O Estado de S. Paulo

Sessão solene no Senado comemora 40 anos da ANJ

No evento, executivos do setor defendem liberdade de imprensa e criticam MP do governo sobre publicação de balanços

- Mariana Haubert / BRASÍLIA

O Senado realizou ontem uma sessão solene para comemorar os 40 anos da Associação Nacional de Jornais (ANJ). No evento, executivos do setor defenderam a liberdade de expressão e de imprensa e criticaram as motivações expressada­s pelo presidente Jair Bolsonaro para editar a Medida Provisória 892, que cancelou a obrigatori­edade da publicação dos balanços empresaria­is em jornais. Para eles, empresas globais de tecnologia também devem ser enquadrada­s nas mesmas regras seguidas pelas empresas jornalísti­cas. O diretor-presidente do Grupo Estado e vice-presidente da ANJ, Francisco Mesquita Neto, participou do evento.

Em discurso, o presidente da ANJ, Marcelo Antônio Rech, vice-presidente editorial e institucio­nal do Grupo RBS, disse que o Brasil, aos olhos internacio­nais, “começa a ingressar no rol de países que usam instrument­os oficiais para retaliar veículos e intimidar a imprensa” com a edição da medida provisória.

Bolsonaro editou a MP em 5 de agosto e, ao justificar a medida, afirmou que era uma “retribuiçã­o” à forma como foi tratado pela imprensa durante a campanha eleitoral do ano passado. Para Rech, a MP ainda é uma afronta ao Congresso, que, em abril, aprovou projeto, depois sancionado por Bolsonaro, que dava prazo para a transição digital na divulgação de balanços.

“Por que recorrer à força do cargo para enfraquece­r jornais e acelerar a formação dos chamados desertos de notícias? Para se ter uma ideia do que significa devastação econômica e política sobre o jornalismo profission­al, deve-se olhar para um vizinho nosso: a Venezuela”, disse Rech.

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) disse durante a sessão que seu partido ingressou no Supremo Tribunal Federal com uma ação contra a MP. “Não pode ser debatido e aceito o ataque que ele faz como retaliação à atuação da imprensa livre”, afirmou o parlamenta­r.

A sessão solene foi realizada a pedido do senador Lasier Martins (Podemos-RS). Para ele, as mudanças no cenário social e político e a reestrutur­ação do mercado de comunicaçã­o mostram que a liberdade de opinião “continua sendo a base de todas as demais liberdades civis, em que a imprensa livre e responsáve­l tem um papel único”.

O presidente da Associação Nacional de Editores de Revistas (Aner), Rafael Menin Soriano, executivo jurídico do grupo Globo, defendeu uma simetria no tratamento dado às empresas de comunicaçã­o e às empresas de tecnologia. “As companhias de tecnologia são – e não há mais como negar – mídia. Portanto, devem ser cobradas e responsabi­lizadas como as demais organizaçõ­es desse setor, entre elas as noticiosas”, disse.

O presidente da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), Paulo Ricardo Tonet Camargo, vicepresid­ente de Relações Institucio­nais do grupo Globo, destacou que esses grupos de tecnologia atuam com regras próprias e “diariament­e revelam violações de privacidad­e, abusos de poder econômico e danos concretos a grandes democracia­s pelo mundo”.

 ?? PEDRO FRANÇA/AGÊNCIA SENADO ?? Discurso. O presidente da ANJ, Marcelo Rech, no Senado
PEDRO FRANÇA/AGÊNCIA SENADO Discurso. O presidente da ANJ, Marcelo Rech, no Senado

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil