O Estado de S. Paulo

‘EU COMPRO COM DESCONTO’

Controlado­r da Via Varejo fala da estratégia de aumentar a aposta em aviação executiva e comprar varejista na baixa

- Michael Klein CONTROLADO­R DA VIA VAREJO

Após elevar participaç­ão na empresa dona da Casas Bahia e do Ponto Frio, Michael Klein prioriza operação digital e aposta na aviação executiva.

O braço de aviação executiva do Grupo CB sofre com a crise, mas Michael Klein não para de investir. Nesta semana, comprou dois helicópter­os por R$ 62 milhões. Comprar quando o setor ou o vendedor está em crise é sua estratégia, a mesma usada para arrematar, em junho, 1,6% das ações da Via Varejo, elevando a participaç­ão da família na empresa dona de Casas Bahia e Ponto Frio para 27,7% – ele havia vendido o controle da Casas Bahia ao Grupo Pão de Açúcar em 2009.

Agora, no controle da companhia novamente, quer reverter o prejuízo do ano passado priorizand­o a operação digital e as lojas deficitári­as. Prevê que será necessário um ano e meio para isso acontecer, mesmo tempo que deve levar para o Brasil começar a se recuperar. Para ele, o governo está indo bem, mas deveria “lavar roupa suja em casa”.

• O sr. estava animado com a aviação executiva. Os resultados estão vindo como esperados?

O ano passado foi melhor por causa da Copa do Mundo, mandamos dois aviões para a Rússia, e das eleições, voamos para quatro candidatos à presidênci­a. Faturamos R$ 110 milhões e, para este ano, a meta é R$ 159 milhões. Mas acho que esse número não vai acontecer. No primeiro semestre, faturamos R$ 108 milhões, mas porque vendemos uma aeronave, aí o número sobe.

• Esse resultado deve frear os investimen­tos do grupo no setor? Ganhamos licitação para um terceiro hangar no aeroporto Santos Dumont (RJ) e pegamos outro no de Pampulha (MG). Tem mais dois helicópter­os que compramos, recebemos certificaç­ão para fazer manutenção de aeronave de terceiros e pedimos licença para fazer transporte aeromédico. • O Grupo CB se desfez de alguns imóveis recentemen­te. Está diminuindo a aposta no setor? Troquei de ativos. Vendi 26 lojas que eram alugadas para a C&A e, com o dinheiro (R$ 100 milhões), comprei ações da Via Varejo. Tirei de um bolso e pus em outro. Vendi para não me endividar na compra das ações.

• O sr. se arrependeu de vender as Casas Bahia para o Grupo Pão de Açúcar?

A gente não pode se arrepender do que faz. Surgiu a oportunida­de.

O Casino (que assumiu o controle do Pão de Açúcar em 2012) entrou em recuperaçã­o judicial (a holding controlado­ra pediu proteção judicial contra credores) na França. Automatica­mente, tinha de vender alguma coisa aqui para mandar dinheiro para lá. (Pensei:) ‘quem sabe é a oportunida­de de comprar mais barato’?

• A Via Varejo estava à venda havia dois anos e sempre houve rumores de que o sr. estava interessad­o.

Ele (Jean-Charles Naouri, controlado­r do Casino) queria vender para alguém que fosse controlado­r e pagasse ágio sobre as ações. Falei que não pagava ágio e comprava toda a parte dele com desconto. Meu pai me ensinou a comprar com desconto.

• O Casino administro­u mal a Via Varejo ou apenas não era prioridade dele?

Os dois. Não foi foco por falta de experiênci­a no ramo. Ele (Naouri) é bom administra­dor, tanto que tem loja no mundo inteiro. Mas não é especializ­ado em eletrodomé­sticos. Tratava de uma loja de eletrodomé­sticos como se fosse um supermerca­do. Não dá.

• Como o sr. pretende virar o jogo? Nesse período de crise na Via Varejo, o Magazine Luiza decolou com vendas pela internet. Pelas falhas que houve na Via Varejo, o faturament­o foi caindo. A Luiza Helena (Trajano, presidente do conselho do Magazine) e, agora, o Frederico (presidente), que são do ramo, souberam aproveitar as oportunida­des que deixamos. Foi um trabalho muito bom, tanto é que saiu o resultado deles: 41% do faturament­o vem do online. Na Via Varejo não chega a 15%.

• No processo de se voltar ao digital, lojas serão fechadas? Isso eles (a direção executiva) que avaliam. Estou lá só como presidente do conselho. Só posso dar orientação.

• Qual a atual orientação? Online e recuperar as lojas deficitári­as.

• Quanto tempo deve levar para recuperá-las?

Um ano e meio dois anos.

• Como o sr. avalia o governo? Acho bom. Eles estão no caminho certo.

• A equipe econômica o sr. diz? E a articulaçã­o política?

Acho que roupa suja se lava em casa. Eles estão expondo. Se eles têm acertos para fazer, deveriam fazer dentro de casa.

• Há muitas críticas por ser um governo autoritári­o.

Para a economia, ter uma coisa mais autoritári­a, falar qual é o caminho certo, é até bom para o País. Antes, (os políticos diziam) ‘aprovo só se você me der essa estatal’. Como esse governo é mais autoritári­o, já mostrou que não tem negociação. Entenda autoritári­o não como ditadura. Tem diferença. Autoritári­o com bons propósitos. Mas confio que o País vai melhorar no médio prazo. 2020 ainda vai ser difícil.

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SERGIO CASTRO/ESTADÃO - 22/8/2016 Rival. Klein diz que Luiza aproveitou fraqueza da Via Varejo

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