Israel barra duas democratas a pedido de Trump
Intervenção. Vice-chanceler israelense diz que autorização de entrada foi negada porque elas pretendiam visitar a Cisjordânia, mas, horas antes do anúncio, líder americano afirmou que seria demonstração de fraqueza Netanyahu deixar suas adversárias entrar
A disputa do presidente americano, Donald Trump, com congressistas democratas chegou ao cenário internacional ontem, quando Israel negou a entrada no país a duas das políticas poucas horas após o republicano pedir publicamente o bloqueio. A viceministra das Relações Exteriores de Israel, Tzipi Hotovely, afirmou a uma rádio que elas pretendiam visitar a Cisjordânia, mas o acesso foi negado.
A intervenção de Trump foi um atípico passo para influenciar um país aliado a punir seus adversários políticos internos. A imprensa americana já havia noticiado na semana passada que Trump estava pressionando o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, a rejeitar a entrada de Ilhan Omar e Rashida Tlaib.
No mês passado, em comentários condenados como racistas, Trump disse que quatro congressistas – além de Omar (somali) e Tlaib (palestina), as deputadas Alexandria OcasioCortez (de origem latina) e Ayanna S. Pressley (negra) – deveriam “voltar” aos países de onde tinham vindo.
Em um post no Twitter, Trump disse ontem, enquanto as autoridades israelenses ainda estavam deliberando sobre a questão, “que seria uma demonstração de grande fraqueza” se Israel permitisse a entrada das deputadas.
Inicialmente, Israel tinha permitido a visita. Uma fonte que participou de uma reunião de gabinete com Netanyahu na quarta-feira afirmou à agência Reuters que o premiê recuou em razão da pressão de Trump. Tanto Omar quanto Tlaib têm manifestado seu apoio aos palestinos e ao movimento de boicote a Israel.
A decisão de Trump de recomendar que outro país bloqueie a entrada de dois cidadãos dos EUA e membros do Congresso foi uma das violações mais explícitas das normas democráticas em que ele se envolveu desde que assumiu o cargo, em janeiro de 2017, de acordo com o jornal New York Times. Ao mesmo tempo, ele se colocou em desacordo com os líderes republicanos no Congresso, que apoiavam a visita.
Muitos israelenses e líderes judeus também expressaram desconforto com a ideia de que autoridades dos EUA poderiam ser impedidas de entrar em Israel por causa de suas crenças ou críticas ao país. No mês passado, o embaixador de Israel em Washington, Ron Dermer, disse que seu governo não negaria a entrada de nenhum representante dos EUA.
Omar e Tlaib estavam programando chegar no domingo para uma visita à Cisjordânia, em parte a convite de uma organização liderada pela legisladora palestina Hanan Ashrawi, que ressaltaria as queixas palestinas sobre a ocupação israelense.
As mulheres planejavam visitar as cidades de Hebron, Ramallah e Belém, na Cisjordânia, assim como Jerusalém Oriental anexada por Israel, incluindo uma visita à Mesquita Al-Aqsa, local sagrado altamente disputado. Tlaib também planejava visitar parentes na Cisjordânia. Nenhuma reunião estava marcada com autoridades israelenses ou palestinas.
Tlaib e Omar, ambas novatas, são as duas primeiras muçulmanas eleitas para o Congresso dos EUA. Tlaib, que tem ascendência palestina, fala frequentemente de sua avó, que mora na Cisjordânia, enquanto Omar, refugiada somali, é a primeira mulher a usar véu na Câmara.
Mas, embora tenham sido aclamadas como símbolos de diversidade quando chegaram a Washington, rapidamente se envolveram em controvérsias quanto às suas declarações sobre Israel e sobre os apoiadores do Estado judeu.
Essas observações foram profundamente problemáticas para os líderes democratas, que estão tentando demonstrar solidariedade a Israel. E deram a Trump e a seus companheiros republicanos uma abertura para atiçar as divisões raciais, em um esforço para romper a aliança de longa data entre os judeus americanos e o Partido Democrata.