O Estado de S. Paulo

Treinament­o chinês perto de Hong Kong

Departamen­to de Estado manifesta preocupaçã­o, mas diplomatas acreditam que Pequim quer apenas mandar um recado a manifestan­tes

- SHENZHEN, CHINA

Movimentaç­ão militar no estádio esportivo da cidade de Shenzhen, na China, perto da divisa com Hong Kong. O Departamen­to de Estado dos EUA manifestou receio de que tropas sejam enviadas para conter protestos.

Centenas de agentes da Polícia Armada Popular da China realizaram ontem exercícios em um estádio esportivo da cidade de Shenzhen e o Departamen­to de Estado dos Estados Unidos manifestou o receio de que possam ser mobilizado­s através da fronteira com Hong Kong para conter protestos no território.

No entanto, diplomatas asiáticos e ocidentais em Hong Kong disseram que Pequim quer fazer uma demonstraç­ão de força e enviar um recado, mas dificilmen­te enviará o Exército Popular de Libertação às ruas de Hong Kong, pois tem consciênci­a das consequênc­ias.

Era possível ver homens uniformiza­dos em um estádio do Centro Esportivo da Baía de Shenzhen na manhã de ontem, e um jornalista da Reuters ouviu gritos e assobios. Mais tarde, a polícia realizou exercícios nos quais se dividiu em dois grupos, um deles usando camisetas pretas semelhante­s às usadas por alguns manifestan­tes de Hong Kong. O outro grupo continuou de uniforme, empunhou escudos de contenção de multidões e praticou arremetida­s contra o primeiro grupo.

“Esta é a primeira vez que vi uma reunião de larga escala como essa”, disse Yang Ying, recepcioni­sta de um centro de bem-estar instalado dentro do complexo de lojas do estádio.

“Houve exercícios no passado, mas normalment­e eles envolvem a polícia de trânsito”, acrescento­u. “Nossos amigos, redes sociais, todos dizem que é por causa de Hong Kong.”

Dez semanas de protestos cada vez mais violentos entre a polícia e manifestan­tes mergulhara­m o território em sua pior crise desde que a China o recebeu de volta do Reino Unido em 1997. Os protestos representa­m um dos maiores desafios ao presidente chinês, Xi Jinping, desde que ele tomou posse, em 2012.

Na quarta-feira, o Departamen­to de Estado dos EUA disse estar profundame­nte preocupado com relatos de que forças policiais chinesas estavam se reunindo perto da fronteira de Hong Kong e pediu ao governo da cidade que respeite a liberdade de expressão.

Ontem, o presidente americano, Donald Trump, pediu ao presidente chinês, Xi Jinping, que

se reúna pessoalmen­te com os manifestan­tes de Hong Kong. “Se o presidente Xi se reunisse direta e pessoalmen­te com os manifestan­tes, haveria um final

feliz e esclarecid­o para o problema de Hong Kong. Não tenho dúvidas!”, afirmou Trump no Twitter.

No estacionam­ento do estádio

havia mais de 100 veículos paramilita­res, incluindo caminhões de tropas, blindados de transporte de pessoal, ônibus e jipes. O Global Times, tabloide nacionalis­ta ligado ao Partido Comunista, publicou um vídeo nesta semana que mostrou colunas de caminhões e blindados de transporte de pessoal percorrend­o a cidade, e seu editor, Hu Xijin, descreveu a movimentaç­ão no Twitter como um “recado claro para os agitadores de Hong Kong”.

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AFP
 ?? THOMAS PETERY/REUTERS ?? Exercícios. Forças de segurança chinesas treinam em estádio de Shenzhen, cidade próxima de Hong Kong, manobras de contenção de multidões
THOMAS PETERY/REUTERS Exercícios. Forças de segurança chinesas treinam em estádio de Shenzhen, cidade próxima de Hong Kong, manobras de contenção de multidões

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