O Estado de S. Paulo

Israel barra duas democratas a pedido de Trump

Intervençã­o. Vice-chanceler israelense diz que autorizaçã­o de entrada foi negada porque elas pretendiam visitar a Cisjordâni­a, mas, horas antes do anúncio, líder americano afirmou que seria demonstraç­ão de fraqueza Netanyahu deixar suas adversária­s entrar

- JERUSALÉM / NYT e REUTERS, TRADUÇÃO DE CLAUDIA BOZZO

A disputa do presidente americano, Donald Trump, com congressis­tas democratas chegou ao cenário internacio­nal ontem, quando Israel negou a entrada no país a duas das políticas poucas horas após o republican­o pedir publicamen­te o bloqueio. A viceminist­ra das Relações Exteriores de Israel, Tzipi Hotovely, afirmou a uma rádio que elas pretendiam visitar a Cisjordâni­a, mas o acesso foi negado.

A intervençã­o de Trump foi um atípico passo para influencia­r um país aliado a punir seus adversário­s políticos internos. A imprensa americana já havia noticiado na semana passada que Trump estava pressionan­do o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, a rejeitar a entrada de Ilhan Omar e Rashida Tlaib.

No mês passado, em comentário­s condenados como racistas, Trump disse que quatro congressis­tas – além de Omar (somali) e Tlaib (palestina), as deputadas Alexandria OcasioCort­ez (de origem latina) e Ayanna S. Pressley (negra) – deveriam “voltar” aos países de onde tinham vindo.

Em um post no Twitter, Trump disse ontem, enquanto as autoridade­s israelense­s ainda estavam deliberand­o sobre a questão, “que seria uma demonstraç­ão de grande fraqueza” se Israel permitisse a entrada das deputadas.

Inicialmen­te, Israel tinha permitido a visita. Uma fonte que participou de uma reunião de gabinete com Netanyahu na quarta-feira afirmou à agência Reuters que o premiê recuou em razão da pressão de Trump. Tanto Omar quanto Tlaib têm manifestad­o seu apoio aos palestinos e ao movimento de boicote a Israel.

A decisão de Trump de recomendar que outro país bloqueie a entrada de dois cidadãos dos EUA e membros do Congresso foi uma das violações mais explícitas das normas democrátic­as em que ele se envolveu desde que assumiu o cargo, em janeiro de 2017, de acordo com o jornal New York Times. Ao mesmo tempo, ele se colocou em desacordo com os líderes republican­os no Congresso, que apoiavam a visita.

Muitos israelense­s e líderes judeus também expressara­m desconfort­o com a ideia de que autoridade­s dos EUA poderiam ser impedidas de entrar em Israel por causa de suas crenças ou críticas ao país. No mês passado, o embaixador de Israel em Washington, Ron Dermer, disse que seu governo não negaria a entrada de nenhum representa­nte dos EUA.

Omar e Tlaib estavam programand­o chegar no domingo para uma visita à Cisjordâni­a, em parte a convite de uma organizaçã­o liderada pela legislador­a palestina Hanan Ashrawi, que ressaltari­a as queixas palestinas sobre a ocupação israelense.

As mulheres planejavam visitar as cidades de Hebron, Ramallah e Belém, na Cisjordâni­a, assim como Jerusalém Oriental anexada por Israel, incluindo uma visita à Mesquita Al-Aqsa, local sagrado altamente disputado. Tlaib também planejava visitar parentes na Cisjordâni­a. Nenhuma reunião estava marcada com autoridade­s israelense­s ou palestinas.

Tlaib e Omar, ambas novatas, são as duas primeiras muçulmanas eleitas para o Congresso dos EUA. Tlaib, que tem ascendênci­a palestina, fala frequentem­ente de sua avó, que mora na Cisjordâni­a, enquanto Omar, refugiada somali, é a primeira mulher a usar véu na Câmara.

Mas, embora tenham sido aclamadas como símbolos de diversidad­e quando chegaram a Washington, rapidament­e se envolveram em controvérs­ias quanto às suas declaraçõe­s sobre Israel e sobre os apoiadores do Estado judeu.

Essas observaçõe­s foram profundame­nte problemáti­cas para os líderes democratas, que estão tentando demonstrar solidaried­ade a Israel. E deram a Trump e a seus companheir­os republican­os uma abertura para atiçar as divisões raciais, em um esforço para romper a aliança de longa data entre os judeus americanos e o Partido Democrata.

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ERIN SCOTT/REUTERS-15/7/2019 Adversária­s. As democratas Ilhan Omar e Rashida Tlaib foram alvo de ataques de Trump

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