• PF rebate presidente
Polícia Federal diz que saída de superintendente não tem relação com ‘produtividade’, como afirmou Bolsonaro ao antecipar mudança
Saída de Ricardo Saadi da chefia da PF no RJ foi anunciada por Bolsonaro, que alegou “questão de produtividade”. PF diz que troca estava planejada.
A Polícia Federal contradisse ontem o presidente Jair Bolsonaro e apresentou uma versão diferente para a troca do superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro, Ricardo Saadi.
Enquanto o presidente alegou “questão de produtividade” do delegado em entrevista pela manhã, a PF disse, horas depois, em nota, que a substituição já estava planejada e não tem “qualquer relação com desempenho”.
A nota também informa que o delegado Carlos Henrique Oliveira Sousa será indicado como substituto de Saadi no Rio. O Estado apurou que a divulgação do novo delegado foi uma forma de a PF evitar que Bolsonaro ceda a uma indicação política para preencher a vaga.
Na entrevista, o presidente disse que ainda não tinha um nome. “Todos os ministérios são passíveis de mudança. Eu vou mudar, por exemplo, o superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro. Motivo: é questão de produtividade”, afirmou Bolsonaro sem ser questionado diretamente sobre o tema. “Nome (de substituto) eu ainda não tenho. Não vou entrar em detalhes. É sentimento. Eu tenho que resolver os problemas do Brasil todo.”
Ao ser questionado se havia problemas na superintendência do Rio que justificassem a troca, Bolsonaro declarou que existem problemas “em todas as áreas” do País. “Eu não quero esperar acontecer o problema para encontrar uma solução.”
O presidente afirmou ainda que, em relação a qualquer cargo na administração, “se tiver que mudar, a gente muda”. “O único que levou facada e ralou quatro anos para chegar aqui fui eu. Ponto final. O povo confiou em mim o destino da Nação. Eu tenho que decidir.”
A PF não informou qual será a nova função de Saadi, que ontem já deixou o cargo ocupado no Rio desde o início do ano passado.
Na nota, o órgão diz ainda que a substituição nos cargos
de chefia é normal em um cenário de novo governo. De janeiro para cá, 11 superintendentes já foram trocados.
Na cúpula do órgão, o trabalho de Saadi no Rio era bem avaliado. Segundo um auxiliar dele, a notícia foi recebida com surpresa. A definição dos superintendentes regionais é de responsabilidade apenas do diretor-geral da PF, Maurício Valeixo. Mas os nomes indicados podem ser rejeitados pelo presidente da República, que tem o poder de vetar qualquer cargo em comissão.
Críticas. Entidades da categoria criticaram a forma como o presidente anunciou a mudança. O Sindicato dos Delegados de Polícia Federal em São Paulo – Estado onde Saadi atuou por vários anos – emitiu nota de repúdio. “A fala do presidente, mais que desrespeitosa, atenta contra a autonomia da Polícia Federal”, diz nota. “A PF é uma instituição de Estado e deve ter autonomia para se manter independente e livre de quaisquer ingerências políticas.”
Sob o comando de Saadi, a PF no Rio atua em casos como o da Operação Lava Jato e da Operação Furna da Onça, que investiga suspeitas de desvios de recursos públicos entre servidores e deputados na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
A superintendência do Rio também auxilia o Ministério Público Eleitoral em uma investigação sobre possível omissão de bens à Justiça por parte do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), primogênito do presidente.
Em documento divulgado ontem pelo jornal O Globo, o Ministério Público solicitou, no dia 24 de junho, que a PF tome o depoimento de Flávio, além de que solicite ao senador suas declarações de Imposto de Renda nos anos de 2013 e 2014.
A investigação não tem relação com a que apura movimentações atípicas de R$ 1,2 milhão do ex-policial militar Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio, detectadas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), conforme revelado pelo Estado.
Os superintendentes da PF não conduzem investigações, mas têm o poder de escolher os delegados que atuam nos casos e, com justificativa, trocar os que presidem inquéritos já em andamento. Razão pela qual a corporação reage fortemente a qualquer tentativa de indicação política. Uma fonte da PF afirmou que, por lá, ninguém vai aceitar o que ocorre na Receita Federal, alvo de constantes críticas de Bolsonaro.