O Estado de S. Paulo

UM TRABALHO DE PAI PARA FILHO

Muitos funcionári­os da Ford seguiram os passos de algum parente e agora temem ser demitidos

-

Tomas Ormundo tinha um ano quando o pai, migrante recém-chegado da Bahia, conseguiu emprego na Ford como supervisor de manutenção e lá trabalhou por 30 anos até se aposentar. Ele sempre admirou o trabalho do pai e, aos 20 anos, seguiu seu caminho e ingressou na montadora como mecânico de manutenção. Hoje, aos 51 anos, é analista de processos e teme a demissão. É com seu salário e o da mulher, Alessandra, que consegue manter o sustento da família, da casa e da escola dos quatro filhos: Rafaela, de 9 anos, os gêmeos Pedro e Maria Júlia, de 10, e Isabela, de 19.

Toda a família, quando pode, acompanha Ormundo nas manifestaç­ões contra o fechamento da fábrica e pela manutenção dos empregos dos cerca de 3 mil funcionári­os diretos e 1,5 mil terceiriza­dos. “Conversamo­s abertament­e com as crianças sobre a situação e elas sabem dos problemas que podemos ter.”

Segundo o Sindicato dos Metalúrgic­os do ABC, o salário médio dos funcionári­os é de R$ 6 mil, similar ao de outras montadoras da região.

Quem também seguiu o exemplo do pai – operário da Ford por 18 anos – e do tio – na empresa há 28 anos – é o montador Ramon Voga, de 38 anos. Formado em Farmácia, trabalhou por sete anos na área, mas sonhava em produzir carros. Em 2008, conseguiu a vaga e, desde então, vinha crescendo profission­almente. “Eu amo o que faço”, diz. “A notícia do fechamento chocou a todos, pois muitos sonhos serão interrompi­dos.” Pai de gêmeas de 3 anos, Voga teme pela perda de renda e diz que a direção da empresa é desrespeit­osa com os trabalhado­res da forma como está agindo.

Jailson dos Santos, de 48 anos, trabalhou em três fábricas da Ford nos últimos 24 anos. Começou em 1995 na unidade de fundição em Osasco (SP), que fechou as portas três anos depois. Foi transferid­o para a de caminhões no bairro do Ipiranga, onde ficou até 2001, quando a Ford vendeu a área e concentrou a produção em São Bernardo. Hoje, teme pelo que vem pela frente, pois não há mais chance de transferên­cia. “Se perder esse emprego dificilmen­te consigo outro igual”, diz. Ele mora em Carapicuíb­a (SP) com a mãe e três irmãos, um deles especial. “Me preocupo muito, pois pago caro por um convênio bom para ele e, sem trabalho, o impacto nas despesas será grande.”

 ?? FELIPE RAU/ESTADÃO ?? União. A família de Tomas Ormundo, sempre que pode, participa das manifestaç­ões contra o fechamento da fábrica
FELIPE RAU/ESTADÃO União. A família de Tomas Ormundo, sempre que pode, participa das manifestaç­ões contra o fechamento da fábrica

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil