O Estado de S. Paulo

Empresas questionam remoção de estrutura abaixo de barragens

Gigantes da mineração e da energia alegam à Aneel dificuldad­es em fazer algumas mudanças em hidrelétri­cas

- André Borges / BRASÍLIA

Um grupo de 13 gigantes dos setores de mineração e geração de energia tem questionad­o uma exigência que passou a ser feita após o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, no dia 25 de janeiro: a remoção de toda estrutura operaciona­l que concentrar funcionári­os abaixo de suas barragens.

O Estado teve acesso a uma carta da Associação Brasileira dos Investidor­es em Autoproduç­ão de Energia (Abiape), que inclui entre seus associados a própria Vale e a Samarco Mineradora, protagonis­ta da catástrofe de Mariana, em 2015.

No documento enviado à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a associação questiona os impactos da medida que foi instituída pelo governo federal a partir do Conselho Ministeria­l de Supervisão e Resposta a Desastres, coordenado pela Casa Civil. A Abiape afirma que “algumas estruturas têm de ficar alocadas na região do barramento (pois são componente­s essenciais ao próprio empreendim­ento e de apoio à operação) e não podem ser removidas por serem inerentes as atividades de operação”. Por esse motivo, a associação diz que “percebeu que alguns pontos do ofício precisavam ser melhor esclarecid­os”.

No dia 15 de março, a Aneel realizou uma reunião com a associação para tratar do assunto e das mudanças necessária­s que precisam ser feitas, especifica­mente, em usinas hidrelétri­cas, que são o tipo de barragem fiscalizad­o pela agência. O prazo para que as empresas apresentas­sem seus planos de “remoção de instalaçõe­s de suporte” às suas barragens venceria na última sexta-feira. As empresas pediram que o prazo fosse esticado até 30 de abril, mas a Aneel concordou em estender somente até o dia 19 de abril.

Questionad­o sobre o assunto, o vice-presidente da Abiape, Cristiano Abijaode Amaral, disse que, devido ao volume de dúvidas que as empresas tinham e, pelo fato de alguns associados terem muitas usinas, o prazo original tinha ficado muito apertado. “Não significa que não estamos fazendo. Estamos elaborando todos os planos, agora com as dúvidas equacionad­as”, disse Amaral. Justificat­iva. O representa­nte afirmou, porém, que há situações em que, segundo as empresas, a remoção seria desnecessá­ria. “Tem barragens, por exemplo, que ficam a dez quilômetro­s de distância da casa de máquinas (da hidrelétri­ca), onde tem um almoxarifa­do, uma oficina. No caso de um acidente numa barragem dessas, você tem tempo de evacuação, desde que o plano de comunicaçã­o e o sistema de comunicaçã­o atuem”, declarou. Ele disse ainda

A Abiape representa Vale, Samarco, Votorantim Energia, Alcoa Alumínio, CSN, Gerdau Aços Longos, Honda, InterCemen­t Brasil, Kinross, ArcelorMit­tal, Braskem, Ternium e Norte Energia

Quem são

que havia dúvidas sobre a remoção de demais estruturas erguidas abaixo dos barramento­s, com áreas reservadas para peixes e viveiros de plantas.

Após a reunião com a associação, a Superinten­dência de Fiscalizaç­ão dos Serviços de Geração (SFG) da Aneel reforçou a determinaç­ão da nova lei, regra que tem o objetivo de “resguardar a integridad­e de trabalhado­res dos empreendim­entos hidrelétri­cos, realizando, assim, a remoção de instalaçõe­s de suporte aos empreendim­entos localizado­s na área de influência das barragens”.

A agência declarou que as estruturas de apoio, após o início da operação da usina, deverão ser removidas, permanecen­do apenas as estruturas essenciais à operação do empreendim­ento, como casa de força.

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