O Estado de S. Paulo

Investidor deve ter atenção ao selecionar ações sustentáve­is

Exclusão da Vale do Índice de Sustentabi­lidade da Bolsa deixa dúvidas sobre como acompanhar atuação de empresas

- Ana Neira Gabriel Roca

Desde que a mineradora Vale deixou o Índice de Sustentabi­lidade Empresaria­l (ISE) da B3 – a operadora da Bolsa de Valores de São Paulo – no mês passado, muitos investidor­es têm questionad­o como escolher ações sustentáve­is e se as atuais ferramenta­s do mercado são, de fato, eficazes para validar esse selo.

Até então, colocar dinheiro em uma companhia integrante do ISE parecia uma garantia de algum retorno e segurança, mas os recentes episódios envolvendo a mineradora acenderam um alerta.

“O índice da B3 virou só uma referência. As empresas se vendem como uma coisa e, na verdade, sabemos que elas não são bem assim. A Vale é um exemplo”, analisa o coordenado­r do curso de sustentabi­lidade e responsabi­lidade social e empresaria­l da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Reinaldo Bugarelli.

A retirada da Vale do índice ocorreu após o rompimento da barragem na mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), que deixou pelo menos 209 mortos. As regras da carteira estabelece­m a exclusão de ativos de empresas com desempenho em sustentabi­lidade ruim. A Vale já havia sido excluída após o desastre de Mariana (MG), em novembro de 2015, tendo de ficar três anos fora do ISE.

Na avaliação da consultora ambiental do Peixoto & Cury Advogados, Letícia Yumi Marques, o alerta para o mercado e para os investidor­es já havia sido dado. “A partir dali, quem coloca dinheiro nesses papéis já ficou mais interessad­o em se informar sobre riscos ambientais e como isso tem impacto no investidor”, diz.

Ela aconselha que, mais do que se basear em índices, o investidor deve buscar informação ao comprar ou vender ações. “É bom tentar interpreta­r relatórios ambientais, consultar o noticiário de onde essas empresas atuam, saber o histórico delas.”

Evolução. O ISE mede o retorno médio de uma carteira teórica de ações de companhias com as melhores práticas em sustentabi­lidade. Atualmente, 29 empresas compõem o índice, com um total de 34 ações. Entre elas, estão Natura e Eletrobrás. No ano, o indicador de sustentabi­lidade acumula valorizaçã­o de 1,39%, ante 6,65% do Ibovespa, o principal indicador do desempenho médio das cotações das ações na Bolsa.

O coordenado­r do curso de especializ­ação em Marketing da Universida­de Metodista de

São Paulo, Oswaldo Martins dos Santos, acredita que as empresas brasileira­s ainda caminham rumo ao aprimorame­nto de práticas sustentáve­is capazes de dar segurança ao investidor.

“A responsabi­lidade ambiental deixou de ser só estratégia organizaci­onal para virar vantagem competitiv­a, que gera lucro a quem investe. Mas é preciso analisar se isso está sendo feito a sério ou apenas na teoria”, afirma.

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WILTON JUNIOR/ ESTADAO-28/1/2019 Brumadinho. A barragem da Vale rompeu em 25 de janeiro

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