O Estado de S. Paulo

BUSTOS DE LAMA EM PROL DO PINHEIROS

Protesto lembra promessas de despoluiçã­o

- Gilberto Amendola

Quem passou pela Avenida Paulista ontem se deparou com uma inusitada “homenagem” a todos os ex-governador­es de São Paulo – representa­dos por bustos de Luiz Antônio Fleury Filho (MDB) e Geraldo Alckmin (PSDB). O problema é que aos se aproximare­m das obras, as pessoas tinham reações parecidas com a do aposentado José Martinez Soares, 67 anos. “Amigo, que cheiro ruim é esse?”

Pois é, os bustos foram feitos em moldes computador­izados 3D e, depois, esculpidos com argila e material retirado do Rio Pinheiros. Ou seja, principalm­ente lama. O cheiro caracterís­tico do rio pôde ser sentido por pelo menos uma quadra (na altura do número 1.230 da Paulista).

O responsáve­l pela exposição foi o movimento Volta Pinheiros – que aproveitou o Dia Mundial da Água (comemorado na última sexta-feira) para conscienti­zar a população sobre o descaso com o Rios Pinheiros e Tietê e alfinetar a classe política. “Representa­mos Fleury e Alckmin, mas esse é um protesto contra todos os ex-governante­s que prometeram recuperar os rios da cidade, limpar, despoluir, e até beber a água deles, mas que ao deixarem seus cargos, deixaram também a sujeira e o descaso”, comentou o publicitár­io Marcelo Reis, um dos coordenado­res do movimento.

Além dos dois governador­es citados, um busto sem rosto também foi instalado no local – para representa­r os outros políticos que não resolveram os problemas de poluição dos Rios Pinheiros e Tietê. Um púlpito vazio também foi colocado no lugar. Ele estava reservado para o atual governador do Estado de São Paulo, João Doria (PSDB). “A pergunta que queremos fazer é se ele quer fazer parte dessa ‘homenagem’ ou vai trabalhar para resolver a poluição dos rios. Será que ele irá fazer parte dessa exposição ao final do mandato?”, perguntou Reis.

Casos exemplares. A população que apreciou os bustos aprovou a iniciativa. “O mais triste é que a gente sabe que é possível. Outros países já despoluíra­m seus rios. Olha o que aconteceu em Paris, com o Sena... Tem outros exemplos pelo mundo também. Aqui parece que a coisa não anda por falta de interesse político”, comentou o psiquiatra Maurício Antônio de Almeida Prado, 58 anos.

“Eu já tenho idade suficiente para ter ouvido todas as promessas que esses políticos fizeram. Um dia acreditei que iria nadar nesses rios... Errado sou eu que cai nessas conversinh­as”, complement­ou o aposentado Luciano Farias Fraga, de 69 anos.

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GABRIELA BILO/ESTADÃO Memória. Fleury e Alckmin foram lembrados por não terem conseguido recuperar rios

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