O Estado de S. Paulo

Ícaro Silva viaja pela black music de épocas diversas

Em ‘Ícaro and the Black Stars’, ator e intérprete pilota show em que dialoga com nomes como James Brown

- Ubiratan Brasil

Ícaro Silva é um ator versátil – já foi Jair Rodrigues, em Elis – A

Musical (2014), e Wilson Simonal, em S’Imbora – O Musical

(2015). Na versão do clássico shakespear­iano Romeu e Julieta

(2018), ele foi um dos destaques ao oferecer uma interessan­te androginia para compor o personagem Mercuccio. Mas faltava algo, que ressaltass­e seu talento como intérprete. Não mais: em Ícaro and the Black Stars, que estreia nesta sexta, 16, no Teatro Novo, ele homenageia um punhado de monstros sagrados da música negra.

“Sempre tive o desejo de louvar algumas estrelas, que me envolvem de forma mais próxima com a canção”, conta ele que, no palco, apresenta clássicos de artistas como Michael Jackson, Bob Marley, Tim Maia, Wilson Simonal, Beyoncé e James Brown. Não se trata, porém, de um show convencion­al – para se entender melhor, convém voltar um pouco no tempo.

Afinado com o dramaturgo e diretor Pedro Brício, além do produtor musical Alexandre Elias (dupla com quem trabalhou em S’Imbora e Show em Simonal), Ícaro sonhava em desafios maiores. “Eu já desejava fazer um show que se parecesse com um musical, enquanto Pedro pensava em fazer um espetáculo que apresentas­se ícones da canção negra”, conta. “Juntamos as ideias e nasceu o Ícaro and the Black Stars.

O espetáculo, segundo sua própria definição, é vintage: em cena, ele interpreta o comandante Ícaro, piloto de uma nave espacial que aterrissa em diversos pontos do planeta e em distintas épocas, sempre em busca dos grandes nomes da black music internacio­nal e nacional. “A inspiração vem de seriados de ficção científica, como Star Trek, daquela forma bem particular de se contar uma história. Ou seja, é uma brincadeir­a com a fronteira que separa a realidade da ficção.”

Ícaro apressa-se a dizer que, embora carregue seu nome, o personagem não é inspirado inteiramen­te em sua história – é apenas uma forma de expressar esse seu desejo de se envolver de forma mais próxima com a música. Ele também não imita seus homenagead­os, mas se apodera, em alguns casos, das caracterís­ticas mais marcantes para criar um novo tipo. E nem todos aparecem cantando. “Há artistas, como Seu Jorge, que eu me refiro como o dono de uma loja de discos onde eu compro meus álbuns.”

O roteiro de Pedro Brício oferece surpresas, que vão desde o preciosism­o histórico – como o momento em que se apresenta Bob Marley, por meio de seu clássico No Woman No Cry – até a situações hilariante­s, como quando apresenta uma homenagem muito particular a Beyoncé (revelar mais seria spoiler). “Posso apenas adiantar que me divirto demais vivendo essa parte do show”, comenta ele, cuja voz soa familiar para os fãs da nova versão de O Rei Leão, na qual dubla Simba.

Ícaro, o personagem, não viaja sozinho, mas acompanhad­o das black stars Cássia Raquel e Hananza. “São as ‘copilotas’ nessa viagem vanguardis­ta, em que conto histórias que atravessam a vida desses artistas e também a minha. Ser um artista negro já me confere uma potência artística e uma potência política, social”, argumenta ele, que conta ainda com a coreografi­a de Victor Maia.

O próprio Ícaro prefere não definir com exatidão o espetáculo, que tem elementos teatrais, mas em formato de show, ou seja, une uma “dramaturgi­a documental” com recursos animados, como video mapping, ou seja, projeções de imagens em objetos ou superfície­s irregulare­s. “Um trabalho lúdico e megalomaní­aco”, diverte-se o ator, que conta ainda com a cumplicida­de do público. “Busco estabelece­r aquela convenção entre artista e plateia, em que quase tudo é sugerido mas perfeitame­nte aceito como verdadeiro.”

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ANDRÉ HAWK Ícaro. Show também com improviso

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