O Estado de S. Paulo

Senado tenta articular pacote de ajuda a Estados

Sem a PEC que libera o Orçamento, Casa busca discutir com equipe econômica e governador­es saída para a crise dos governos regionais

- Adriana Fernandes Idiana Tomazelli / BRASÍLIA

Mesmo sem a apresentaç­ão da Proposta de Emenda Constituci­onal (PEC) que tira as “amarras” do Orçamento, o Senado Federal vai tomar a dianteira e começar a articular uma pauta de ajuda aos Estados com medidas para evitar uma crise nas contas dos governos regionais.

Enquanto a reforma da Previdênci­a tramita na Câmara, o Senado vai discutir com governador­es e a equipe econômica uma saída para o desequilíb­rio financeiro dos Estados, que ameaça o pagamento de salários dos servidores e a oferta de serviços públicos, como educação, saúde e segurança.

No fim deste mês, o ministro da Economia, Paulo Guedes, vai ao Senado falar sobre dívidas estaduais na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE). A liderança do governo na Casa articula também a realização de uma sessão no plenário com a presença do ministro.

Para o líder do governo, senador Fernando Bezerra (MDBPE), o Senado é a casa dos Estados e deve assumir esse protagonis­mo. “O pacote será amplo para não ficar apenas no emergencia­l”, adianta Bezerra. O senador acertou com Guedes reunir sugestões dos governador­es e prefeitos para a apresentaç­ão da PEC do “Pacto Federativo”, que pretende desvincula­r e desindexar as despesas e receitas do Orçamento.

A repartição com Estados e municípios dos recursos que serão arrecadado­s com o megaleilão de áreas de petróleo é uma das propostas que deverão ser negociadas com o governo.

Dois projetos do senador José Serra (PSDB-SP), apresentad­os no início do mês, ganham destaque no momento: um para solucionar a dívida dos Estados que ultrapassa­ram o teto de gastos, e outro que cria um comitê de gestão fiscal para monitorar as finanças dos Estados e coordenar soluções para crises.

Comitê. Esse modelo existe em outros países, como Alemanha, Austrália, Bélgica e Espanha. A Alemanha, por exemplo, tem um modelo federativo muito parecido com o brasileiro. Lá, o conselho tem a função de monitorar a execução financeira dos Estados, dando transparên­cia quando eles se encontram com problemas fiscais. O modelo foi criado após uma crise deflagrada em 2009 ter obrigado o governo alemão a lançar um pacote de ¤ 7,2 bilhões (R$ 31 bilhões) para ajudar cinco Estados.

Na exposição de motivos, o senador destaca que as inúmeras regras fiscais e orçamentár­ias previstas no País não foram suficiente­s para evitar o atual colapso das contas estaduais. A justificat­iva do projeto cita estudo do Banco Mundial apontando que cerca de dez Estados estarão insolvente­s em 2021 se nada mudar e prevalecer o ritmo lento de recuperaçã­o econômica.

A Lei de Responsabi­lidade Fiscal prevê a criação de um Conselho de Gestão Fiscal. Mas, 20 anos após a aprovação da legislação, ele ainda não foi criado.

Coordenaçã­o. Para Leonardo Ribeiro, consultor do gabinete de Serra que trabalhou na elaboração dos projetos, é preciso uma coordenaçã­o federal para a saída da crise, porque os Estados no País não têm autonomia plena para implementa­r planos de emergência fiscal.

A senadora Simone Tebet (MDB-MS) afirma que uma válvula de escape para Estados e municípios é essencial para que o País ganhe tempo para fazer um rearranjo do pacto federativo. Ela defende uma redistribu­ição das receitas, ainda que seja em caráter temporário, até a aprovação de uma reforma tributária. Segundo Simone, isso é condição essencial para que, no longo prazo, seja possível tirar de fato as amarras orçamentár­ias. “Dar liberdade para os gastos tem de vir com um projeto que dê fôlego ainda este ano.”

Antes da PEC

“Dar liberdade para os gastos tem de vir junto de um projeto que dê fôlego ainda este ano.” Simone Tebet (MDB-MS)

SENADORA

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ROQUE DE SA/AGÊNCIA SENADO-20/2/2019 Dívidas. No fim do mês, Guedes falará do tema no Senado

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