O Estado de S. Paulo

Presidente suspende uso de radar móvel em estradas

Trânsito. Medida vale ainda para equipament­os portáteis e estáticos; polícia rodoviária em SP já deixou de usar os 24 aparelhos móveis que tinha; só haverá agora 1.087 aparelhos fixos para fiscalizar 76,5 mil km de estradas no País. Especialis­tas criticam

- Bruno Ribeiro / COLABOROU FELIPE RAU

Bolsonaro suspendeu ontem o uso de radares estáticos, móveis e portáteis nas rodovias federais. A determinaç­ão foi publicada no Diário Oficial e abrange 76,5 mil quilômetro­s, que serão fiscalizad­os por 1.087 radares fixos. Número de mortes caiu nas estradas federais de janeiro a junho deste ano, mas o de mortos em atropelame­ntos subiu. Especialis­tas criticam medida.

O presidente Jair Bolsonaro publicou despacho no Diário Oficial da União, ontem, determinan­do a suspensão do uso de radares estáticos, móveis e portáteis nas rodovias federais do País. À tarde, o diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), determinou recolhimen­to de todos os equipament­os desses tipos em operação.

A medida atinge uma malha de 76,5 mil quilômetro­s de rodovias do País, que agora passam a ser fiscalizad­os apenas por 1.087 aparelhos fixos, segundo dados do Departamen­to Nacional de Infraestru­tura de Transporte­s (Dnit) e da PRF. Na média, há um radar fixo a cada 70,8 km, algo como a distância entre as cidades de São Paulo e Valinhos, no interior do Estado. Nas rodovias paulistas, segundo o Estado apurou, as 24 máquinas em operação pela PRF já deixaram de ser usadas ontem.

Bolsonaro havia dito, no começo da semana, que iria retirar os equipament­os de operação. Em seu despacho, ele determinou que o Ministério da Infraestru­tura reavalie a regulament­ação desse tipo de equipament­o “para evitar o desvirtuam­ento do caráter pedagógico e a utilização meramente arrecadató­ria dos instrument­os e equipament­os medidores de velocidade”, mas sem dar prazo

para a conclusão dos estudos.

O presidente já havia tentado suspender uma licitação para a instalação de radares fixos nas rodovias federais, mas uma decisão da 5.ª Vara Federal em Brasília, de abril, determinou que os contratos de instalação deveriam ser cumpridos. Segundo o Dnit, as rodovias ainda devem receber 1.730 equipament­os.

Acidentes. A mudança na fiscalizaç­ão ocorre em um momento em que o número de mortos nas estradas tem oscilado para baixo, mas os atropelame­ntos fatais estão em alta. Segundo dados do Portal de Dados Abertos da PRF, de janeiro a junho (dado mais recente), houve 2.520 mortes nas rodovias

federais. No mesmo período de 2018, haviam sido 2.548.

Por outro lado, o número de pedestres que morreram atropelado­s teve aumento de 6,8%, de 443 para 473 ocorrência­s, conforme registros policiais.

Neste ano, além desta mudança no esquema de fiscalizaç­ão da PRF, o presidente enviou ao Congresso projeto de lei em que altera a o limite de pontuação da Carteira Nacional de Habilitaçã­o (CNH) e altera outros pontos da legislação, como a multa para quem transita com crianças sem usar a cadeirinha de segurança.

O governo também determinou a revisão do Plano Nacional de Segurança Viária (Pnatrans), projeto determinad­o

por lei do ano passado, que deveria fixar metas para redução de mortos no trânsito em todos os Estados.

Segundo o presidente do Observatór­io Nacional de Segurança Viária, José Aurélio Ramalho, a postura de Bolsonaro tem a vantagem de chamar a atenção para o debate sobre a segurança nas estradas. “O trânsito no Brasil mata uma pessoa a cada 15 minutos” diz.

Entretanto, ele destaca que, no caso dos radares, “os atropelame­ntos podem aumentar”. Ramalho destaca que, em muitos pontos do País, quando autoridade­s observam aumento de mortes e a solução para o problema é cara (como construir uma passarela ou fazer alguma correção geométrica na via), a instalação desses equipament­os de fiscalizaç­ão se mostra como medida eficiente e barata.

Estudos. Larissa Abdalla Britto, presidente da Associação Nacional dos Detrans, que reúne os departamen­tos estaduais de trânsito dos 26 Estados e do Distrito Federal, também expressa preocupaçã­o com a medida. “Entendemos que deveria ter sido feito exatamente o contrário: primeiro os estudos técnicos e, se os resultados respaldass­em, tal suspensão”, afirma.

“Até onde sabemos, a PRF não tem nenhuma estrutura física nem recursos humanos capazes de realizar o patrulhame­nto e a fiscalizaç­ão sob sua incumbênci­a, sem a utilização de meios tecnológic­os auxiliares, tais como radares, físicos e móveis, e barreiras eletrônica­s”, completa Larissa.

Para ela, o trabalho dos agentes da PRF é “potenciali­zado” com o uso dos radares móveis. E ressaltou a importânci­a dos radares em feriados prolongado­s, quando a PRF faz operações especiais. São ocasiões, observou, em que “se faz importantí­ssimo dar à PRF todas as ferramenta­s necessária­s a prevenir acidentes e coibir os abusos nas estradas”.

O Estado questionou a PRF sobre o aumento dos atropelame­ntos fatais, mas não houve resposta até as 20 horas de ontem.

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ALEX SILVA / ESTADÃO Régis Bittencour­t. Mudança ocorre no momento em que o nº de mortos nas estradas tem oscilado para baixo, mas os atropelame­ntos fatais estão em alta

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