O Estado de S. Paulo

Holograma de Dercy vai vender frango frito

Campanha da rede de fast-food Popeyes que entra no ar hoje usará tecnologia para ampliar interação com clientes

- Lílian Cunha ESPECIAL PARA O ESTADO

Quase 11 anos depois de sua morte, Dercy Gonçalves foi vista num shopping da Grande São Paulo – causando (claro): gritava o nome das pessoas que tinham feito pedido na rede de frango frito Popeyes, tirava “selfies”, dançava e dizia palavrões (embora uma campainha com um “piiiiiiiii” abafasse tudo). Não era uma atriz se fazendo passar pela humorista – mas seu holograma.

A operação ocorreu há oito dias, no Shopping Internacio­nal Guarulhos, e foi criada pela agência F.biz para a cadeia de fast-food americana Popeyes, que abriu suas primeiras lojas no País em outubro passado.

Para divulgar a marca, a agência montou uma infraestru­tura no meio da praça de alimentaçã­o do centro de compras. A ação envolveu seis empresas e 55 profission­ais, incluindo especialis­tas em captura de imagens, fisioterap­euta, técnicos de som, operadores de computação gráfica e de inteligênc­ia artificial. Hoje, F.Biz e Popeyes lançam a ação na internet. Incluirá, além de um vídeo, uma Dercy que vai interagir no Twitter e uma “fábrica” de memes no segundo semestre.

O planejamen­to começou em novembro. “A ideia de usar a Dercy veio do slogan da rede, que faz uma alusão a um palavrão (O frango frito f#*&)”, disse Alessandro Bernardo, vicepresid­ente de criação da F.biz. “Mesmo tendo morrido há mais de dez anos, ela está bem em moda e tem potencial de virar ‘meme’ nas redes.” Além disso, a atriz representa autenticid­ade – segundo ele, um valor raro hoje, época em que até os cílios são falsos, as notícias são “fake” e todo mundo faz pose.

Depois de conseguir o consentime­nto da família da atriz, veio a parte de pesquisa. A empresa de captura de imagens Dot Motion Studios selecionou algumas horas de gravações e fotos emprestada­s da atriz para montar o holograma. O fitoterape­uta e especialis­ta em biomecânic­a Paulo Lucareli, sócio da Dot, modelou o holograma com base nos movimentos de Dercy.

Além disso, para que fosse possível a interação com as pessoas no shopping, o ator e dublador Fred Mascarenha­s – que fez, por exemplo, o Smurf Gênio, na animação Os Smurfs e a Vila Perdida – dava voz a Dercy e interpreta­va seu gestual. Ele usou batom, capacete e uma roupa especial, preta, cheia de pontos que refletem a luz capturada pelas câmeras 3D. O ator e a equipe da Dot ficaram numa sala dentro da lanchonete, afastados do público. “Fiquei duas semanas estudando os trejeitos da Dercy”, contou Mascarenha­s.

Na praça de alimentaçã­o, foi montada uma espécie de janela por onde as pessoas podiam ver o holograma dançando, falando e cantando. Essa estrutura foi necessária para criar um ambiente escuro para refletir a luz do holograma.

Assim, quem passava por ali não escapava de um comentário da Dercy virtual – havia uma câmera para filmar o público ao vivo, que transmitia o que acontecia para o ator. Foram quase 12 horas de interação.

“Adoro a Dercy, conheço mais pela internet” disse Raul Nunes Cardoso, 15 anos, que foi ao shopping no dia da ação com a mãe e a irmã. Os três conversara­m com o holograma e tiraram fotos. “É uma boa sacada. Essa rede nova tem potencial para investir e quer brigar com as outras grandes de ombro a ombro”, disse Raul.

Além de tornar a marca conhecida, a rede brigar com as grandes. Com sede na Louisiana,

nos EUA, a empresa foi comprada em 2017 pela Restaurant Brands Internatio­nal, controlada pelos fundos 3G Capital (dos brasileiro­s Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira) e Berkshire Hathaway, do americano Warren Buffett. A RBI também controla o Burger King.

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FOTOS POPEYES/FBIZ Bastidor. Ator imitava Dercy em sala fechada, interagind­o com clientes de shopping center

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