanas pôde ser confirmada.

A força expedicion­ária seria chefiada por dois generais de brigada. Um deles é Alejandro Roja Marrero, um homem na faixa dos 60 anos de idade que não é visto em público desde o final de 2017. Ele leva uma vida discreta, limitada ao Complexo de Forte Tiuna – uma ampla instalação de segurança nos arredores da capital. Suas raras aparições em restaurant­es são compatívei­s com sua formação profission­al.

Marrero comandou as equipes de operações secretas do Exército cubano, liderou o programa de guerra cibernétic­a e de contrainfo­rmação de campo do país, com passagens por Angola, durante a guerra civil encerrada em 2002. Trata-se de um eficiente planejador, disse ao Estado um militar que deixou a Venezuela recentemen­te e aguarda asilo no país onde se apresentou como refugiado.

Oficial de nível médio, o oficial dissidente trabalhou na Sala de Situação do Palácio Miraflores, a sede do governo venezuelan­o, de onde Maduro, seus assessores próximos e vários consultore­s cubanos acompanham a evolução do conflito.

O dissidente lembra que o autoprocla­mado presidente, o opositor Juan Guaidó, foi apresentad­o ali, em um ambiente dominado por computador­es e grandes monitores de vídeo, como uma possível nova liderança da oposição em meados de 2016, pouco depois de ter sido eleito deputado pelo partido Voluntad Popular e com apoio da Mesa da Unidade Democrátic­a (MUD).

Articulado, inteligent­e e cheio de ideias liberais, com claro apoio dos EUA, ele passou a ser observado de perto. “Quando chegou à presidênci­a da Assembleia Nacional, há três meses, já era tratado como inimigo”, garante.

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